segunda-feira, 1 de outubro de 2012

UM MUNDO PÓS APOCALÍPTICO



John caminhava num mundo pós apocalíptico. Caminhava pelos mesmos lugares que outrora eram seu caminho rotineiro, ruas que ele passava para comprar pão, ir trabalhar, praças que ele corria, supermercados, bancos, cinemas, shoppings, enfim, tudo agora não passa de concreto, sem vida e com pouca circulação. Em pouco tempo tudo mudou.

Ele possuía consigo pouco mais que a roupa do corpo, uma jaqueta cinza estilo militar surrada, com muita poeira e manchas pelo tecido, uma calça jeans também em estado parecido, camiseta branca por baixo da jaqueta e um coturno resistente em seus pés. Além disso, havia achado um taco de beisebol numa antiga loja de departamento, e usava o antes material esportivo como arma. Os tempos não eram fáceis, era preciso saber se defender.

Além disso, John havia encontrado um Ipod, um raro aparelho que havia sobrado dos tempos anteriores à guerra, nele por incrível que pareça, haviam músicas que ele amava, havia álbuns inteiros de artistas dos quais ele sempre ouviu, desde sua infância, tais como Led Zeppelin, ACDC, Beatles, Rolling Stones, Red Hot Chili Peppers, Nirvana, James Brown, Jhonny Cash e Michael Jackson. Ele havia ficado extremamente contente com o achado, pois ali haviam músicas para ouvir em qualquer momento, qualquer situação. Se bem que atualmente, as situações eram sempre parecidas: acordar, caminhar ao relento em busca de comida, abrigo, sobreviventes e utensílios diversos.

Estamos em 2016, um ano antes, as terríveis expectativas dos constantes testes nucleares da Coreia do Norte se confirmaram com um ataque totalmente inesperado aos Estados Unidos. Dali por diante, o pandemônio não teve fim, os Estados Unidos reagiu à altura com um ataque tão potente ou pior, a guerra se espalhou entre todos países que se manifestaram a favor de um ou de outro. O caos estava instaurado.

Em um ano, ocorreram bilhões de mortes, num massacre sem precedentes na história da humanidade, John, assim como outros sobreviventes se uniram em colônias, formando uma espécie de comunidade, cujo intuito era tentar se reorganizar e reerguer os pilares da sociedade, porém a esperança era pouca, a confiança na raça humana estava profundamente abalada.

Era uma terça feira de sol, mas a data já pouco importava, John estava numa caminhada rotineira e despretensiosa, com mais intenção de passar o tempo do que com tarefas pra sua comunidade. Caminhando ao sul, ele encontrou o que parecia ter sido um dia uma loja de instrumentos musicais, em meio ao entulho, entre pedras, areia e muita poeira, viu o que parecia ser um braço de um violão, quase sem perceber, uma lágrima caiu de seus olhos, John tocava o instrumento antes da guerra.

Ele se apoiou numa pedra e começou a dedilhar o instrumento, os primeiros timbres que saíram do instrumento quase que involuntariamente foram os acordes que formam o fraseado da introdução de “Stairway to Heaven”, do Led Zeppelin, em seguida, a introdução de “One”, do Metallica, que curiosamente fala sobre a guerra. A primeira música que ele tocou inteira, porém foi “The Man Who Sold The World”, não a versão original de David Bowie, mas a versão do Nirvana. John amava essa.

De volta à comunidade, no anoitecer, John começou a tocar de forma despretensiosa, rapidamente quase todos os membros do lugar se juntaram a ele, cantando em coro músicas de uma época que não demos o devido valor, de quando tudo estava em seu devido lugar. Ele cantou por horas e todos se mantiveram ali, como num mantra ou um culto religioso. Hora aqui outra ali, alguém não conseguia conter a emoção e colocava a cabeça entre as pernas e chorava, outros cantavam com tanta emoção que parecia que seus corações jogavam ao ar a letra da canção.

Devido à ganância e fome de poder de tiranos, os seres humanos foram privados das condições de vida que tinham, agora tudo era mais difícil e a música era um alento a todos aqueles angustiados antigos cidadãos. Aquelas músicas reacendiam de certa forma, a chama da vida no coração de cada um.

Numa linda noite de luar, John tocou “Imagine”, do seu xará John Lennon e não houve uma alma presente que não tenha se emocionado. Ali, naquele momento, em meio às ruinas deixadas pela vida, todos tinham a impressão de que as coisas iriam dar certo.


David Oaski 


It's the end of the world as we know it - R.E.M.


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