Passada a sensação dos anos 80, em
que o rock era em questões comerciais o equivalente ao que é o sertanejo
universitário hoje, a década de 90 começou com vacas magras para o rock
nacional. Poucas bandas tiveram gás pra seguirem lançando bons discos e mesmo
estas tiveram que lutar com a ascensão dos pagodes, axés e lambadas da vida.
Chico Science & Nação Zumbi |
Bandas como Paralamas do Sucesso e
Legião Urbana seguiram fazendo sucesso e obtendo boa repercussão com seus
discos após a década de ouro do rock; outras rumaram para um lado mais
alternativo, nunca deixando de fazer shows, mas chamando atenção de uma cena
mais underground do que num momento anterior, esse era o caso dos Titãs e Ira,
por exemplo; outras bandas simplesmente se perderam diante do sucesso, como o
caso clássico do RPM; além dessas haviam também as bandas surgidas no final dos
anos 80, que apesar de talentosas, não demonstravam força ou carisma para
continuar o sucesso de seus antecessores, como o Biquini Cavadão, Hojerizah e
Heróis da Resistência. Vale a pena considerar também, que como todo movimento
de sucesso na história da música, era óbvio que aquela maré de sucesso absoluto
no rock nacional uma hora perderia força, e foi o que aconteceu nos idos de
1989, 1990.
Tudo indicava que o rock não teria o
mesmo ímpeto da década que se encerrava, mas não é que diversas bandas surgiram
Brasil afora e, apesar de não ter o mesmo espaço, foram cavando seu lugar na
música brasileira e sem pedir aprovação a ninguém se consolidaram no mercado e cativaram
o público.
Skank com visual de gosto duvidoso, típico da época |
Vindos de Minas Gerais, Pato Fú, Jota
Quest, Skank e Sepultura; de Brasília, Rumbora, Raimundos e Natiruts; do Rio de
Janeiro, Planet Hemp, O Rappa e Los Hermanos; de São Paulo, Mamonas Assassinas
e Charlie Brown Jr; e de Recife, Chico Science & Nação Zumbi e Mundo Livre
S/A, foram os principais destaques.
Os malucos do Raimundos |
Muito se fala do talento e poesia da
geração dos anos 80, principalmente na figura dos dinossauros Titãs, Barão
Vermelho, Paralamas do Sucesso e Legião Urbana, cujo eram e são até hoje
grandes bandas, mas pouco se fala sobre como o momento era favorável ao rock e
sobre quanta porcaria surgiu na onda daquelas sete, oito bandas ótimas.
Realmente, há de se convir que o período
foi muito fértil, mas os herdeiros dessa geração também foram muito competentes
e mesmo sem o mesmo espaço em termos comerciais tiveram grandes êxitos, mesmo
assim são rotineiramente subestimados.
Os anos 90 tiveram a sacanagem e tiradas
sensacionais dos Raimundos, fundindo rock e ritmos nordestinos (principalmente
no primeiro álbum); a fusão com rap e o discurso afiado a favor da liberação da
maconha com o Planet Hemp; o reggae rock com ótima letras de Marcelo Yuka do
Rappa; o ska, que depois viria a se aproximar da MPB do Los Hermanos; o bom
humor dos Mamonas Assassinas; e o talento indiscutível e criatividade de Chico
Science, que ao lado da Nação Zumbi fez uma coisa única e extremamente original
dentro da música brasileira, fundando o movimento manguebeat; e o talento pop
certeiro do Skank, no início com muita influência de ritmos jamaicanos, depois
flertando mais com Beatles e rock inglês.
Enfim, são bandas pra todos os
gostos, que assim como seus antecessores marcaram época e atravessaram
gerações. Deve-se muito respeito e consideração ao rock nacional dos anos 80,
mas os anos 90 indiscutivelmente também tiveram seus méritos.
David Oaski
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