Nota: 7,0
Quem ouviu a banda Black Drawing Chalks em meados de 2009,
com o então recém lançado “Life is a Big Holiday for Us” certamente não
imaginou que se tratasse de uma banda brasileira, pois as guitarras
distorcidas, as melodias arrastadas e as letras em inglês certamente sugeriam
que se tratasse de uma nova banda do Oregon ou da Califórnia.
Não era, por mais surreal que possa parecer, eles vem de
Goiânia, capital do estado de Goiás, conhecido nacionalmente por revelar
diversas duplas sertanejas, como Leandro e Leonardo e Zezé di Camargo e
Luciano. Ao contrários dos conterrâneos, a banda faz um som pesado, que foi
rapidamente rotulado como stoner rock, gênero popularizado no final da década
de 90 pelo Queens of the Stone Age, mas já vinha reverberando desde o começo da
década com o Kyuss e o Helmet, por exemplo.
Pra quem não sabe, o stoner rock (rock chapado, em tradução
livre), possui como principais características os riffs de guitarra, pesados e
arrastados, distorção, variação entre melodias rápidas e mais vagarosas, sempre
com uma boa pitada de psicodelia. As raízes do estilo vêm principalmente dos
anos 70, de bandas como Blue Cheer, Mountain, Lynyrd Skynyrd e o Grand Funk
Railroad.
O Black Drawing Chalks foi formado em 2005 e os membros
atuais são: Victor Rocha, guitarra e vocal; Edimar Filho, guitarra; Denis de
Castro, baixo; e Douglas de Castro, bateria. A banda possui três álbuns
lançados, todos pela Monstro Discos, o primeiro: “Big Deal”, de 2007; seguido
do badalado “Life is a Big Holiday for Us”, de 2009; e o quarteto está de
volta, com seu melhor trabalho até aqui, “No Dust Stuck On You”, que tentaremos
esmiuçar nas linhas seguintes.
São quinze faixas de porrada na orelha, passando por grunge,
stoner, pós grunge, resvalando no pop e quem sabe até no punk, mas sempre com
canções de muita qualidade.
Guitarras rápidas e os pratos da bateria anunciam a
introdução de “Famous”, que abre o disco, anunciando o que está por vir. Victor
entra cantando com seu timbre entre o rasgado e o agudo, bem característico.
Letra e música são uma viagem quase lisérgica e por ter uma melodia rápida
remete à vídeos de skate e esportes de ação. Cheira à adrenalina.
Em seguida vem o primeiro single, “Cut Myself in 2” , com a melodia arrastada,
totalmente diferente da canção anterior. Possui uma pegada grunge (outra forte
influência da banda) e remete a Soundgarden e algumas canções do Alice in
Chains. “Street Rider” é suingada e com a melodia mais pop, um dos destaques do
álbum, nessa eles citam um trecho do título: “...Riding, ain’t no dust stuck on
me i’ll follow...”.
“Walking By” começa com uma linha de baixo e uma melodia mais
soturna, lembra um pouco o new metal do Korn ou Deftones. A letra, como a maioria
da banda, são devaneios, ora sacanas, ora chapados, sempre com aquela dose
excelente de psicodelia. Já “No Anchor” é uma canção da década de 70, gravada
em 2012, com a distorção alucinante da guitarra. “Disco Ghost” já tem a pegada
mais stoner, com a melodia cheirando a asfalto na auto estrada, com muita
cerveja e substâncias ilícitas. Possui um bom solo de guitarra.
O Queens of the Stone Age assinaria facilmente “I’ve Got Your
Flavor”, pois a canção possui a melodia muito rápida e voz abafada, lembrando
muito algumas gravações da banda de Josh Homme, muito pelo timbre das
guitarras. Outro destaque do disco.
“Simmer Down” é outra porrada com um breve e ótimo solo e
guitarras afiadas, enquanto “Swallow” inicia com um berro e o andamento da
guitarra marca quase um heavy metal, porém a música balanceia entre o peso e a
cadência, garantido pela coesão apresentada pela banda. “Immature Toy” segue a
mesma linha, porém com mais distorção e um solo psicodélico. Na letra um garoto
jovem fala de uma desilusão amorosa e se define como um brinquedo imaturo.
“Black Lines (I’ll Find a Way)” inicia com uma levada na bateria
de Douglas que remete quase a um hardcore, depois cadencia, encorpa e é uma das
melhores do disco. Essa lembra mais alguma banda de rock alternativo dos anos
90. “Little Crazy” é um encontro do grunge com a psicodelia, com um riff
marcante, boa linha de baixo se alternando no destaque da canção, com a bateria
marcando tudo e o vocal potente.
“The Stalker”,
“Denis’s Dream” e “Cheat, Love and Lies” fecham o disco. A primeira mantém a pegada pesada,
enquanto a segunda se desenvolve como uma marchinha e tem uma letra pequena que
fala sobre vingança. A última faixa, novamente rápida e voraz, queimando o pneu
e encerrando com o ótimo verso: “...tell me baby that i got a dream to survive”.
O Black Drawing Chalks juntou todas suas influências e fez
além de seu disco mais pesado, seu melhor álbum até aqui. Vemos uma banda
executando músicas enxutas, sem firulas, com técnica e precisão. Uma banda em ascensão,
esbanjando talento, provando que a cena brasileira ainda possui sim bandas de
qualidade e com propostas honestas.
Esse é um dos melhores discos lançados no Brasil até aqui
esse ano, senão o melhor, produzido por uma banda que não deixa nada a desejar
pra gringo nenhum.
David Oaski
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