terça-feira, 30 de julho de 2013

GIVE IT A TRY


- Que dia lindo – ela disse espalhando o cheiro delicioso de seu cabelo por todo ambiente. Ela mal havia visto o semblante do dia.

A noite havia sido linda. Um belo encontro, tudo que o universo pode proporcionar a um casal apaixonado. Jantar, vinho, beijos apaixonados e juras de amor eterno. A típica noite inesquecível.

O sexo havia invadido a madrugada. Sexo mesmo, não amorzinho de novela.

A noite havia sido realmente fantástica. Mas ambos se sentiam angustiados. De certa forma, se sentindo culpados por estarem tão felizes. Não, nenhum dos dois era comprometido, ou sequer tinham algo que os impedisse de mergulhar de cabeça numa paixão, mas aquela agonia os incomodava.

Os tempos em que vivemos realmente estão confusos. Nos sentimos bem fazendo tanta merda nessa vida ‘normal’ que levamos e quando damos de cara com algo realmente bom pra gente, muitas vezes deixamos passar por pura falta de coragem. Um medo de perder algo que não se tem, nunca teve.

O quanto do bom da vida estamos deixando de viver por pudor ou o famoso medo de se machucar. Os anseios existem e nos cercam o tempo todo, é utopia imaginar uma vida sem eles, mas cada coisa deve ter seu devido espaço e seria ótimo se todos deixássemos as coisas boas em primeiro plano.

Arrisque meu amigo. A frustração por falhar é bem melhor do que a omissão de tentar.


David Oaski


quinta-feira, 25 de julho de 2013

RESENHA: THE NEXT DAY - DAVID BOWIE


Nota: 9,0

Que David Bowie é um monstro sagrado da musica pop mundial ninguém tem dúvida, porém o que esperar do vigésimo quarto álbum de um artista totalmente consagrado e que mora há no mínimo trinta anos no panteão dos grandes nomes da história da música mundial?

Quase totalmente excluso da grande mídia, desde que teve um infarto em 2004, Bowie tinha um futuro incerto aos olhos de público e crítica. Ele voltaria a lançar discos? Faria turnês? Se sujeitaria a todo o desgaste do show business novamente? Graças aos céus a resposta foi positiva.

David trabalhava há quase dez anos em total sigilo com o produtor Tony Visconti (que já havia trabalhado com o Camaleão em “Space Oddity” e “The Man Who Sold The World”) elaborando melodias, compondo canções, testando e desenvolvendo sonoridades até lançar no começo do ano o primeiro single do que viria a ser seu novo álbum, dez anos após “Reality”, de 2003, a música lançada através de videoclipe no site oficial do músico pegou a todos de surpresa, pois não havia sido noticiado em nenhum portal de notícias do mundo que Bowie estava na ativa, quanto mais gravando um novo álbum. A música era “Where Are We Now”, uma balada arrastada e melancólica, que traz uma dose do que viria no disco cheio.
O gênio Bowie - 66 anos e o talento intacto

Lançado em Março desse ano, “The Next Day” foi muito bem recebido por fãs e crítica especializada, pois mostra que o talento intrínseco de Bowie segue presente em cada melodia ao longo das 14 canções do álbum. O camaleão é um daqueles raros artistas que sabem fazer melodias singelas virarem joias pops inesquecíveis. Além disso, vale destaque a capa que traz um quadro branco com o nome do álbum sobre a capa de “Heroes”, álbum de Bowie de 1977.

O disco possui rocks potentes e enérgicos, com melodias cheias de vitalidade e colhão pra botar muitas dessas bandas indie que se acham pesadas no chinelo, como se vê na faixa título, que possui melodia musculosa, cheia de camadas sonoras, com guitarras, teclado e cozinha se entrelaçando numa ótima canção; outros exemplos são a chapada “I’d Rather Be High” e “(You Will) Set The World On Fire”, rocks diretos e extremamente competentes.

Também há muito espaço para melancolia, do auge dos seus 66 anos, Bowie confecciona pérolas contemplativas como “Love Is Lost”, “You Feel So Lonely You Could Die” e “Heat”, esta última poderia ter sido facilmente gravada por Trent Reznor e sua turma no Nine Inch Nails.

Cena do vídeoclipe "The Next Day"
O pop oitentista também é celebrado com roupa de gala no funk misturado com jazz “Dirty Boys”; na acelerada “If You Can See Me”, que poderia lembrar uma canção do The Killers se eles se levassem a sério; e nas dançantes e deliciosas “Dancing Out In Space” e “How Does The Grass Grow”, essa última com um belo solo de guitarra.

Há também espaço para baladas românticas com a bela “Valentine’s Day” e a singela “Boss Of Me”, além da semi balada e uma das melhores canções que ouvi em 2013, “The Stars (Are Out Tonight)” que possui letra e melodia marcantes, que já a postulam como um clássico da carreira de Bowie.

Bowie é um verdadeiro arquiteto da música, consegue encaixar cada instrumento, cada timbre, cada som no seu devido lugar dentro da melodia e nesse álbum conseguiu mais uma vez espalhar seu brilho no decorrer de toda obra, pois cada faixa revela um pouco mais do talento desse extraordinário músico, a cada audição você encontra um elemento diferente, uma nuance, uma passagem ou um trecho que havia passado batido. É o caso de um disco para se ouvir até o fim da vida, de tempos em tempos sendo degustado.

Torcemos pra que esse não seja o último registro de Bowie em vida, mas se for, trata-se de uma senhora despedida. O camaleão do rock devia um grande disco às gerações mais novas e lhes entregou “The Next Day”, cabe a nós desfrutá-lo o máximo possível.


David Oaski


domingo, 21 de julho de 2013

ANGÚSTIA DOMINICAL


Será que esses domingos vão deixar de ser tão longos

Será que essa angústia vai diminuir

Será que se a perspectiva da segunda fosse melhor o fim de domingo seria menos melancólico

Quero tudo e não quero nada

Estou feliz e miserável

Sons tocam em casas vizinhas

O barulho de chuva ecoa pela janela

Os outros moradores da casa seguem seus dias

O domingo segue seu curso

Que dia longo

Que dia morno

Vem e me resgata

Faz tudo valer a pena

Justifica a dureza da vida pelo menos por alguns instantes

Me traz aquela paz que só seu sorriso é capaz de transmitir

Me abraça e diz que tudo vai ficar bem

Me enche de clichês

Eu também preciso deles

Vem e traz tudo de bom

E leva todo mal embora


Intensidade não é pecado em tempos de migalhas


David Oaski

sexta-feira, 19 de julho de 2013

O GOLPE DE ESTADO DO ROCK NACIONAL


 Conheci o Golpe de Estado no ano passado, quando baixei o primeiro álbum da banda, homônimo, lançado em 1986. De cara não pude crer como aquela banda era pouco celebrada e reconhecida nos dias atuais, pois as melodias eram incríveis, as letras muito bem elaboradas e a banda possuía um entrosamento fantástico entre si.

Minha curiosidade aumentou e segui ouvindo os outros álbuns da banda: “Forçando A Barra”, de 1988; “Nem Polícia Nem Bandido”, de 1989; “Quarto Golpe”, de 1991; e “Zumbi”, de 1994. A apreciação foi aumentando gradativamente a cada álbum, assim como a qualidade sonora da banda ia se aperfeiçoando a cada novo lançamento.

Formação Clássica: Catalau, Zinner, Nelson e Helcio
Na sua fase clássica, a banda era formada por Catalau (vocais), Paulo Zinner (bateria), Nelson Brito (baixo) e Helcio Aguirra (guitarra) e juntos faziam um hard rock cru, com pitadas de blues e até heavy metal, só que ao contrário da maioria de seus contemporâneos, faziam letras em português, sendo essas com uma qualidade invejável a bandas de maior reconhecimento na mídia. Pra se ter uma noção do respeito que o Golpe tinha na cena rock, eles tem parcerias com gente do naipe de Branco Melo e Arnaldo Antunes (Titãs) e Rita Lee, além de terem se apresentado ao lado do Ira!, entre outras bandas.

O ótimo vocalista Catalau também compunha a maior parte das letras da banda e escreveu coisas sensacionais, como “Paixão”, “Olhos de Guerra”, “Velha Mistura” e “Caso Sério”. A cozinha formada por Zinner (que depois tocaria na banda da Rita Lee) e Nelson também é algo a ser destacado, pois além de muito entrosados preenchem devidamente cada espaço da melodia, que é capitaneada por Helcio, certamente um dos melhores guitarristas do Brasil, vide a variedade de riffs e qualidade dos solos da discografia do Golpe.

Formação atual: Helcio, Roby, Nelson e Dino
Por fazer um tipo de som visto pelas rádios e gravadoras como pouco acessível, o Golpe de Estado sempre ficou relegado ao segundo ou terceiro escalão do rock nacional, sendo pouco reconhecido fora da sua cidade natal, São Paulo. Enquanto bandas da época (segunda metade da década de 80) faziam um som mais comercial, como Legião Urbana, Capital Inicial, Biquini Cavadão e RPM, o Golpe preferiu seguir seus ideais e fazer aquilo que eles realmente acreditavam. No entanto, apesar da boa repercussão dos discos e shows bem requisitados em São Paulo, eles não chegaram perto de alcançar as massas como os outros citados.

O performático Catalau e o excelente Helcio
Chega a ser revoltante ver tantas bandas medíocres fazendo sucesso dentro do cenário do rock nacional e notar como o Golpe de Estado nunca recebeu o devido reconhecimento, mas de qualquer forma, os álbuns e vídeos da apresentações estão na Internet pra qualquer um que tenha curiosidade localizar.

É fundamental ressaltar que a banda segue na ativa, com Helcio e Nelson da formação original, o talentoso vocalista Dino Linardi (Catalau virou evangélico e conta histórias parecidas com as de Rodolfo, ex-Raimundos) e Roby Pontes na bateria. Eles seguem fazendo diversos shows Brasil afora e lançaram um álbum ano passado: “Direto do Fronte”, com participação de Dinho Ouro Preto no primeiro single: “Rockstar”, que brinca com os perrengues da profissão de roqueiro que a banda conhece bem.

Se não conhece o Golpe de Estado, corra atrás do material, pois é hard rock do bom, feito por músicos honestos e talentosos, que seguiram ao pé da letra a ideologia rock n’ roll.


David Oaski



quarta-feira, 17 de julho de 2013

RESENHA: SOME KIND OF MONSTER



Nota: 7,5

Some Kind Of Monster é um documentário lançado em 2004 pela banda norte americana Metallica. A princípio, o registro tinha a intenção de registrar o making of do álbum “St. Anger”, lançado em 2003, porém devido aos diversos problemas de relacionamento entre os integrantes da banda e so problemas individuais do mesmo, o filme acaba por relatar a fase mais turbulenta dos 30 anos de carreira da banda e como ela conseguiu ultrapassar as dificuldades e se manter na ativa.

As filmagens começam em 2001, apresentando logo de cara, como Lars Ulrich (bateria), Kirk Hammett (guitarra) e James Hetfield (vocais e guitarra) tiveram de lidar com a saída do baixista Jason Newsted, alegando cansaço e divergências pessoais. Esse era só o começo da tempestade.

Lars e James: Relação hostil
A banda promove o produtor do álbum: Bob Rock, a baixista provisório e segue com as gravações do que viria a se tornar o controverso álbum “St. Anger”. Durante as gravações, o empresário do grupo resolve contratar um terapeuta para ajudar nas questões internas, que segue com eles durante mais de um ano. Nota-se o quanto James e Lars têm personalidade forte e divergem sobre quase tudo, enquanto Kirk é mais contido e serve como um termômetro entre os dois egos gigantes. Diversas brigas soam infantis, com direito a James saindo batendo a porta do estúdio e Lars gritando ‘fuck’ na cara de seu ‘amigo’.

A coisa degringola quando James se interna num centro de reabilitação para tratamento do alcoolismo, travando todas as atividades relacionadas à produção do novo álbum e deixando incerto o futuro da banda. Nesse meio tempo, é mostrado um pouco mais da intimidade de Kirk (que surfa e tem uma fazenda) e Lars (que também vai a um rancho e tem uma conversa intensa com seu pai). James só voltaria um ano depois, porém sem deixar de lado as tretas com Lars, que se mostra ressentido pelo egoísmo de James só pensar em si mesmo. Ambos usam o termo controlador para definir um ao outro, as brigas são cansativas e extremamente desgastantes para todos os envolvidos.

Há também a passagem em que Lars se encontra com Dave Mustaine, do Megadeth, primeiro guitarrista do Metallica, que se mostra extremamente magoado pela forma como foi tratada sua saída da banda, Lars também demonstra algum arrependimento. Trata-se de um ponto importante, pois acaba por esclarecer uma das passagens mais polêmicas da história da banda.

Apesar de toda confusão, é interessante ver o processo de criação da banda, em conjunto no caso desse álbum. Como as ideias surgiam, como James tem insights brilhantes e como o trabalho do produtor é importante a dar o rumo correto às canções.

Por final, o documentário mostra a finalização do álbum e a contratação de um novo baixista: Robert Trujillo (que segue até hoje), que simboliza a estabilizada nos voos da banda. Juntamente vem a homenagem da Mtv, através do especial Icon, onde grandes nomes da música são homenageados e banda sai em turnê para divulgar seu trabalho.

O documentário é extenso e mostra como estar em uma banda de rock pode ser tão estressante como qualquer outro emprego, tendo em vista que diante do tamanho do grupo, muitas vezes a coisa é tratada como uma empresa, onde todos tem obrigações e abdicações, o que torna-se muito pesado diante de vaidades e egos inflados.

Além disso, serve pra mostrar uma outra face de nossos ídolos, vi um Lars chato e arrogante e um James agressivo e infantil em diversos momentos, demonstrando que os rockstars não são heróis, longe disso, possuem fraquezas e são extremamente vulneráveis.

Mesmo com todos os percalços os caras têm o mérito de terem seguido em frente, encarado os problemas de frente e seguem tocando e gravando até os dias de hoje e, ao que parece, a relação entre eles é boa, já que como dizem, depois da tempestade vem a bonança.


David Oaski


quarta-feira, 10 de julho de 2013

MAIS FRANQUEZA


Há quem prefira sair na porrada a conversar, dialogar ou discutir uma situação. Não é o meu caso. Sinto falta de conversas francas entre as pessoas nas mais variadas situações e graus de relações, sejam familiares, profissionais ou afetivas, muita coisa se resolve na base da boa e velha conversa.

A pessoa tem uma atitude que você não gosta e isso é contínuo e você vai guardando esse incômodo com você até que uma hora isso explode, muitas vezes de forma exagera e desproporcional. Caso você gastasse cinco minutos numa conversa honesta com a pessoa na segunda ou terceira vez que o fato ocorreu talvez não fosse necessário chegar numa situação extrema.

Fico chocado quando ouço relatos de irmãos que falam que não tem liberdade para ter determinado tipo de conversa um com o outro, ou até mesmo casais que parecem estar vivendo com estranhos, já que convivem com certos assuntos como tabus. É inevitável pensar no quanto de brigas, estresse e desgastes seriam evitados com transparência.

É claro que há momentos extremos em que não é possível agir de forma racional e a agressividade realmente toma conta, mas esses momentos, a não ser pra quem sai por aí caçando briga, são raros e é sempre melhor evita-los.

Tenha mais noção, empatia e converse com seu semelhante, procure entender os motivos para ele agir de determinada forma, explique o que está te incomodando e mesmo que isso não resolva, você terá total serenidade de saber que tentou de forma honesta, olhando no olho, sem falsidade e isso, sem dúvida, não tem preço.



David Oaski

segunda-feira, 8 de julho de 2013

O MARKETING E O UFC


Não é preciso conhecer a fundo a história do UFC para saber que sua ascensão está diretamente ligada a um ótimo trabalho de marketing elaborado por Dana White, seus sócios e sua equipe. Daí surgir à questão do quanto a derrota do brasileiro Anderson Silva no evento de sábado não está associado a mais um golpe de mestre desse evento que cresceu substancialmente nos últimos anos.

Pra quem não assistiu a luta, Silva foi derrotado por Chris Weidman, no UFC 162, no segundo round após provocar continuamente o adversário, o estimulando a golpeá-lo na cara e baixando a guarda, como o brasileiro sempre faz, diga-se de passagem. Porém, numa das provocações de guarda baixa, Chris acertou um direto no queixo de Anderson que caiu ‘desligado’, dando a vitória ao americano.

Silva perde a hegemonia
A repercussão da luta foi imensa, gerando diversos debates na Internet em fóruns e redes sociais, sendo que muitos falam que a derrota foi merecida devido à atitude prepotente do brasileiro diante de seus adversários e o que gerou o knock out foi o excesso de confiança; outros acham que Anderson cansou da pressão de defender o cinturão (já o defende há nove anos) e resolveu largar o trono; já outros como este que vos fala, acham que a derrota trata-se de mais uma tacada de mestre do Marketing de Dana White e seus blue caps.

Ressalto que é tudo teoria da conspiração, não tenho nada que prove minha tese, mas é notável a infinidade de possibilidades que a derrota do brasileiro abre para o evento. Agora Anderson pode pedir uma revanche contra Weidman, já este terá lutas muito mais concorridas já que se tornou o campeão, além de outras infinitas combinações (já se fala em Belfort desafiando o americano). Além disso, a hegemonia não é interessante pra nenhuma categoria esportiva, já que o interesse na competitividade da coisa tende a diminuir com o tempo.

Enfim, provavelmente nunca saberemos se alguma dessas teorias faz ou não sentido, mas sem dúvida alguma a engrenagem do UFC vai capitalizar esta derrota em algo muito maior. Vejamos os próximos capítulos.


David Oaski



quinta-feira, 4 de julho de 2013

RESENHA: ...LIKE CLOCKWORK - QUEENS OF THE STONE AGE


Nota: 8,0

O ano de 2013 segue sendo como um dos mais frutíferos na música nos últimos anos, com lançamentos de gente do naipe de David Bowie, Eric Clapton, Depeche Mode, Alice In Chains, Daft Punk e o excelente Queens Of The Stone Age, que recém lançou seu sexto álbum, intitulado “...Like Clockwork” e tem dividido opiniões da crítica, porém o público da banda já o considera um de seus melhores lançamentos, o que não é pouca coisa, diante do padrão de excelência obtido pela turma de Josh Homme que não tem um lançamento sequer razoável no decorrer da carreira.

Desde 2007 sem lançar um álbum de inéditas, o Queens anunciou meados do ano passado que estava iniciando o processo de gravação de um novo disco. No decorrer dos meses seguintes foram inúmeros teasers de gravações e anúncios de participações especiais, característica comum da banda, que desde o início possui uma formação flutuante em torno do front man e mente criativa da banda, o talentoso Josh Homme.

Josh Homme - o 'cara' da banda
Lançado em Junho deste ano, “...Like Clockwork” conta com participações especiais de parceiros comuns de Homme, como Dave Grohl (Foo Fighters), Trent Reznor (Nine Inch Nails), Mark Lanegan (ex Screaming Trees) e Nick Oliveri (ex baixista do próprio Queens e do Kyuss, ambos com Homme). Além desses que já contribuem continuamente com os álbuns da banda, somaram-se ao time Alex Turner (Arctic Monkeys), Jake Shears (Scissor Sisters) e o mito pop Elton John, que se autoconvidou a fazer parte do projeto, dizendo ser uma legítima rainha (tá com pouca moral o Josh?!).

O line up principal da banda para o álbum foi composto por Josh Homme (guitarras, vocais); Troy Van Leuwen (guitarra); Dean Fertita (teclados); e Michael Shuman (baixo). O cargo de batera foi revezado entre três feras: Dave Grohl, Joey Castillo e Jon Theodore.

Line up atual da banda
Durante o processo de composição do disco, Josh foi muito influenciado por uma cirurgia que realizou no joelho em 2011, quando devido à complicações inesperadas na mesa de cirurgia chegou a ‘morrer’ por alguns instantes. A influência do incidente é notável nas letras do álbum, que transpiram melancolia e ressentimentos, rodeando o tema morte em diversos momentos. Nas melodias também se vê maior quantidade de canções cadenciadas, com forte apoio de teclados, adicionando com doçura e suavidade um olhar contemplativo para a vida.

O disco abre com as excelentes “Keep Your Eyes Peeled” e “I Sat By The Ocean”, a primeira mantendo a tradicional pegada stoner da banda, com guitarras cortantes, chapada e viajandona, com direito a inesperada e grata participação de Jake Shears, fugindo das características conhecidas de sua banda, o Scissor Sisters. Já a segunda tem uma vibração pop, ensolarada, típica das bandas da Califórnia, porém com as linhas de guitarra de Homme – um dos melhores guitarristas dos últimos tempos - valorizando demais a melodia da canção.

“If I Had A Tail” é uma das melhores músicas gravadas em 2013, com um clima sexy, jocoso e sujo, também característico da banda. É uma das faixas campeãs de participação, com colaboração na letra de Alex Turner, vocais de Mark Lanegan e Nick Oliveri e bateria espancada por Dave Grohl.

Elton John e Dave Grohl participaram do álbum
A pegada chapada do stoner rock fundado pelo Kyuss nos anos 90 é resgatada e mantida viva no primeiro single “My God Is The Sun”e “Smooth Sailing” que possui um solo foda e foi feita para ouvir na estrada com no mínimo uma lata de cerveja a seu alcance.

A segunda corrente de canções do disco possuem melodias mais densas e melancólicas, porém com beleza ímpar, “The Vampire Of Time And Memory” que inicia com a frase “Eu quero que Deus venha e leve-me pra casa”; “Kalopsia” que possui vocais de Trent Reznor e tem algumas alternâncias no andamento; “I Appear MIssing” e a faixa título “...Like Clockwork” fecham o disco de forma emocionante, a última uma linda balada repleta de belas melodias vocais.

Há também “Fairweather Friends” que fica num meio termo entre as duas correntes, pois não chega a ser pop, apesar do piano e vocais de Elton John, mas também não soa melancólica, apesar da letra ressentida que possui colaboração de Mark Lanegan. O piano de Elton entrelaçado com a guitarra de Homme formam outro dos pontos de destaque do disco.

A volta das rainhas da idade da pedra foi potente, talvez não aquela potência cheia de testosterona dos discos anteriores, mas sim com uma dose de crise da meia idade de Josh Homme, canalizando todos seus demônios através de canções que nos levam para diversos lugares de nós mesmos, característica comum de grandes bandas, como o Queens of the Stone Age, que dessa vez mostram que continuam chapados, mas começam a encarar de frente os dilemas da vida adulta.

Trata-se de um trabalho conciso e maduro de uma banda de estilo único, cujo horizonte criativo parece não possuir limites.


David Oaski











terça-feira, 2 de julho de 2013

O PESO E A MELODIA DO AUDIOSLAVE


Quando em 2001, o ex-vocalista do Soundgarden, Chris Cornell e os integrantes remanescentes do Rage Against The Machine: Brad Wilk, Tom Morello e Tim Commerford anunciaram que formariam uma nova banda, tanto público quanto crítica não sabiam ao certo o que esperar. Afinal o que viria da união de sonoridades de bandas tão distintas, uma com as características de distorção e obscuridade do grunge e outra com a agressividade e velocidade do metal fundido com rap. Realmente o resultado dessa fusão era imprevisível.

Chris Cornell havia encerrado as atividades do Soundgarden em 1997 e havia lançado em 1999 seu primeiro álbum solo, seguindo uma linha mais pop, com maior apelo radiofônico. Já o Rage havia concluído suas ações em 2000 após Zack de la Rocha resolver investir em novos projetos. Dizem que quem deu a ideia da união das partes foi o produtor Rick Rubin, dando origem a alguns ensaios, em que a banda percebeu que a inesperada união dava caldo, foi o start de uma grande banda que estava prestes a surgir.

Como Cornell era de uma gravadora e os Rage eram de outra, as pendengas burocráticas foram monumentais, pois haviam também dois times de empresários, o que gerou muita dificuldade no entendimento para início das atividades da banda, quase pondo fim às atividades  antes mesmo das primeiras gravações ou shows.

Capa do primeiro álbum
Passadas as turbulências, a banda finalmente começa a fazer algumas apresentações e lança o primeiro álbum, com título homônimo. Neste primeiro álbum, a banda demonstra total entrosamento, dando a aparentar que os músicos sempre tocaram juntos. As melodias são incríveis e os vocais bem trabalhados de Cornell – um dos melhores cantores da história do rock – deram uma gama ainda maior de possibilidades musicais aos talentosos músicos do Rage, em destaque para o excelente guitarrista Tom Morello, que pôde mostrar seu lado mais melódico e até mesmo acústico diante de canções belíssimas. A banda soube dosar peso (“Cochise”, “Show Me How To Live” e “Set It Off”) e melodias mais trabalhadas (“Like A Stone”, “I Am The Highway” e “Getaway Car”) gerando um som novo e original, se distanciando das duas então finadas bandas.

No segundo álbum, a banda se consolida como grande nome do rock no começo da década de 2000, “Out Of Exile” foi lançado em 2005 e alcançou o primeiro lugar da Billboard. Com um som sólido e com características próprias novamente a combinação Cornell / Morello gera grandes canções, como “Be Yourself”, “Your Time Has Come” e “The Worm”.

A banda ainda lançaria “Revelations”, em 2006, que traz um som com mais groove, numa clara influência de música negra no som da banda. Neste som a cozinha de Wilk e Tim ganham mais destaque. Faixas como os singles “Original Fire” e “Revelations” dão o tom do conteúdo do álbum. Este porém, foi o último álbum da curta carreira da banda, por isso foi também o menos divulgado.

Cornell e Morello em ação
Poucos meses após o lançamento de “Revelations”, Chris Cornell divulgou um comunicado citando diferenças artísticas e pessoais com os outros membros da banda, pondo fim às suas atividades. Anos depois as duas bandas que deram origem ao Audioslave voltariam à ativa, com constantes apresentações em grandes festivais ao redor do mundo, tendo o Soundgarden inclusive, lançado um ótimo álbum: “King Animal”, em 2012.

Devido ao rock estar em baixa na época, tendo em vista que Linkin Park e Evanescence eram os grandes nomes do gênero na época, muita gente deixou o Audioslave passar batido, como se fosse apenas um projeto paralelo dos músicos, porém quem teve curiosidade e interesse em ouvir os álbuns da banda, sabe que trata-se de uma banda com uma aura grandiosa, excelentes melodias e músicos extremamente competentes e talentosos trabalhando em canções belíssimas.

Tendo a achar que o primeiro disco da banda, com o tempo e distanciamento corretos ainda será considerado um clássico do rock, condição mais do que justa para essa grande banda que nos brindou mesmo que brevemente com três ótimos álbuns e grandes registros em vídeo.


David Oaski