terça-feira, 8 de abril de 2014

RESENHA: SOUND CITY


Nota:8,5

Documentário dirigido pelo líder do Foo Fighters, Dave Grohl, Sound City conta a história do estúdio americano de mesmo nome, inaugurado em 1972, que ficou famoso por realizar gravações de grandes artistas, ter excelente qualidade na gravação e se tratar de um espaço despojado e de aspecto sujo.

A lista é grande, mas o estúdio recebeu gente do naipe de Fleetwood Mac, REO Speedwagon, Rick Springfield, Nirvana, Metallica, Rage Against The Machine, Slipknot, entre muitos outros. Em meados dos anos 70 e primeira metade no início dos anos 80 o estúdio teve seu primeiro grande momento, com procura de diversos artistas devido à notável qualidade de gravação analógica, tendo como destaque o som da bateria, citado por muitos dos entrevistados como único.

No final dos anos 80, com o advento da tecnologia nas gravações, a procura pelo Sound City decaía gradativamente e o responsável por resgatar o estúdio das cinzas foi o Nirvana, com seu clássico improvável: “Nevermind”, de 1991, que abriu as portas pra toda uma nova geração que iria atrás daquele som de guitarras altas e cozinha fantástica que as mesas de som do lugar proporcionavam.

O que tornava o som do estúdio tão especial, segundo os artistas e técnicos entrevistados era a mesa de som Neve, produzida sob encomenda por um engenheiro, a mesa absorvia um som orgânico através de fitas, o que tornava o trabalho do produtor muito mais árduo. Outro detalhe era o espaço das salas, que naturalmente tinham um excelente poder de captação.

A fachada nada suntuosa do estúdio
É curioso notar nos depoimentos, as falas sobre o aspecto do lugar, já que todos destacam a falta de organização e o aspecto deplorável do estúdio. Mesmo recebendo tantas estrelas eles nunca se preocuparam em ostentar aparência, mas sim com a música e as gravações em si.

Com a queda vertiginosa do mercado fonográfico e o avanço brutal das tecnologias de gravação que permitem que um cara grave tudo no seu notebook, o estúdio finalmente fechou as portas recentemente, mas um dos seus principais entusiastas, o diretor do documentário Dave Grohl resolveu comprar a mesa Neve e realizar umas jams com alguns dos músicos que passaram por lá, dessas jams nasceu a trilha sonora do documentário, que é fantástica, com participações de Trent Reznor, Josh Homme, Paul McCartney, Rick Springfield, entre outros. A trilha é arrebatadora.

Dave Grohl viajando no som da mesa mágica
Ao longo dos depoimentos, conforme a história é contada por gente como Neil Young, Tom Petty, Josh Homme e funcionários e produtores que trabalharam no estúdio, nota-se que o foco da produção é no amor que a música desperta, no quanto aqueles marmanjos são envolvidos afetivamente pela música.

É bonito de se ver e como Josh Homme diz: “A internet é ótima, mas ela não tem lojas de discos, livrarias e não tem o Sound City”, ou seja, muitas experiências fascinantes de caráter orgânico não podem ser adquiridas no mundo virtual.



David Oaski

quinta-feira, 3 de abril de 2014

A SENSACIONAL PRIMEIRA TEMPORADA DE TRUE DETECTIVE


Confirmando a tendência atual de que as séries norte americanas estão mais interessantes que os filmes de Hollywood, True Detective estreou em Janeiro deste ano na HBO e virou febre mundial, que só tende a crescer.

Envolta de um clima dark e misterioso do interior dos Estados Unidos, a série gira em torno de dois detetives: Martin Hart (Woody Harrelson) e Rustin “Rust” Cohle (Matthew McConauguey) que investigaram um caso de assassinato macabro no ano de 1995. A vítima foi encontrada num local distante, com símbolos satânicos, chifres e quase de quatro, havendo sinais de diversas agressões e abuso. Logo eles descobririam se tratar de um assassino em série.

Os episódios se dividem na época do assassinato, com os dias atuais, em que ambos detetives estão prestando depoimento sobre o caso, pois aparentemente os assassinatos haviam voltado a ocorrer, de modo que eles haviam matado os assassino à época, as suspeitas caem sobre Rust. Além de contar detalhes sobre o caso, os flashbacks também mostram a vida pessoal dos detetives à época, Rust morando sozinho, insone e tomando todo tipo de remédios e Martin com problemas conjugais.

Protagonistas de peso
Não vou contar aqui o desfecho da série pra não estragar seu divertimento e envolvimento na trama, mas saiba que as atuações são fantásticas, Woody está ótimo como Martin, um cara de crenças familiares, porém de relações extraconjugais; e Matthew é o ator do momento, está fenomenal como Rust, um personagem solitário e soturno que perdeu a filha e nunca se recuperou, não tendo fé em nada ou ninguém. Ambos, porém, são excelentes detetives. Há também Michelle Monaghan, que interpreta a esposa de Martin, Maggie e também está muito bem.

Juntamente com as atuações, outro destaque são os roteiros, simplesmente sensacionais, com diálogos densos, de cair o queixo. Talvez seja essa ainda a grande diferença das produções norte americanas em comparação com as brasileiras, a força de um bom roteiro.

Vale destacar também a trilha sonora, capitaneada pelo veterano T. Bone Burnett, a série é repleta de bons sons obscuros, dando o exato clima que o enredo sombrio pede. O tema de abertura chama-se “Far From Any Road” de uma banda de folk escocesa chamada The Handsome Family e a música está presente no álbum “Singing Bones”, de 2003, que é fantástico e eu nunca descobriria não fosse pela série.

Já se fala numa nova temporada da série, porém com novos atores e novos personagens, é esperar por coisa boa.

Enfim, cada vez perco menos tempo com filmes, afinal como vi José Padilha dizer numa entrevista recente, é muito mais fácil para os diretores e roteiristas espalharem e desenrolarem uma boa história ao longo de uma temporada de oito episódio (como é o caso de True Detective) do que condensar tudo em uma hora e meia, duas horas de um blockbuster.

Se você gosta de acompanhar séries, mergulhe em True Detective, pois é sensacional.



David Oaski