terça-feira, 30 de abril de 2013

É MUITO MAIS FÁCIL SER O FILHO DA PUTA



É duro ser honesto. Na vida social, profissional, relacionamentos afetivos e familiares, enfim, a sombra da maldade e o instinto corrupto estão sempre a nos rodear com seus melindros e facilidades.

É sempre mais fácil ser um filho da puta, ainda mais num país em que a corrupção é diariamente estimulada através do jeitinho brasileiro. Somos pressionados, maltratados e feitos de otários o tempo todo, então qual o motivo pra se manter fiel aos seus princípios (se é que vocês os têm)? O motivo é única e simplesmente ser correto, ter consciência do que é certo no ecossistema em que você vive, sabendo que aquilo afetará ou não outras pessoas hoje ou no futuro, sempre lembrando que tudo que você faz um dia volta pra você, não há como fugir, é a lei do eterno retorno.

Alguns apelam para motivos religiosos dizendo que Deus vai castigar, mas pouco se fala sobre a corrupção do dia-a-dia, do passar no semáforo vermelho, do suborno ao guarda de trânsito ou do ‘gato’ na tv a cabo. Isso ninguém liga, já faz parte do total, afinal todo mundo faz, que mal existe em fazer também. Já falei aqui, mas não custa lembrar, esse pensamento nos faz um mal tremendo, quase como um câncer na nossa sociedade, que acaba virando esse ciclo de falsos espertos e arrogantes.

O mais complicado é convencer a população de que numa sociedade tão competitiva você não ganha nada em troca de ser honesto, pelo contrário, muitas vezes você perde, a única coisa que você recebe em troca é sua honra, mas essa recompensa anda muito desvalorizada.

Enfim, o que me mantém fiel aos meus princípios até agora é acreditar que atitudes certas me trarão bons resultados, pois sei que o mundo vai além de bens materiais e dinheiro. Além disso, não quero nem de longe me parecer com um político, que já nem sabe mais quando está falando a verdade ou mentindo.

Stay Strong. Go on.



David Oaski  

quarta-feira, 24 de abril de 2013

PÉROLAS QUE O TEMPO ESQUECEU: RUMBORA


O Rumbora era uma banda que misturava de forma irreverente ska, rock, hardcore e reggae numa levada bem pop e que fez sucesso no final dos anos 90, começo dos 2000, formada pelo vocalista e guitarrista Alf, pelo baixista e vocalista Beto, além do guitarrista Biu e do baterista Bacalhau.

Apesar de ter tido reconhecimento na época, hoje em dia pouco se fala na banda que emplacou dois discos pela gravadora Trama: “71”, de 1999 e “Exército Positivo e Operante”, de 2000 e um de maneira independente: “Trio Elétrico”, de 2003.

O frontman da banda: Alf
Oriunda de Brasília, assim como os Raimundos e o Natiruts, já no primeiro disco a banda mostrava suas letras cheias de bom humor e ironia e obteve êxitos nas rádios e na Mtv com os singles “Chapirous” e “Skaô”, as letras possuíam um vocabulário jovem, repleto de gírias e usual à época e as melodias eram ensolaradas, com total influência dos ritmos jamaicanos.

No segundo álbum, o sucesso seria ainda maior com o mega hit radiofônico “O Mapa da Mina”, a banda ficou então entre as mais tocadas do país. O álbum ainda conta com a colaboração de Arnaldo Antunes e Black Alien, além de ter sido produzido por Carlos Eduardo Miranda, folclórico produtor que trabalhou com as principais bandas de rock dos anos 90. Além do sucesso, havia ainda o outro single “O Passo do Azuilson” e a belíssima “Mal do Mundo”, que revela um lado mais adulto como compositor de Alf, o vocalista e principal letrista.

Em 2003, um ano após encerrar o contrato com a Trama e passar por diversas mudanças, a banda persistiu como um trio formado por Alf, Beto e Leandro (bateria) e gravou seu melhor álbum. Em “Trio Elétrico” a banda mantém a pegada ska dos primeiros álbuns, mas com a soma de elementos eletrônicos às melodias, o que abre um leque ainda maior nas melodias do grupo. O álbum é bom de ponta a ponta, com destaque para “Freio de Mão”, “Deskanso em Movimento”, “Mó Valor” e “Querendo”.

A banda na tenda Brasil do Rock in Rio 3
Em 2005, devido à falta de apoio das gravadoras (o que ainda era um tremendo empecilho na época), o Rumbora resolveu encerrar suas atividades, tendo seus membros participado de diversos projetos. Alf tocou com os Raimundos e fez parte do Supergalo e do Câmbio Negro, além de estar lançando um álbum de inéditas ainda esse ano; Bacalhau tocou com diversos artista e hoje é membro fixo do Ultraje a Rigor; Beto seguiu para o ramo do marketing digital e Biu seguiu com diversos projetos.

Todas décadas possuem artistas e bandas que ficam em uma espécie de segundo ou terceiro escalão no mainstream, não necessariamente pelo talento, mas por uma série de fatores, como carisma e espaço na mídia. O Rumbora foi um desses casos, pois apesar de ter obtido sucesso comercial não conseguiu se manter no topo e, numa época em que as gravadoras dominavam completamente o mercado fonográfico, ser independente era quase impossível já que nossa economia nem sonhava em ser estável como é hoje.

Descobri o Rumbora uns três anos atrás por pura curiosidade após ver um especial na Mtv que citava que eles haviam feito um Lual Mtv, porém como sabia que só bandas conhecidas da época participavam do programa, como Raimundos e Charlie Brown Jr., estranhei por não conhece-los. Fui atrás e não me arrependi, baixei todos os discos, que remetem à diversão e um lado bom da vida, longe de todo stress e negatividade.

Se você acha que ska bom é só o jamaicano, pesquise um pouco sobre o Rumbora e não irá se arrepender.



David Oaski





segunda-feira, 22 de abril de 2013

A ESCOLHA



O que presta? O que não?

O que é de verdade? Quem é você pra julgar?

Já parou pra pensar que você pode estar errado?

Em cada uma das suas míseras convicções?

Ao final, o que nos resta, solidão?

Seguimos à sombra da maldade em todo lugar.

Pessoas boas e ruins flutuam ao seu lado.

Por diversas razões

Você pode ser um hipócrita, um desalmado

Fingir que acredita, ser desleixado

Pode mentir tanto que nem percebe mais

Pode criar um personagem que sempre transmita paz

Mas a verdade, a verdade mesmo é que ninguém sabe nada

Tá todo mundo aprendendo

Tá todo mundo errando

Se desenvolvendo

Ou ao menos tentando

Admiro os que tentam

Porque quem desistiu morreu

E nem percebeu

Só tem altos e baixos quem tá vivo

Você tá vivo ou morreu?



David Oaski

sexta-feira, 19 de abril de 2013

RESENHA: A VERDADEIRA HISTÓRIA DE HERMES E RENATO



Quem cresceu nos anos 90 e 2000 e não conhece Hermes e Renato não teve uma infância plena. O humor non sense e sátiras de programas populares dos caras são impagáveis, além de personagens clássicos, como os que dão título ao programa e, principalmente Boça e Joselito Sem-Noção. Ao longo de dez anos no ar na Mtv (de 1999 a 2009), os caras fizeram de tudo: esquetes de humor, sátiras de novelas e programas de auditórios (Cláudio Ricardo, Palhaço Gozo), músicas (Massacration, Coração Melão, entre outros) e até dublagens de filmes thrash (Tela Class), tudo de forma singela e muito competente, acumulando fãs e se mantendo engraçados e relevantes durante todo período que estiveram no ar.

Personagens clássicos: Joselito e Boça
Apesar do meu apreço e memória afetiva pelo programa, não sabia muito sobre a vida dos artistas além da tv, tampouco as origens dos atores, sequer nomes verdadeiros. Porém, ontem a Mtv – que os recontratou após alguns anos com os Legendários, onde mudaram o nome para Banana Mecânica – exibiu o documentário “A Verdadeira História de Hermes e Renato” e achei muito bacana.

Desde moleques, a trupe fazia gravações amadoras e extremamente toscas na casa de Fausto, o líder do grupo. Lá, eles faziam sátiras de comerciais, programas e filmes de forma completamente simples, entre amigos, com o único intuito de diversão. Do elenco que se consolidou na Mtv, Adriano (Joselito) e Fausto (Renato) sempre estiveram na bagunça, e desde muito pirralhos demonstravam ser engraçados e, de forma intuitiva desenvolveram um talento natural para o humor.

Quando Marco (Hermes) entrou para o grupo a coisa começou a ficar um pouco mais ‘séria’, pois eles começaram a seguir roteiros e a tentar brincar com cortes de câmeras, tudo com muita influência do que admiravam e assistiam desde sempre como pornochanchada, Trapalhões e programas de auditório diversos. Essa experiência de espectador deu a eles um feeling natural que seria visto anos mais tarde na tv. Ainda entrariam para o grupo Bruno Sutter (Detonator) e Felipe Torres (Boça).

Figuras centrais - Hermes e Renato
Após muitos anos de gravações como hobby, o grupo resolve concorrer a uma promoção na Mtv para veicular uma vinheta, sendo que no vídeo enviado haviam também gravações diversas, com alguns dos quadros que eles faziam. O vídeo virou hit nos corredores da Mtv e eles foram chamados para fazer mais dez vinhetas e, dependendo da aprovação do público, assinariam um contrato.

A repercussão foi imediata, com a audiência pirando naqueles malucos, com roupas características dos anos 70, falando palavrões pelos cotovelos e fazendo as sátiras mais absurdas do mundo. Daí foram 10 anos se reinventando a cada temporada, com quadros e personagens clássicos e mostrando talento em diversas plataformas do humor, chegando ao ponto deles próprios assumirem a direção do programa.

É curioso ver os caras fora dos personagens e falando sério para a câmera. São histórias divertidas contadas inclusive pela mãe e irmão do Fausto (o último inclusive participava das gravações no começo). A passagem em que contam que o Joselito realmente existiu e era um ex-cunhado do Fausto é hilária.

O mais interessante é ver como a sorte dos caras virou a partir do envio daquela fita, sendo que uma brincadeira se tornou a profissão deles e ver como eles acreditam no que fazem e se divertem fazendo, o que torna tudo mais divertido ainda para o público.



David Oaski


quarta-feira, 17 de abril de 2013

VIDA REAL



Cada um leva sua vida como quiser. É um direito. Mas certas coisas me incomodam, como esses manés que levam a vida como robôs, totalmente alienados e se acham donos da razão e dão pitacos em todos assuntos que estão ao alcance da sua ignorância.

Se você já passou dos 25 anos, nunca leu um livro inteiro, ouve música e vê filmes por osmose e se acha super inteligente por ter frequentado a faculdade e ter um emprego médio, é justamente a você que eu me direciono.

Não estou aqui falando de maturidade, até porque acho a maturidade pregada pela sociedade um saco, mas sim de o cara ter alguma noção do universo que o cerca, de saber que a vida vai além da baladinha de sexta-feira. Pior ainda é quando vários desses se juntam, daí vem a formar os batalhões de ignorantes que fazem a alegria dos nossos políticos corruptos.

Há uma grande diferença entre ser descontraído e de bem com a vida e ser um babaca que só faz molecagem. Você não precisa endurecer ao ponto de não poder se divertir, há espaço pra tudo, a grande questão é saber organizar e otimizar o tempo, ou seja, você pode ir à balada, sair com os amigos pra falar besteira, ir à academia e, ainda assim, ler um livro, assistir bons filmes e acessar portais de notícias, é gratuito e não machuca.

Criou-se uma cultura em torno da minha geração que relaciona de forma absurda inteligência à caretice, de uma forma que o cara que não se encaixa em determinado perfil não pega ninguém e outros argumentos patéticos, o que pra um adolescente ainda com a personalidade em formação realmente acontece de ser influenciado, agora marmanjos de 20, 30 anos com esse comportamento de gado já é demais.

Temos que ter mais discernimento e sede por informação e conhecimento. Questionar valores, buscar diversões alternativas, encher a cara de bebida e de livros, tudo na medida certa, ser sério quando o assunto exigir seriedade e se divertir ao extremo nos momentos de lazer. Essa é a verdadeira rebeldia. Estou cansado de ver jovens conservadores e coroas liberais, nossa geração tem que assumir seu espaço na sociedade e finalmente mostrar a que veio e não ficarmos escondidos atrás das redes sociais pagando de cool ou revoltado.

Vida real!!! Agora!!!



David Oaski



segunda-feira, 15 de abril de 2013

A NOVIDADE QUE VALE A PENA: VESPAS MANDARINAS



Formada em 2009, a banda contava com um time de peso do rock nacional, encabeçada por Chuck Hipolitho (ex-Forgotten Boys e atual VJ da Mtv), Thadeu Meneghini (ex-Banzé!), Mike Vontobel (Bidê ou Balde) e Mauro Motoki (Ludov). Juntos os caras buscavam desde o início fazer um som em português com fortes influências do pop rock nacional, que agregasse com letras interessantes e boas melodias, tendo como missão árdua, tentar resgatar o gosto popular pelo rock, como ocorreu nos anos 80 e 90.

Lançaram em 2010 seu primeiro EP, intitulado “Da Doo Ron Ron”, que já mostrava o bom potencial da banda, porém ainda de forma meio destemperada, como era de se esperar já que eles ainda estavam se conhecendo e experimentando para moldar a estética definitiva da banda. No entanto, após esse lançamento saem da banda Mike e Mauro e entram para cozinha o baterista André Dea (que também toca no Sugar Kane) e o baixista Flavio Guarnieri, formando dessa forma a banda como conhecemos até hoje.

No ano seguinte, em 2011, lançaram mais um EP, “Sasha Grey”, já trazendo as Vespas mais azeitadas com a química fluindo melhor, mostrando claramente o enorme potencial da banda. Destaque para a ótima “Antes Que Você Conte Até Dez”.

Capa do "Animal Nacional"
Após dois anos fazendo bons shows, ao lado de outros nomes da cena emergente do rock nacional, como Black Drawing Chalks e Vivendo do Ócio, a banda fecha com a Deck, para produzir e lançar seu primeiro álbum inteiro, essa era a alavanca que a banda precisava.

Saiu então, semana passada, “Animal Nacional”, que vem sendo exaltado – e com justiça – como um sopro de novos ares ao rock nacional. No álbum, a banda soa como um encontro do que melhor aconteceu no rock nacional dos anos 80 e 90, com influências claras de bandas como Titãs, Paralamas do Sucesso e Skank e algo do The Clash, sempre com ótimas melodias de guitarra trazidas pela excelente dupla Thadeu e Chuck e a cozinha dando toda base e energia que as canções pedem, com André e Flávio também tocando muito.

A banda em ação no vídeoclipe de "Cobra de Vidro"
Diante da mesmice do rock nacional, salvo por raras exceções como o já mencionado Vivendo do Ócio, o Detonautas e o Rancore, é um tesão ouvir um disco como esse. É rock nacional na essência, com canções bem executadas que poderiam tocar em qualquer rádio voltada a pessoas com mais de dois neurônios. Vale destaque também para as letras, que fogem totalmente do marasmo “dor de corno” implantado no rock nacional mainstream dos últimos anos. Há parcerias com gente do calibre de Arnaldo Antunes em “A Prova”, Bernardo Vilhena em “Santa Sampa”, e dos amigos da banda Fabio Cascadura e Adalberto Rabelo (parceiro de Thadeu desde os tempos de Banzé!).

Chega a ser difícil apontar os pontos altos do álbum, pois ele é excelente por inteiro e uma obra que, apesar das diversas influências, soa homogênea, característica dos grandes álbuns da história do rock nacional. Mas as que batem de primeira são a já conhecida “Cobra de Vidro”; a sensacional “Não Sei O Que Fazer Comigo”, versão de “Ya No Sé O Qué Hacer Conmigo”, da banda uruguaia El Cuarteto de Nos; “Santa Sampa”;  “O Herói Devolvido”; e “O Inimigo”.

Avião de caça com a cabeça de vespa
Realmente fico emocionado ao ouvir um disco como “Animal Nacional”, pois ele traz de volta à tona tudo que mais me encantou desde sempre no rock n’ roll: boas letras, melodias contagiantes e que são capazes de melhorar o humor de uma pessoa, essa relação orgânica com a música não pode se perder.

Os pilotos de caça
Além do som e das letras, assisti e li entrevistas da banda e gostei muito do discurso e da proposta dos caras, que não tem vergonha nenhuma de dizer que compõem cada canção pensando no seu potencial pop, que acham que o rock nacional está muito supérfluo e infantil e estão levantando a bandeira de um rock nacional que volte a atingir à massa e, sinceramente, com esse disco, eles mostraram que tem potencial para atingir esse objetivo e se não conseguirem que tenham gás e inspiração para continuar tentando.

Pesquisando a definição de vespas mandarinas, vi através de alguns sites que são insetos asiáticos que se caracterizam por fortes habilidades agressivas, atacando em bloco e detonando colmeias inteiras de abelhas e outros insetos em poucas horas. O inseto mata inclusive, muitas pessoas, tamanha a potência do seu veneno. Realmente o nome não podia ser melhor escolhido, já que a banda chega atacando na linha de frente do rock nacional, pronto para invadir as colmeias infestadas pelo ‘sertanojo’ universitário e pagode mela cueca, com agressividade e o mais importante, inteligência.



David Oaski

quinta-feira, 11 de abril de 2013

E QUEM NÃO GOSTA DE JORGE BEN JOR BOM SUJEITO NÃO É



O cara é foda. Não adianta procurar definição melhor pra resumir esse mestre da música popular brasileira, do funk, da bossa nova, do rock, do samba rock e de tudo mais que ele tenha se metido a fazer.

Nascido Jorge Duilio Lima Meneses, em 22 de março de 1945, Jorge Ben iniciou sua carreira no começo dos anos 60, sob influência da música negra norte americana e do rock n’ roll e logo de cara mostrou originalidade e personalidade através de composições simples, mas únicas, caracterizadas por levadas e harmonias diferentes  dos movimentos que despontavam à época como a bossa nova e a jovem guarda.
Cantando e tocando guitarra como poucos

Pra se ter uma noção, qual outro artista seria capaz de lançar num primeiro compacto, joias do quilate de “Mas Que Nada” e “Por Causa de Você Menina”. Rapidamente Jorge Ben chamou atenção do público e da crítica, pois aquelas canções traziam um suingue até então inexplorado na música popular brasileira, Bem Jor criara um estilo, cujo só ele domina plenamente, o samba rock.

Jorge Ben Jor seguiu lançando excelentes discos após o primeiro: “Samba Esquema Novo”, de 1963, como “Big Ben”, de 1965 e “Força Bruta”, de 1970, quando entrou numa fase exotérica – e genial, com lançamentos como os clássicos absolutos: “A Tábua de Esmeralda”, de 1974 e “África Brasil”, de 1976, que o colocaram no primeiro escalão da música mundial, sendo estes últimos repletos de mensagens positivas através da ideologia religiosa do cara na época, nunca deixando de lado a linguagem das ruas também tão presentes nas suas composições.

Sem óculos escuros
Além de todo prestígio e reconhecimento no Brasil, Jorge Ben também é um dos artistas brasileiros mais reconhecidos internacionalmente, sendo “Mas Que Nada”, uma das músicas mais executadas e regravadas na história da música mundial. Outro fato curioso foi o plágio do astro pop Rod Stewart na sua canção “Da Ya Think I’m Sexy” sobre “Taj Mahal”, tendo o brasileiro processado o gringo e ganhado uma pequena fortuna.

Na ativa até hoje, Babulina (como é conhecido), hoje aos 68 anos, segue fazendo shows por todo o Brasil e cheio de energia, transmitindo seu suingue e energia de uma alma que nunca envelhece, fazendo parcerias com artistas atuais como Fiuk e Gabriel o Pensador, sempre enobrecendo cada milímetro da melodia da qual abrilhanta.

O cara é e um exemplo de artista e pessoa, sempre humilde, sem estrelices e babaquices típicas de celebridades, o cara consegue através de um carisma único conquistar público e crítica e por mais que tentem, ninguém consegue alcançar seu estilo inigualável.


Salve Simpatia!





David Oaski





sexta-feira, 5 de abril de 2013

RELIGIÃO NÃO SE DISCUTE?



Sempre que surge uma discussão mais áspera sobre religião, alguém encerra qualquer tipo de argumento com a célebre frase: “Religião não se discute”. Será mesmo?

Sou totalmente a favor de cada um manifestar sua fé da forma que quiser, crer ou não crer no que quiser e seguir qualquer tipo de dogma, crença ou religião. Pouco importa se você é ateu, cristão, católico, espírita, desde que saiba respeitar e conviver com o espaço do outro, sem problemas.

O problema é quando a religião foge do âmbito dos seus e passa a atingir a sociedade de um modo geral. Por exemplo, sabemos que muitos religiosos se fecham entre seus pares, num esquema parecido com a maçonaria, em que só se relacionam e interagem com pessoas da sua igreja ou religião. Isso até poderia ser interessante, mas fico pensando o quanto esse favorecimento não está tirando oportunidades de outros que estão à margem da religião na sociedade.

Outro fator, esse mais importante, é o fato dos partidos políticos voltados aos religiosos. Sei que a constituição permite o surgimento desses partidos, mas considero muito preocupante quando se fala em bancada evangélica no congresso, por exemplo, sempre lembrando que o estado é laico e não deve nada a religião nenhuma.

Quando aceitamos esse argumento de que religião não se discute, estamos dando espaço para que o Estado seja invadido por dogmas de determinados representantes que esquecem do princípio laico da coisa.

Sei que essa é uma discussão complexa, pois os políticos e autoridades religiosos estão nesses cargos por voto do povo, mas creio que deva ser considerada a implementação de algum mecanismo capaz de avaliar se o cara está ali apenas para fortalecer sua classe ou está em busca do bem comum do Estado. Deixo aqui bem claro que esse mecanismo deve ser utilizado para todos representantes, não só religiosos, mas médicos, palhaços e todas outras classes possíveis.

Enfim, creio que religião como busca por auto conhecimento, paz e contato com o divino realmente não se discute, cada um tem a sua, porém quando essas preferências passam a influenciar a sociedade de um modo geral, devemos discutir sim, senão cada vez mais veremos caras do naipe do Marco Feliciano em cargos importantes do país.



David Oaski

terça-feira, 2 de abril de 2013

RESENHA LOLLAPALOOZA BRASIL 2013 - 31/03/2013



Assisti à transmissão do show do Foo Fighters no primeiro Lollapalooza Brasil ano passado morrendo de vontade de estar lá e prometi a mim mesmo que esse ano se tivesse uma banda que eu curtisse eu iria, e acabei cumprindo a promessa.

Pra abastecer a galera
Quando anunciaram para o festival desse ano em meados de 2012, me interessei pelas noites de sábado e domingo, pois estava ouvindo bastante Black Keys e gosto muito de Queens of the Stone Age que iriam tocar no sábado; e da mesma forma adoro Pearl Jam e Planet Hemp; com relação à sexta-feira apesar de gostar do The Killers achei o resto do line up meio caído e já tirei da roda. Após pesar um pouco alguns quesitos, acabei optando por ir na noite de domingo pra assistir o Pearl Jam, pois imaginei que seria o show mais grandioso e mais entusiasmante para um virgem de shows grandes e festivais como eu. Sábia decisão!

Mal pude acreditar quando cheguei no Jockey Club que realmente estava lá e iria ver alguns dos meus ídolos de perto. Logo de cara acompanhei uma rápida passagem de som dos baianos do Vivendo do Ócio no palco Butantã, porém foi rápido. Na sequência fui ao palco Cidade Jardim e lá rolou o show do Baia, que me surpreendeu pela semelhança sonora com Raul Seixas na levada das canções, rolando um trecho de “Ouro de Tolo” inclusive.

Vivendo do Ócio representando o rock nacional
Voltando ao palco Butantã assisti o Vivendo do Ócio fazer um puta show. Ainda era cedo e por não haver tanta gente, consegui vê-los bem de perto, o público presente vibrou com ótimas canções como “Nostalgia”, “Fora Mônica”, “Hey Hey”, entre outros petardos. Tenho certeza de que quem não os conhecia nunca mais vai esquecer dos caras, foi surpreendente a performance ao vivo da banda, execução técnica perfeita e a alegria dos músicos de estar no palco tocando no festival era contagiante.

A maratona continuava e ainda no começo da tarde já ia para o terceiro show, Lirinha e Eddie novamente no palco Cidade Jardim, eles fazem um som calcado em ritmos nordestinos como frevo, xote e manguebeat, numa mistura bacana, mas que não faz muito minha cabeça, no meu caso foi uma boa hora pra tomar uma gelada.

Ao fim do show, tínhamos duas opções, uma banda chamada República fazia um som bem pesado no palco alternativo e o Foals que tocava no Palco Butantã, escolhemos o segundo. Eles fazem esse rock com algumas batidas eletrônicas, que cada vez surgem mais bandas aderindo. Fizeram um show correto que agradou bastante o público que conhecia a banda.

Após o Foals ia rolar o show do Puscifer no Palco Cidade Jardim, mas preferi dar uma descansada da viagem pra poder aguentar a jornada até o fim. Foi nessa hora, meio da tarde, que dei a primeira ida ao Palco Perry, voltado à música eletrônica, lá parecia uma rave, com a galera enlouquecida na batida das músicas.

A célebre roda gigante do festival
Já encaminhando para o fim de tarde, fomos ao show do Kaiser Chiefs no palco Butantã, banda britânica que emplacou o hit “Ruby” aqui no Brasil. Eles estavam meio por fora dos holofotes por algum tempo e mesmo não tendo visto o show inteiro deu pra ver que eles ainda tem lenha pra queimar, vide a animação do vocalista, tentando inclusive pronunciar algumas palavras em português.

Saí na primeira metade do show do Kaiser Chiefs e fui ao palco Alternativo, onde tocava a banda brasileira de folk rock Vanguart. Suas melodias se uniram ao fim de tarde com rara beleza e os poucos presentes cantavam a plenos pulmões sucessos como “Semáforo” e “Mi Vida Eres Tu”. A empolgação dos integrantes era nítida, enquanto pediam mais apoio às bandas nacionais e agradeciam os organizadores do festival.

Show matador do The Hives
Daí o festival começou de verdade. Fomos para o palco Cidade Jardim assistir a performance incendiária dos suecos do The Hives, comandados pelo vocalista Per Almqvist que parecia o líder de uma seita religiosa dizendo em bom português: “Batam palmas”. A banda esbanjou carisma e mostrou como se toca num festival, foram hits implacáveis (“Hate to Say I Told You So”, “Main Offender”, “Walk Idiot Walk”, “Tick Tick Boom”, entre outras), presença de palco matadora de todos os integrantes, interação com a plateia e tudo que um grande show de rock deve ter. A banda até então era um tanto subestimada no Brasil, talvez por não fazer parte do eixo Estados Unidos / Inglaterra, mas enfiaram seu talento goela abaixo de quem paga pau pros Strokes da vida. Tão surpreendente quanto inesquecível!
D2 mandando a galera tacar fogo

Juntei minhas forças e fiquei de longe vendo o Planet Hemp no palco Butantã pra tentar pegar um bom lugar para o Pearl Jam no Cidade Jardim, mesmo distante deu pra sentir a energia da banda e público nas já clássicas “Mantenha o Respeito”, “Legalize Já” e “Quem Tem Seda”. Muito legal ver uma banda nacional tendo tamanho destaque num festival do porte do Lollapalooza.

Antes do fim do show do Planet, voltei ao palco principal pra tentar um bom lugar pra ver Eddie Vedder e seus comparsas, após alguns empurrões, pisoes, aglomerações e afins cheguei num lugar que dava pra ver bem o telão e de longe o palco. Por volta das 21:00h o show começou e a energia dos caras é simplesmente sensacional, de forma surreal todos comovidos cantando com todas suas forças, superando os perrengues e cansaço do festival, aquele momento fazia tudo valer a pena, era um orgasmo múltiplo causado pela banda de Seattle.

Linda foto do Pearl Jam no palco do Lolla
Como se sabe, a banda varia muito seu set list, fato raro entre as grandes (e preguiçosas) bandas, e no Lolla não foi diferente, tocaram clássicos como “Jeremy”, “Even Flow”, “Do The Evolution” e “Alive” e outras não tão conhecidas, mas sempre presentes nos concertos da banda, como “Corduroy”, “Wishlist” e “State of Love and Trust”, vale destaque também a sensacional versão de “I Believe In Miracles” do Ramones. Porém o ponto alto ficou para o bis com “Black”, canção gravada em 1991, no clássico “Ten”, sendo cantada por todos presentes de uma forma emocionante. Realmente o festival não podia ter um final mais grandioso, o Pearl Jam é do caralho!

Fazendo um saldo final, o resultado é altamente positivo, pois apesar dos perrengues como: cheiro de merda de cavalo, lama, banheiros toscos e dificuldades de transportes, sabemos que esses percalços fazem parte dos festivais. Além do mais, é difícil conceber em qual outra oportunidade eu teria a chance de ver bandas desse porte e desse quilate num só dia. Num país em que a música pop é o sertanejo universitário é difícil de imaginar.

Que venham outros festivais, com grandes atrações, surpresas e perrengues, quem sabe assim os jovens não se interessem por música de qualidade e que as gerações seguintes tenham mais discernimento cultural.

Valeu Lolla!



David Oaski