Nota: 9,0
Que David Bowie é um monstro sagrado da musica pop mundial ninguém tem dúvida, porém o que esperar do vigésimo quarto álbum de um artista totalmente consagrado e que mora há no mínimo trinta anos no panteão dos grandes nomes da história da música mundial?
Que David Bowie é um monstro sagrado da musica pop mundial ninguém tem dúvida, porém o que esperar do vigésimo quarto álbum de um artista totalmente consagrado e que mora há no mínimo trinta anos no panteão dos grandes nomes da história da música mundial?
Quase totalmente excluso da grande mídia, desde que teve um
infarto em 2004, Bowie tinha um futuro incerto aos olhos de público e crítica.
Ele voltaria a lançar discos? Faria turnês? Se sujeitaria a todo o desgaste do
show business novamente? Graças aos céus a resposta foi positiva.
David trabalhava há quase dez anos em total sigilo com o
produtor Tony Visconti (que já havia trabalhado com o Camaleão em “Space Oddity”
e “The Man Who Sold The World”) elaborando melodias, compondo canções, testando
e desenvolvendo sonoridades até lançar no começo do ano o primeiro single do
que viria a ser seu novo álbum, dez anos após “Reality”, de 2003, a música
lançada através de videoclipe no site oficial do músico pegou a todos de
surpresa, pois não havia sido noticiado em nenhum portal de notícias do mundo
que Bowie estava na ativa, quanto mais gravando um novo álbum. A música era “Where
Are We Now”, uma balada arrastada e melancólica, que traz uma dose do que viria
no disco cheio.
O gênio Bowie - 66 anos e o talento intacto |
Lançado em Março desse ano, “The Next Day” foi muito bem
recebido por fãs e crítica especializada, pois mostra que o talento intrínseco
de Bowie segue presente em cada melodia ao longo das 14 canções do álbum. O
camaleão é um daqueles raros artistas que sabem fazer melodias singelas virarem
joias pops inesquecíveis. Além disso, vale destaque a capa que traz um quadro
branco com o nome do álbum sobre a capa de “Heroes”, álbum de Bowie de 1977.
O disco possui rocks potentes e enérgicos, com melodias
cheias de vitalidade e colhão pra botar muitas dessas bandas indie que se acham
pesadas no chinelo, como se vê na faixa título, que possui melodia musculosa,
cheia de camadas sonoras, com guitarras, teclado e cozinha se entrelaçando numa
ótima canção; outros exemplos são a chapada “I’d Rather Be High” e “(You Will)
Set The World On Fire”, rocks diretos e extremamente competentes.
Também há muito espaço para melancolia, do auge dos seus 66
anos, Bowie confecciona pérolas contemplativas como “Love Is Lost”, “You Feel
So Lonely You Could Die” e “Heat”, esta última poderia ter sido facilmente
gravada por Trent Reznor e sua turma no Nine Inch Nails.
Cena do vídeoclipe "The Next Day" |
O pop oitentista também é celebrado com roupa de gala no funk
misturado com jazz “Dirty Boys”; na acelerada “If You Can See Me”, que poderia
lembrar uma canção do The Killers se eles se levassem a sério; e nas dançantes
e deliciosas “Dancing Out In Space” e “How Does The Grass Grow”, essa última
com um belo solo de guitarra.
Há também espaço para baladas românticas com a bela “Valentine’s
Day” e a singela “Boss Of Me”, além da semi balada e uma das melhores canções
que ouvi em 2013, “The Stars (Are Out Tonight)” que possui letra e melodia
marcantes, que já a postulam como um clássico da carreira de Bowie.
Bowie é um verdadeiro arquiteto da música, consegue encaixar
cada instrumento, cada timbre, cada som no seu devido lugar dentro da melodia e
nesse álbum conseguiu mais uma vez espalhar seu brilho no decorrer de toda
obra, pois cada faixa revela um pouco mais do talento desse extraordinário
músico, a cada audição você encontra um elemento diferente, uma nuance, uma
passagem ou um trecho que havia passado batido. É o caso de um disco para se
ouvir até o fim da vida, de tempos em tempos sendo degustado.
Torcemos pra que esse não seja o último registro de Bowie em
vida, mas se for, trata-se de uma senhora despedida. O camaleão do rock devia
um grande disco às gerações mais novas e lhes entregou “The Next Day”, cabe a
nós desfrutá-lo o máximo possível.
David Oaski
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