Nota: 8,0
O ano de 2013 segue sendo como um dos mais frutíferos na
música nos últimos anos, com lançamentos de gente do naipe de David Bowie, Eric
Clapton, Depeche Mode, Alice In Chains, Daft Punk e o excelente Queens Of The
Stone Age, que recém lançou seu sexto álbum, intitulado “...Like Clockwork” e
tem dividido opiniões da crítica, porém o público da banda já o considera um de
seus melhores lançamentos, o que não é pouca coisa, diante do padrão de
excelência obtido pela turma de Josh Homme que não tem um lançamento sequer
razoável no decorrer da carreira.
Desde 2007 sem lançar um álbum de inéditas, o Queens anunciou
meados do ano passado que estava iniciando o processo de gravação de um novo
disco. No decorrer dos meses seguintes foram inúmeros teasers de gravações e
anúncios de participações especiais, característica comum da banda, que desde o
início possui uma formação flutuante em torno do front man e mente criativa da
banda, o talentoso Josh Homme.
Josh Homme - o 'cara' da banda |
Lançado em Junho deste ano, “...Like Clockwork” conta com
participações especiais de parceiros comuns de Homme, como Dave Grohl (Foo
Fighters), Trent Reznor (Nine Inch Nails), Mark Lanegan (ex Screaming Trees) e
Nick Oliveri (ex baixista do próprio Queens e do Kyuss, ambos com Homme). Além
desses que já contribuem continuamente com os álbuns da banda, somaram-se ao
time Alex Turner (Arctic Monkeys), Jake Shears (Scissor Sisters) e o mito pop
Elton John, que se autoconvidou a fazer parte do projeto, dizendo ser uma
legítima rainha (tá com pouca moral o Josh?!).
O line up principal da banda para o álbum foi composto por
Josh Homme (guitarras, vocais); Troy Van Leuwen (guitarra); Dean Fertita
(teclados); e Michael Shuman (baixo). O cargo de batera foi revezado entre três
feras: Dave Grohl, Joey Castillo e Jon Theodore.
Line up atual da banda |
Durante o processo de composição do disco, Josh foi muito
influenciado por uma cirurgia que realizou no joelho em 2011, quando devido à
complicações inesperadas na mesa de cirurgia chegou a ‘morrer’ por alguns
instantes. A influência do incidente é notável nas letras do álbum, que
transpiram melancolia e ressentimentos, rodeando o tema morte em diversos
momentos. Nas melodias também se vê maior quantidade de canções cadenciadas,
com forte apoio de teclados, adicionando com doçura e suavidade um olhar
contemplativo para a vida.
O disco abre com as excelentes “Keep Your Eyes Peeled” e “I
Sat By The Ocean”, a primeira mantendo a tradicional pegada stoner da banda,
com guitarras cortantes, chapada e viajandona, com direito a inesperada e grata
participação de Jake Shears, fugindo das características conhecidas de sua
banda, o Scissor Sisters. Já a segunda tem uma vibração pop, ensolarada, típica
das bandas da Califórnia, porém com as linhas de guitarra de Homme – um dos
melhores guitarristas dos últimos tempos - valorizando demais a melodia da
canção.
“If I Had A Tail” é uma das melhores músicas gravadas em
2013, com um clima sexy, jocoso e sujo, também característico da banda. É uma
das faixas campeãs de participação, com colaboração na letra de Alex Turner,
vocais de Mark Lanegan e Nick Oliveri e bateria espancada por Dave Grohl.
Elton John e Dave Grohl participaram do álbum |
A pegada chapada do stoner rock fundado pelo Kyuss nos anos
90 é resgatada e mantida viva no primeiro single “My God Is The Sun”e “Smooth
Sailing” que possui um solo foda e foi feita para ouvir na estrada com no
mínimo uma lata de cerveja a seu alcance.
A segunda corrente de canções do disco possuem melodias mais
densas e melancólicas, porém com beleza ímpar, “The Vampire Of Time And Memory”
que inicia com a frase “Eu quero que Deus venha e leve-me pra casa”; “Kalopsia”
que possui vocais de Trent Reznor e tem algumas alternâncias no andamento; “I
Appear MIssing” e a faixa título “...Like Clockwork” fecham o disco de forma
emocionante, a última uma linda balada repleta de belas melodias vocais.
Há também “Fairweather Friends” que fica num meio termo entre
as duas correntes, pois não chega a ser pop, apesar do piano e vocais de Elton
John, mas também não soa melancólica, apesar da letra ressentida que possui
colaboração de Mark Lanegan. O piano de Elton entrelaçado com a guitarra de
Homme formam outro dos pontos de destaque do disco.
A volta das rainhas da idade da pedra foi potente, talvez não
aquela potência cheia de testosterona dos discos anteriores, mas sim com uma
dose de crise da meia idade de Josh Homme, canalizando todos seus demônios
através de canções que nos levam para diversos lugares de nós mesmos,
característica comum de grandes bandas, como o Queens of the Stone Age, que
dessa vez mostram que continuam chapados, mas começam a encarar de frente os
dilemas da vida adulta.
Trata-se de um trabalho conciso e maduro de uma banda de
estilo único, cujo horizonte criativo parece não possuir limites.
David Oaski
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