Nota: 8,0
Há algum tempo ouvi falar sobre o documentário “Raul – O
Início, O Fim e o Meio”, lançado ano passado, porém só tive oportunidade de
assisti-lo no Youtube pouco tempo atrás.
O filme tem pouco mais de duas horas de duração e conta
através dos parceiros musicais e parceiras afetivas de Raul Seixas, sua
história pessoal e musical.
Como o título sugere vemos desde Raul ainda garoto se
interessando por Elvis Presley e músicos do Nordeste, passando por gravações
precárias do cantor ainda criança, já anunciando sua paixão por rock n’ roll.
Seu visual também era totalmente inspirado no rei do rock, com indumentária
igual e topete impecável.
Sua primeira banda de destaque, como se sabe, foi Raulzito e
os Panteras, que logo ganhou destaque no seu estado natal, a Bahia, após se
transferindo para São Paulo, Raul trabalhou como produtor musical durante algum
tempo, porém na primeira oportunidade que teve gravou seu primeiro disco. Ao
lado de Edy Star, Miriam Batucada e Sérgio Sampaio lançou em 1971: “Sociedade
da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das Dez” que já dava sinais do que
viria a seguir na carreira do baiano.
Porém foi com o lançamento de “Krig-Ha, Bandolo!”, 1973 que o
cara mostraria a que veio, com hits do naipe de “Mosca Na Sopa”, “Metamorfose
Ambulante” e a belíssima “Ouro De Tolo”. Hoje em dia, o álbum é tido como um
dos melhores da história da música brasileira. Fundindo rock com baião, Raul
fez um som original, diferente do que vinha sendo produzido na época.
Com relação à vida pessoal, o filme mostra Raul de verdade,
sem se mostrar chapa branca em nenhum momento, relatando como ele era um cara
extremamente carismático, mas acumulava relações afetivas complexas, que
acabaram por afastá-lo de suas três filhas. As ex-parceiras demonstram muito
carinho e afeto por Raul, mesmo com as relações conturbadas e traições, ele era
um cara gentil e atencioso.
O filme trata também dos conhecidos e contínuos problemas de
Raul com álcool e seu envolvimento com outras drogas, fala também de seu
envolvimento com seitas satânicas que adoravam a obra de Aleister Crowley.
Interessante notar essa parte mais sombria da vida do cantor.
Através dos depoimentos, vemos a evolução da carreira de Raul
até seu auge, passando por famosos parceiros como Jay Vaquer, Cláudio Roberto e
Edy Star, além de depoimentos de Caetano Veloso, Nelson Motta, entre outros e
acompanhamos a reviravolta que se deu em meados dos anos 80, quando Raul
experimentou o gosto amargo de insucessos e o abandono por parte das gravadoras
e televisões, só retornando aos palcos já no fim da vida, bastante debilitado
devido ao alcoolismo ao lado do também baiano Marcelo Nova. Ao lado do novo
parceiro e fã, fez mais de 50 shows, o que levanta uma discussão entre os
entrevistados sobre as reais intenções de Marcelo com Raul, de modo que alguns
o acusaram de explorar a imagem desse em prol de sua turnê e outros
questionaram até se ele teria condições físicas de ter feito aquela turnê. O
fato é que os shows deram uma sobrevida à carreira de Raul.
O filme segue a risca o título e refaz os últimos passos de
Raul no apartamento em que ele faleceu em 1989, com depoimentos de sua
empregada, Marta e do porteiro que ajudou o músico a subir no elevador de tão
debilitado que o mesmo estava.
Apesar de longo, o documentário mostra todas as fases da vida
do Maluco Beleza, passando pela sua vida pessoal e artística, com depoimentos
daqueles que passaram diretamente pela sua vida e fizeram parte de sua
história. Além disso, Raul aparece como um ser humano, com falhas e defeitos, e
não como um herói inatingível como muitas vezes tentamos pintar nossos ídolos.
Vale como registro definitivo da vida e obra deste que foi,
sem dúvida, um dos maiores artistas nascidos na nossa terra.
David Oaski
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