quarta-feira, 8 de agosto de 2012

(RE)NASCIDO - GLORIA




Nota: 6,5

O Glória é uma banda brasileira, formada em São Paulo, no ano de 2002. O grupo se caracteriza desde o princípio por fazer um som mais pesado que as bandas contemporâneas, como NX Zero, Fresno, entre outras, no entanto os rótulos para definir o som do Glória são diversos, já tendo sido mencionado como screamo, metalcore, hardcore, pop, entre outros.

Creio que a definição mais correta seja realmente o metalcore, pois os vocais guturais do vocalista principal Maurício, alternado com os vocais limpos do guitarrista Elliot, unido ao som pesado, rápido e coeso da banda, lembrando muito o Avenged Sevenfold, por exemplo, com a diferença fundamental das letras em português.

Nesse último disco, a banda soa mais pesada do que nunca, se libertando das amarras do controverso produtor Rick Bonadio, mentor do último lançamento da banda, “Gloria”, de 2009, onde a banda soava mais pop, tentando atingir um público maior.

Em (Re) Nascido, lançado em Maio desse ano, o Glória volta com agressividade e melodia na medida certa, com total autonomia na composição e autoria das canções, a banda parece ter encontrado sua identidade, com influência citada de Lamb of God,Trivium e Mastodon, o som da banda amadureceu, com mais harmonia e canções mais fluentes.

O disco abre com “Bicho do Mato” e já dá o tom do que está por vir, ritmo acelerado, gritos e agressividade, harmonizando com os vocais limpos, porém sem amenizar na porrada.

Na sequência vem “É Tudo Meu”, um esporro que poderia ter sido gravado por qualquer uma das bandas do gênero na atualidade. A letra é tão pesada quanto a música com direito a xingamentos, provavelmente direcionados a uma pessoa egoísta que se exime sempre da sua culpa. Detalhe que nessa música há somente os vocais guturais, não dando espaço a voz mais pop de Elliot.

A seguir vem o primeiro single lançado após o lançamento oficial do álbum, “Arte De Fazer Inimigos”, cuja letra é uma parceria improvável com Lucas Silveira, da Fresno (?!). A música é uma das melhores do play, novamente com vocais alternados, sendo os limpos no refrão, com Maurício dizendo que é muito bom em fazer inimigos. Destaque para o baterista Eloy Casagrande, que deixou a banda para tocar no Sepultura, mas gravou todo o álbum. A banda lançou um videoclipe para essa canção que está tendo ótima repercussão na Mtv.

“Presságio” inicia como uma ópera, com um violino, seguido com uma porrada, é uma das mais pesadas do disco e um dos destaques. Possui um refrão marcante e andamento próximo ao hardcore, sempre alinhado ao vocal gritado de Mauricio, dando vez aos vocais limpos no refrão. No final da música, a banda reduz o andamento, o violino retorna para novamente voltar ao hardcore, dessa vez com o violino sobreposto.

“Só Eu Sei?” se destaca pela letra, uma espécie de protesto revoltado contra tudo que se desmorona ao seu redor. Nessa música incomoda um pouco o excesso dos vocais limpos, pelo peso e letra da música, encaixaria melhor a agressividade permanente na música.

“Desalmado” inicia com as guitarras entrelaçadas de Elliot e Peres (guitarra solo), seguindo com vocal gutural, o vocal limpo é diferente, não consegui identificar se é feito por Elliot, mas não parece. A letra fala sobre alguém totalmente desprezível, com um “odeio você” meio infantil repetido a esmo de forma desnecessária.

A faixa 7, “Pétalas”, inicia com alguns acordes de guitarra bem suaves, anunciando o verso gritado por Maurício, seguido no verso seguinte pelos vocais limpos de Elliot. Essa faixa lembra mais o Gloria pop do disco anterior, com maior espaço para os vocais limpos, letra sobre relacionamento e tudo mais. O destaque da música é um bom solo de guitarra executado por Peres.

A faixa título “(Re)Nascido” começa com um ótimo riff que ganha companhia da guitarra base logo na sequencia. Novamente uma canção com pegada hardcore e letra com discurso motivacional, típico das bandas atuais. Outro destaque do disco.

“Grito” segue a linha de outras músicas do disco, soando repetitiva, novamente uma pegada rápida e letra não muito inspirada. Há uma virada, com Maurício gritando, voltando para um último ‘desabafo’.

“Sangue” foi o primeiro single, lançado antes da liberação do disco. Tem um andamento mais aproximado do metal, com a letra seguindo uma temática mais densa. Novamente destaque para o baterista Casagrande espancando seu instrumento com bons riffs de Peres. Outra das melhores faixas do disco.

Fechando o disco, vem “Horizontes”, com um início suave e Maurício fugindo das suas características cantando de forma suave os primeiros versos, para voltar a gritar, anunciando o refrão de Elliot. Possui boas passagens de guitarra e é uma faixa que se diferencia das outras e foi uma ótima escolha para encerrar o álbum.


Ao final da audição, percebe-se que o Gloria não é uma banda genial ou revolucionária, mas tem seu valor no que se propõe a fazer e tem seu mérito no cenário atual do rock nacional. Pois fazer um som agressivo e pesado, com letras em português, com competência não é pra qualquer banda.

Ainda há quem tenha preconceito devido ao visual dos caras, por vezes são tachados de emos, porém como sempre digo o importante é o som e nisso eles estão evoluindo a cada disco.

Confesso que me incomoda o excesso na utilização dos vocais limpos de Elliot, creio que o ponto forte seja realmente a agressividade, além disso, o formato das músicas por vezes ainda soa repetitivo, revezando agressividade, melodia no refrão, um intervalo pras guitarras, uma virada e o ciclo se repete. No entanto, o disco é provavelmente o melhor da carreira dos caras e se você gosta dessa praia do metalcore, com certeza irá curtir o trabalho.

A arte de fazer inimigos do Gloria realmente procede, pois os headbangers acham que eles são posers, enquanto muitos rockers os acham pesados demais, as rádios também. O que eu acho? Que cada um tem que ouvir e tirar suas conclusões, independente de rótulos ou preconceitos.



David Oaski







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