O The Clash é uma banda inglesa formada em 1976 na ascensão
do movimento punk na segunda metade da década de 70, encabeçado por eles e o
Sex Pistols no Reino Unido e pelos Ramones e The Stooges nos Estados Unidos.
A banda, desde seus primeiros registros se caracterizava pelo
visual rebelde e pelas letras politizadas, com mensagens sociais, protestos,
sempre abordando temas relevantes em suas canções. A música em si seguia os
rumos do punk na época, com canções rápidas, sem muitos efeitos ou firulas, cru
e direto ao ponto, porém com uma diferença em relação às bandas contemporâneas,
a influência notável de reggae.
Já no primeiro disco homônimo lançado em 1977, o Clash
demonstrava seu potencial, já lançando canções muito boas, que são tidas como
clássicas até os dias de hoje, como "White Riot”, “I’m so bored with the USA” e “Career
Opportunities”. O disco não foi lançado nos Estados Unidos, porém teve boa
repercussão na Inglaterra e Reino Unido.
O segundo álbum sairia no ano seguinte, 1978, chamado “Give’Em
Enough Rope”, foi o primeiro da banda lançado nos Estados Unidos e também o
primeiro a atingir a lista da Billboard 200, na posição de nº 128. Lançou como singles as canções “Tommy Gun” e “English
Civil War”. O disco mostra a contínua evolução da banda, superando o trauma que
toda banda passa no lançamento do segundo álbum, novamente deixando claras as
influências de ritmos jamaicanos no som da banda.
Porém o melhor ainda estava por vir, em 1979, a banda
lançaria o seu maior clássico e um dos maiores clássicos da história do rock: “London
Calling”. O álbum duplo colocaria o The Clash de vez na história do rock, sendo
um trabalho atemporal, daqueles que você vê uma uniformidade, com grandes
canções, ótimas letras e uma banda talentosa e coesa tomando conta da situação.
Como nos outros discos, a maioria das canções eram feitas em parceria por Joe
Strummer (letras) e Mick Jones (melodias e arranjos), sendo que ambos eram os
grandes egos da banda, com algumas exceções de canções feitas pelo baixista
Paul Simonon. São dezenove faixas, que encantam o ouvinte a cada acorde, há
praticamente todos os ritmos no disco, desde pop, punk, reggae, ska, jazz,
R&B e rockabilly, além de ter músicas que estão inseridas no imaginário pop
pra toda eternidade, tais como a música título, com um riff marcante e uma aura
magnífica; “Clampdown”, com sua letra de protesto questionando o sistema; a pop
“Lost In The Supermarket”, que fala sobre consumismo; e uma espécie de balada
torta “Train in Vain”, clássico. “London Calling” está em dez de dez listas dos
melhores discos da história do rock, sempre nas primeiras vinte posições, de
forma merecidíssima, diga-se de passagem. A capa do álbum merece um destaque
também, uma das melhores da história de rock, com uma foto de Simonon quebrando
uma guitarra e com uma referência explicita da fonte da letra à capa do
primeiro disco de Elvis Presley, de 1956.
Após o álbum consagrado seria difícil a banda se superar,
então resolveu ousar mais ainda nas misturas de influências e experimentalismo,
lançando em 1980, “Sandinista”, onde são 36 músicas, compondo um disco triplo, o
que gerou entreveros entre a banda e sua gravadora, pois a primeira queria que fosse
lançado a preço de um disco simples, porém a quantidade de músicas só prova o
quanto a banda estava prolífica à época. As músicas não possuem muita
uniformidade entre si como no álbum anterior e novamente possui de tudo, de
jazz a reggae, de punk a funk, o disco seria catalogado nos dias de hoje como ‘world
music’. Ainda assim possui grandes clássicos do quilate da sensacional “The
Call Up”, “Police On My Back” e “The Magnificent Seven”. O disco não é tão
lembrado quanto seu antecessor por motivos óbvios, mas tem grande destaque na discografia
do Clash, sendo que dentro daquela miscelânea de sonoridades, pode-se ver muito
do que viria ser tendência nos anos seguintes.
Em 1982, a banda lançaria seu álbum de maior sucesso
comercial até então, “Combat Rock”, puxado por clássicos como “Should I Stay Or
Should I Go” e “Rock The Casbah”, canções que tocam nas rádios até hoje e são
regravadas frequentemente. O disco foi primeiramente produzido por Mick Jones,
porém o trabalho não agradou o restante da banda que chamou outro profissional
para finalizar o disco. A banda descomplicou seu som nesse disco, além de
voltar ao lançamento simples, lançou músicas mais voltadas para influências
jamaicanas e as raízes punk, de modo que garantiu ótimas vendas tanto nos
Estados Unidos e Inglaterra.
Após o lançamento de “Combat Rock” a banda passa por algumas
mudanças, uma delas a demissão do baterista Topper Headon, sendo que a banda
alegou o motivo o uso abusivo de drogas por parte do músico, para o seu lugar
foi chamado o baterista original da banda Terry Chimes, porém o mesmo ficou
pouco tempo devido a constantes conflitos entre os músicos, sendo substituído
por Pete Howard. No entanto, o grande golpe viria a seguir, em 1983, Joe
Strummer e Paul Simonon decidem demitir Mick Jones da banda, devido a
divergências musicais e seu comportamento problemático, esse era
definitivamente o iminente fim da banda, porém num último suspiro, dois
guitarristas são convocados para substituir Jones, Nick Shepperd e Vince White.
Em meio a todas essas turbulências, o Clash lança o que viria
a ser seu último disco, “Cut The Crap” lançado em novembro de 1985. O disco
traz uma banda descaracterizada, com uso abusivo de bateria eletrônica (imposto
pelo empresário e produtor do disco Bernie Rhoades) e sintetizadores, gerando
um som estranho e longe do brilhantismo de seus antecessores. Foi lançado
apenas um single “This Is England” e com o passar do tempo o disco foi
desconsiderado pelos fãs e pela própria banda, sendo que poucas coletâneas
possuem o único single gerado pelo álbum, além de não ser citado na maioria dos
documentários sobre a banda.
A banda encerrou suas atividades oficialmente em 1986, e seus
integrantes seguiram suas carreiras com Jones montando a banda Big Audio
Dynamite, com forte influência de ritmos jamaicanos e relativo sucesso nos anos
80 e hoje faz parte do Gorillaz; Simonon se dedica a artes visuais, além de
também fazer parte do Gorillaz e The Good, The Bad and The Queen; Strummer
lançou algumas bandas, atuou em filmes e faleceu em 2002, vítima de um ataque
cardíaco; e Topper Headon formou uma banda de jazz e em tributo ao The Clash.
Desde que conheci o The Clash me fascinei pela história da
banda, por ser diferente da maioria das outras bandas que atingem sucesso
comercial, principalmente pela ousadia e inquietação de seus integrantes. Ao
lançar “London Calling” eles já tinham seu álbum clássico e poderiam muito bem
tomar o rumo da bundamolice e seguir um
método de trabalho para se manterem na mídia ad infintum, porém não se
contentaram e procuraram sempre se superar a cada trabalho, buscando novas
influências e novas sonoridades, com coragem, acertando e errando, mas nunca se
omitindo da sua veia artística ou se rendendo a imposições de produtores e
gravadoras.
O Clash misturou a porra toda e deu liga, tocou ska, funk,
punk, reggae, R&B, jazz, eletrônico, rap, pop e o que mais pintasse,
simplesmente pelo amor à música, não se contentaram em ser um dos pilares do
movimento punk – e o são - e buscaram cada vez novos rumos para que sua
carreira não ficasse estagnada.
O punk do The Clash foi além das roupas e pose de mal do Sex
Pistols, pois buscou se reinventar a cada disco, focou na música, sendo
influência direta para as gerações que viriam a seguir e mesmo quando derrapou
no seu último disco, errou de pé, com coisas novas e musicalidade que com
algumas alterações viraria moda na década de 80.
Não sou fã número zero da banda e eles sequer estão entre as
minhas cinco bandas favoritas (certamente entre as dez), mas a coragem de músicos
como os do Clash me fazem respeitar demais a história dessa grande banda, cujos
discos e canções ficarão marcados para sempre na história da música.
Se você ainda é daqueles fãs de música bitolados que chamam o
artista de vendido a cada mudança que ocorre na carreira do mesmo, você
certamente ficaria desnorteado a cada lançamento do The Clash, pois poderia
esperar de tudo, menos repetição e conformismo.
PUNK até a alma e não só no marketing, com propriedade de
quem veio do proletariado inglês, esse era o Clash, corajoso, talentoso e
potente, impunham seus instrumentos como armas, evocando todos para o combate
contra um sistema ilusório e injusto que oprimia a jovens que só queriam sonhar
e se divertir.
Procurei a tradução de clash para o português e discordei do
significado encontrado: choque. A meu ver, o mais correto seria atitude.
Obrigado The Clash!
David Oaski
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