O que é humor? Sem ver nenhum conceito pronto, humor é a arte
de fazer rir, ser engraçado, carismático, incomodar e por que não, emocionar.
Os humoristas são, em sua maioria, caras articulados e simpáticos, porém
possuem certa dose de maldade e sarcasmo no bolso, pronto para serem
utilizados.
O humorismo se caracteriza por alguns ‘tipos’, por exemplo,
existe o bobalhão, aquele cara que só de olhar você já ri, como o Mussum;
existe também o ator, que sabe interpretar e transmitir a piada, seja o texto
próprio ou de outro roteirista, como a maioria dos artistas de programas como
Zorra Total e A Praça é Nossa; há também os imitadores, que são figuras que se
caracterizam de forma caricata a um personagem conhecido, de uma forma
descontraída, como o Carioca, do Pânico; e existem também os caras de pau (não
os da Globo), aqueles que fazem piadas de forma cínica, através de comentários
ácidos. Vale lembrar que já tivemos grandes mestres no estilo, como Chico
Anysio, Costinha, Mazzaropi, entre outros.
No Brasil, de uns tempos pra cá, surgiu a discussão sobre o
limite do humor. O motivo principal foi uma piada feita pelo comediante Rafinha
Bastos – então membro da bancada do CQC na Band – sobre a cantora Vanessa
Camargo. Na volta de uma matéria, Marcelo Tas (comandante da bancada) disse que
Vanessa estava uma gracinha grávida, Rafinha de bate pronto respondeu que
comeria ela e o bebê. Minutos após o comentário, explodia na Internet um
vendaval de críticas a Rafinha, pessoas chocadas com o comentário, sendo que
logo em seguida o mesmo foi afastado do programa (pra onde acabaria não
retornando mais).
Bastos se recusou a pedir desculpas, Vanessa entrou com um
processo e o caso ganhou repercussão gigante, e o comediante foi demonizado, pois
além de ser muito popular, ele se caracteriza por piadas com um estilo
agressivo, que muitas vezes ofende seus alvos.
A meu ver, a resposta da questão é não. Não existe limite
para o humor, se for piada, dentro de algum contexto, ele pode falar o que bem
entender, porém deve existir o bom senso por parte do comediante de, na medida
do possível, não ofender o íntimo de ninguém. Por outro lado, também acho
totalmente legítimo que a pessoa que foi alvo da piada se ofenda e procure seus
direitos na justiça. Rafinha foi orgulhoso, poderia ter pedido desculpas e
amenizado um pouco toda essa rejeição que ele acumulou, não lhe custaria nada,
porém por mais escrota que a piada seja, não podemos ser hipócritas e dizer que
esse termo “comia ela e o bebê” não seja utilizado entre amigos, todavia não é
um comentário de bom tom, muito menos para ser emitido em rede nacional.
Desde que surgiu a onda do stand up, que é um humor de cara
limpa, onde um cara (não necessariamente um ator) sobe no palco e narra
situações e circunstâncias rotineiras de forma engraçada, sendo que normalmente
os textos são de autoria própria, essa
febre causou uma perda na qualidade do estilo, pois parece que todo mundo quer
ser comediante, e cansamos de ver gente sem talento nenhum se apresentando,
atirando pra todos os lados pra tentar arrancar um risinho do público.
Atualmente as principais referências do humor são Marcelo
Adnet, Danilo Gentili e Marvio Lúcio, o Carioca, do Pânico. Os três formam o
que há de melhor na comédia atual no Brasil.
Adnet é ator, já fez pontas em alguns filmes, porém sua
carreira deslanchou após entrar na Mtv apresentando o extinto 15 Minutos, lá o
ator se destacou com improvisos, imitações e as mais diversas falas engraçadas,
se aproximando de um estilo non-sense em alguns momentos. Com o surgimento do
Comédia Mtv, Adnet ganhou espaço em esquetes e quadros mais longos e
trabalhados, sendo que sua qualidade é impressionante, pois tem capacidade de
imprimir aos quadros críticas sociais de forma quase imperceptível. Além dos
quadros, Adnet faz paródias de canções famosas, esse talvez seja seu ponto mais
forte, já que seus vídeos na Internet são sucesso absoluto.
Danilo Gentili é publicitário por formação, mas ganhou
destaque como um dos principais nomes do humor stand up, chamando atenção da
Cuatro Cabezas, produtora do CQC que o recrutou para fazer parte do programa.
Lá, Gentili, fez de tudo, provocou políticos em Brasília, foi preso se fazendo
passar por mendigo em uma matéria, tirou onda com famosos, enfim, desfilou
talento e inteligência nas segundas a noite. Desde o ano passado não faz mais
parte do CQC e ganhou um programa próprio o talk show Agora é Tarde, feito nos
moldes do programa de Jô Soares, em que Danilo entrevista figuras públicas de
forma irreverente e abre o programa com textos próprios com muitas sacadas com
relação a temas ultra atuais. O piadas do cara te fazem pensar e seus textos
são de primeiríssima linha. Não a toa, já tem alguns livros lançados.
Já Marvio Lúcio, o Carioca, é radialista de profissão e
participa do Pânico desde o início, tendo migrado da rádio para a Rede TV e se
transferido para a Band recentemente. Carioca é um exímio imitador e consegue
transformar seus personagens em algo caricato, com vida própria, tal como
acontece com Amaury Dumbo (imitação de Amaury Jr.), Jô Suado (Jô Soares) e o
Bóris (Bóris Casoy). Dos três, ele é o que faz o humor mais leve e popular,
porém com muita competência e talento.
Enfim, cada um gosta de um estilo de um humor, porém
particularmente, me agrada mais aquele estilo ácido, que te faz pensar, que põe
o dedo nas feridas da sociedade. De forma sarcástica, é possível fazer nossa
geração atual pensar e isso é fundamental, pois temos nos esquecido que
possuímos esse tal de cérebro dentro da cabeça e que no faz muito bem usá-lo
sem moderação.
Rir realmente anima a vida, e o humor é facilitador deste
processo. Fontes de humor na nossa época não faltam, pois além dos diversos
programas de TV, possuímos também a Internet, com conteúdo gigantesco, com
imagens, textos, montagens e tudo que se possa imaginar. E, creio que com
respeito e com um pouco de bom senso seja possível sim, falar sobre qualquer
assunto, e que as piadas sejam vistas como piadas, com menos hipocrisia,
deixando esse foco sério e puritano para os assuntos que realmente importam
para o desenvolvimento do país, como educação, cidadania, meio ambiente e
política.
David Oaski
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