- Não tem nada de interessante pra se fazer nessa porra de
cidade. – esbravejava constantemente João Lucas.
Todos concordavam. Realmente, o interior de Ignoralândia era
de um marasmo só. A vida da cidade se resumia a um outro mini aglomerado de
velhinhas falando sobre a vida alheia, coroas jogando bocha e dominó, crianças
indo à escola, comércios que duravam anos e a velha rotina que se seguia a
séculos.
A vida noturna existia, mas era tosca. As opções eram
lamentáveis, giravam em torno de sertanejos universitários, pagodes e funks.
Numa ou outra noite bêbado, João e seus amigos acabavam por entrar nesses
recintos, sendo que se arrependiam no mesmo instante.
- Eu não acredito que a gente entrou aqui de novo. Essa é a
última vez cara, eu juro. – dizia João.
- Ah, para de reclamar cara, a gente já tá aqui. Vamos nos
divertir. – respondia um amigo próximo.
Ou seja, além de desconfortável João ainda passava por
resmungão.
João Lucas era fã de rock, mas a balada voltada para esse
público ficava numa cidade vizinha, a uns 20 quilômetros, e, além disso, seus
amigos não eram tão chegados em rock n’ roll, por isso a ida à balada sozinho
se tornava deprimente.
Após muito tempo de trabalho, aos vinte e poucos anos João
conseguiu se mudar pra uma grande metrópole do país. Agora sim, ele sentia como
se tivesse o mundo aos seus pés. Apesar de não ser nenhum galã de cinema, ele
acumulava alguns casos amorosos e relacionamentos e agora isso deveria se
elevar à décima potência.
Porém pouco tempo após a mudança, já devidamente instalado e
adaptado ao ritmo da cidade grande João não se sentia feliz, tampouco
realizado, apesar da grande cidade, das diversas opções de lazer, das
facilidades sexuais, ele não se sentia contente e isso o deixava completamente
frustrado, pois ele havia batalhado e conseguido chegar onde sempre quis estar,
porém não se sentia completo.
João enfim percebeu que ele era o problema e não as muletas
que ele encontrava e, enquanto não se resolvesse consigo mesmo não seria feliz
em lugar nenhum, afinal ele não era um bom lugar. Ele voltou a sua cidade natal
e percebeu o quanto de diversão ele havia deixado passar com seu egoísmo e
falta de tolerância.
João Lucas chegou à conclusão que saber se divertir é uma
arte e finalmente se livrou da tensão que carregava a tanto tempo, gozando de cada
momento deixando a arrogância de lado.
David Oaski
Nenhum comentário:
Postar um comentário