Cavaletes, panfletos, cartazes e bandeiras poluindo as ruas,
sem falar nas musiquinhas toscas em carros andando a 2 km/hora. Esse é o
cenário que temos que enfrentar de dois em dois anos nas nossas cidades. Daí
fico pensando por que os candidatos não gastam tempo e dinheiro (muitas vezes
de origem duvidosa), discutindo projetos de forma sincera e honesta e com
campanhas realmente válidas, que conquistem eleitorado e não atrapalhem e
poluam a cidade.
Alguém dirá: “mas está na lei, eles podem fazer isso.”
Dane-se, o que eles podem e devem fazer, eles não fazem, que são melhoras nas
condições de vida para os cidadãos, oferecendo um sistema de saúde público
digno, segurança, educação, transporte e condições mínimas para que se leve uma
vida decente. São duas situações que chegam a dar náuseas, a primeira é o
inexplicável mistério das obras que surgem em ano de reeleição de políticos que
já ocupam algum cargo; a segunda é o sem número de charlatões que se candidatam
única e exclusivamente interessados em se pendurar na teta do sistema.
Ser eleito no Brasil é o mesmo que passar num concurso
público, ao ganhar o cara pensa, pronto, ganhei a vida. A função que vem se
tornando utópica de um político é nobre, ajudar a população, na infraestrutura
da sociedade, fomentar o Estado ou município com projetos de melhorias, e
principalmente agir de forma digna com respeito ao cidadão que lhe confiou seu
voto.
Por outro lado, também há outro ponto de vista, levando em
consideração o gosto popular atual, é bem capaz que seja esse tipo de campanha
que aguarde a maior camada da população. São paródias de sertanejos
universitários, pagodes mela cueca e afins, além da já citada poluição visual
que todos parecem gostar. O que mais incomoda não é o fato da campanha por si
só, mas sim o fato de atrapalhar a rotina do cidadão comum, que trabalha, paga
impostos e ainda tem que bancar essa palhaçada toda. Ao fazer um retorno numa
avenida, você não consegue visualizar o trânsito, pois tem a foto de um babaca
qualquer no cavalete, você está no transito num momento de folga e tem um carro
de campanha na faixa da esquerda se arrastando com o pisca alerta ligado, você
tá dormindo no fim de semana e passa um carro de campanha no último volume. Revoltante.
Vale ressaltar também a campanha eleitoral na televisão. É
difícil até achar uma definição para o programa eleitoral, macabro é pouco. Além
dos candidatos sem o mínimo de instrução, seguindo o estilo Tiririca de
propaganda, há também os falsos moralistas, os religiosos e os que considero
piores, aqueles que mal conseguem ler o telepronter, tornando a coisa além de
mecânica e artificial, ridícula. Não deve nada a nenhum freak show da tv a
cabo. As raras exceções que são bem instruídas e tem o que falar, parecem
treinadas por algum profissional de marketing, que orienta a melhor frase e o
sorriso forçado combinado com um gesto de mãos. O fato do horário eleitoral ser
obrigatório realmente nos faz questionar a tal da democracia em que vivemos.
Não sou do tipo que fica reclamando dos altos salários dos
políticos, pois eles realmente exercem uma função importante, ao menos em
teoria, porém a punição no caso de corrupção deve ser extremamente rígida e,
infelizmente não é o caso. Deveriam haver alguns filtros para que as pessoas
pudessem se candidatar, e não digo exigência de três idiomas e faculdade, pois isso
não comprova lisura de ninguém, o que poderia haver era uma apresentação prévia
dos projetos, com uma discussão apurada, avaliando se ele é ou não apto a
seguir com a candidatura. Além disso, os próprios partidos deveriam ser menos
brandos e tentar algum mecanismo que tornasse esse circo menos tosco.
As campanhas seguem, as eleições passam e tudo continua do
mesmo jeito. Talvez se votarmos melhor e com um pouco mais de consciência,
possamos mudar um pouco esse panorama em longo prazo. Minha visão pode ser
otimista ou até utópica, mas é ela que me move.
David Oaski
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