Sempre digo que não é preciso necessariamente tocar rock pra
ser rock n’ roll, Johnny Cash é talvez o melhor exemplo disso. ‘O Homem de
Preto’ como ficou conhecido, ficou eternizado na música mundial tocando
country, mas seu estilo de vida junkie lhe confere características pra roqueiro
nenhum botar defeito.
Cash iniciou sua carreira na longínqua década de 1950, tocando
um som influenciado por rock e rockabilly, ganhando destaque e emplacando
alguns sucessos nas paradas musicais. Porém, foi na década seguinte que sua
carreira realmente engrenou, mesmo com seu crescente vício em barbitúricos e
anfetamina atingindo o ápice, tendo o músico experimentado nessa época todas as
drogas possíveis. No entanto, sua criatividade nunca foi abalada pelas
substâncias ilícitas, pelo contrário, lançou bons discos e sempre possuía algum
single bem ranqueado nas paradas.
Em 1964, o cantor lançaria seu álbum de maior repercussão até
então e um dos destaques de sua discografia: “I Walk The Line”, que além da
faixa título, possuía “Hey Porter” e o clássico “Folsom Prison Blues”. Já em 1968, ele lançaria o clássico absoluto,
o ao vivo “At Folsom Prison”, ao vivo numa penitenciária na Califórnia, com
direito a total interação do performer com seu público. Cash se mostra como
sempre muito carismático e muito querido pelos presos. O disco possui uma aura
mágica e possui todos os hits lançados pelo homem de preto até então. Indispensável
em qualquer coleção que se preze, um clássico da música em todos os tempos.
Cash é um dos músicos mais prolíficos de todos os tempos,
tendo lançado um total de mais de cinquenta álbuns em toda sua carreira em
vida, além de lançamentos póstumos com sobras de materiais de estúdio. Como
todo artista, a carreira do músico teve oscilações, incluindo o ponto alto nos
anos 60 e 70, a entressafra nos anos 80, e o retorno ao sucesso nos anos 90 com
a parceria com o produtor Rick Rubin e os últimos lançamentos marcantes no começo
da década de 2000. Seu retorno às paradas na década de 90 marcou a regravação
por parte do cantor de bandas contemporâneas como hits do Soundgarden, Beck,
entre outros, sempre abrilhantando ainda mais as canções.
Além da carreira musical, Johnny também teve um programa de
televisão entre 1969 e 1971, na rede ABC, onde dava espaço a artistas que
viriam a se tornar gigantes da música pop mundial como Neil Young e Bob Dylan.
Atuou também em alguns filmes, na década de 80, tendo sido protagonista em
alguns.
A vida pessoal de Cash foi durante muito tempo conturbada,
oriundo de uma família problemática, nunca digeriu a morte do irmão quando
ambos eram crianças, teve um pai conservador e até violento. Seus problemas com
drogas lhe tornaram um pai cada vez mais ausente e lhe custaram o primeiro
casamento. Essa relação do músico com substâncias ilícitas foi uma constante na
carreira do músico, entre recaídas e sobriedade conseguiu se casar com o amor
de sua vida e companheira até seus últimos dias, June Carter, que também
cantava e o acompanhou em diversas turnês. Sua vida conturbada e seu talento
artístico foram adaptados para o cinema em 2005, no filme Johnny & June,
estrelado por Joaquim Phoenix (Cash) e Reese Whiterspoon (June).
No seu último álbum lançado em vida, “American IV: The Man
Comes Around”, Johnny, diagnosticado com uma doença degenerativa alguns anos
antes, realiza uma espécie de despedida, num álbum introspectivo repleto de
regravações, se destaca “Hurt” do Nine Inch Nails, numa interpretação
emocionante Cash tem seu último registro em videoclipe. Uma despedida tocante
de um dos maiores artistas de todos os tempos.
Tenho descoberto aos poucos a obra de Johnny Cash e me
encantando cada vez mais com a força de suas canções, sua poderosa abordagem e
simplicidade genial de suas melodias, das mais simples às mais densas. Por
muito tempo, pensei ser perda de tempo buscar algo interessante fora do rock,
graças a Deus revi esse conceito e posso curtir obras geniais de artistas como
Cash, James Brown, Prince, Michael Jackson, entre outros.
Além disso, como foi falado, Cash não se consagrou tocando
rock n’ roll, mas foi um artista que expandiu os limites de sua música,
transcendendo o country que ele tocava para algo além, para música boa, de
qualidade e honesta.
Independente do ritmo que executava, Johnny Cash era muito
rock n’ roll e tem todo meu respeito.
David Oaski
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