terça-feira, 11 de setembro de 2012

CLUBE DA LUTA


  Nota 10

Clube da Luta é um livro escrito por Chuck Palahniuk lançado em 1996, considerado um dos clássicos recentes da literatura, talvez a principal referência cultural oriunda do universo literário nos anos 90.

O personagem central e narrador da história não tem seu nome revelado pelo autor, porém vai se apresentando como um cidadão padrão, possui um bom emprego, é executivo numa montadora de veículos e cuida dos recalls, faz relatórios, elabora apresentações e todas as chatices inerentes à vida de um executivo. Ele mora sozinho num apartamento, confortável com mobília e equipamentos de primeira qualidade.

Nosso protagonista vem sofrendo com insônia, é engraçado como ele descreve essa situação, dizendo algumas vezes que a insônia te afasta de tudo, você não parece realmente estar sentindo nada, fica blasé às situações do dia a dia. Indo ao médico, ele solicita remédios que facilitem suas noites de agonia, porém o médico diz que ele precisa de sono normal, e recomenda que ele faça mais exercícios para que durma naturalmente.

Ele descobre um jeito surreal de voltar a dormir bem, passa a frequentar grupos de apoio a diversas doenças, como câncer, parasitas cerebrais, entre outras doenças gravíssimas. Nesses grupos de apoio, de uma maneira completamente torta, ele vê que seus problemas são fichinha perto de quem vê a vida escapar de suas mãos um pouco mais a cada dia. Ele ocupa todos os dias da semana, indo a sessões, compartilhando abraços, ouvindo histórias e se sentindo superior aos outros, de certa forma, por não ter nenhuma doença daquelas que todos se lamentavam. No entanto, tudo muda, quando ele nota que uma mulher vem fazendo a mesma sabatina que ele, todos os dias, todos horários, então ambos sabem que são farsantes, mas aquilo tira a paz do narrador, que a partir do momento que a mulher, Marla Singer, entra em cena, volta a sofrer com a insônia e sente uma vontade incontrolável de desmascarar a impostora, mas sempre se lembra que também é um impostor, então hesita, mas consegue se aproximar dela e combina um esquema de revezamento nos grupos, porém a insônia volta e ele acaba se afastando desse hábito.

Entre essas sessões, surge um personagem, Bob, ele é um ex halterofilista que frequenta o grupo de câncer nos testículos. Numa das sessões, o narrador narra de forma curiosa um abraço de Bob e simpatiza com o grandalhão, que se mostra uma figura carismática.

A grande mudança na vida do personagem central se dá quando ele conhece Tyler Durden, um cara carismático, totalmente seguro e sem crença nenhuma no modelo atual da sociedade. O encontro se dá numa praia nudista e os dois se tornam amigos. Numa das viagens a serviço, ao voltar pra casa, o protagonista descobre que seu apartamento havia explodido, num possível vazamento de gás. Ele então pede para Tyler para ir morar junto com ele durante um tempo, então Tyler fala que topa, com uma condição, que ele bata nele o mais forte que puder, nesse momento ambos vão pra fora do bar onde conversavam e após alguma hesitação começam a trocar socos, logo se forma uma roda e todos incentivam e parecem extasiados de empolgação com o que veem, surgia assim, o clube da luta. O que era uma cena patética protagonizada pelos dois, se tornou uma reunião semanal, que iria crescer de forma assustadora nos próximos eventos.

Enquanto os dois moram juntos, é apresentado mais sobre Tyler, ele produz sabão de forma quase artesanal, realizando todo o processo, rendendo um bom dinheiro ao mesmo. Ele também faz bicos de garçom alguns dias na semana, além de trabalhar num cinema projetando os filmes. Nas duas últimas funções, há particularidades sensacionais, sendo que como garçom ele faz questão de cuspir, passar o pau e avacalhar de alguma forma a comida dos granfinos. Há uma passagem genial em que, durante uma festa na casa de um casal milionário, ele põe um bilhete dizendo que mijou em dos perfumes da coleção da dona da casa, despertando a ira da mesma, que quase se mata. Já no cinema, Tyler antes de trocar o rolo de cada sequencia do filme, põe passagens de filmes pornôs, que passam em milésimos de segundo na grande tela, sendo imperceptível aos expectadores, porém captado de alguma forma pela retina, quem sabe, o que vale é o espírito de devastação dele.

Marla Singer passa a ter um caso com Tyler, o que deixa o narrador bastante irritado, pois além de não suportá-la, os gemidos dos dois transando são potentes. Ele estranha que nunca vê os dois juntos com ele, sempre separados, ou um ou outro e percebe que sabe de tudo o que Tyler sabe, como se soubesse da vida dele por inteiro. Porém Marla é muito problemática, assim como todos os personagens do livro, chegando a ligar para o narrador ameaçando se suicidar, de forma que ele estranha o por quê de contatar ele e não Tyler, mas de qualquer forma ele evita a tragédia.

Paralelo a tudo isso, as reuniões do Clube da Luta ficam cada vez mais intensas, com Tyler sendo o principal líder do grupo, ele era respeitado por todos e muito cultuado. Com o crescimento, surge a necessidade de criar algumas diretrizes para garantir o bom andamento do clube, surgem então as sensacionais sete regras do Clube da Luta, que são as seguintes:


  •           Primeira Regra: Você não fala sobre o Clube da Luta;
  •    Segunda Regra: Você não fala sobre o Clube da Luta;
  •    Terceira Regra: Quando alguém diz ‘para’ ou fica inconsciente (mesmo que esteja fingindo) a luta acaba;
  •   Quarta Regra: Só dois caras por luta;
  •    Quinta Regra: Uma luta por vez;
  •   Sexta Regra: Luta-se descalço e sem camisa;
  •  Sétima Regra: As lutas duram o quanto tiverem que durar;
  •  Oitava Regra: Se é sua primeira noite no Clube da Luta, você TEM que lutar.

A descrição das lutas são sensacionais, com boca no concreto, espancamentos brutais e pessoas saindo completamente arrebentadas de seus combates, porém a procura pelo clube cresce continuamente, rompendo com a primeira e segunda regras. O narrador fica sempre fodido, com um ferimento dentro da bochecha que incomoda bastante, mas já se tornou rotina. No trabalho, ele passa mais tempo cuidando do Clube da Luta do que se concentrando na burocracia chata de sua função, ele redige textos escritos à mão por Tyler e tira cópias, numa dessas vezes seu chefe pega um dos papéis e o questiona de forma brusca, o narrador o ameaça mencionando todos os podres da companhia, o que faz seu chefe recuar e nunca mais questionar nada.

Com a ascensão contínua do Clube da Luta, surge um outro movimento também idealizado e gerido por Tyler, o Projeto Desordem e Destruição que constrói uma espécie de exército especializado em destruir, anarquizar com tudo que fosse possível. Os integrantes do grupo vão morar na casa de Tyler e do narrador, onde cada um exerce uma função específica, leem textos encorajadores a destruir a sociedade. O narrador os trata pela alcunha de macacos espaciais devido a forma mecânica como eles agem. O projeto também possui algumas regras que são as seguintes:


  •    Primeira Regra: Você não faz perguntas;
  •   Segunda Regra: Você não faz perguntas;
  •  Terceira Regra: Sem desculpas;
  •  Quarta Regra: Sem mentiras;
  •   Quinta Regra: Você tem que confiar em Tyler.

Ou seja, essas regras fazem com que Tyler tenha controle total da parada e torne a coisa um pouco perigosa, devido à natureza do projeto. Com o avanço do projeto, surgem alguns ataques a prédios, caixas eletrônicos e até algumas autoridades, o que deixa o narrador preocupado, pois além de ter uma série de caras malucos dentro de sua casa, eles estão cometendo delitos.

Nessa altura, Tyler some e o narrador passa a procura-lo em todos os cantos, onde todos sorriem e lhe tratam como rei pela cidade, devido a sua moral como fundador do Clube da Luta, no entanto ninguém sabe de Tyler. Ao que parece ele passa as instruções do Projeto Desordem e Destruição por telefone e não aparece em nenhum Clube da Luta (que já se expandiu país afora) há algum tempo.

Durante a realização de uma tarefa do Projeto Desordem e Destruição ocorre uma morte, era Bob, o amigo de terapia que agora fazia parte da gangue. Esse fato faz o narrador buscar o cancelamento de tudo, tentando cancelar o Clube da Luta, porém sem efeito, chegando inclusive a ser capturado, ameaçado e ser quase castrado, mas foi liberado intacto.

Atenção: Spoiler, se você ainda não leu o livro e gosta de se surpreender durante a leitura, pare por aqui, caso já tenha lido ou não se importe com a emoção da surpresa, continue.

Numa das andanças a procura de Tyler, o narrador chega a um bar, onde ao ser questionado, o funcionário responde se é algum tipo de brincadeira, pois ele é Tyler Durden, inclusive esteve no bar recentemente. Tal informação é uma reviravolta muito grande na história, já que apesar de alguns indícios, estávamos lidando com dois personagens. Após o momento de atordoamento, o narrador chega a conclusão que devido ao seu estado mental deplorável criou uma outra personalidade, que era diferente dele em alguns sentidos, porém um cara que tinha muito em comum, era justamente o cara que ele precisava conhecer naquele momento entediante da vida, então ele o criou. Na verdade, naquele dia no estacionamento do bar, ele estava se estapeando sozinho, era ele quem tinha um caso com Marla, ele possivelmente havia explodido seu apartamento  e ele era o criador e mentor do Clube da Luta e Projeto Desordem e Destruição, por isso era uma espécie de líder espiritual na cidade. O fato mais curioso é que ele mostra seus documentos de identificação a Marla e seu nome sequer é Tyler Durden, porém seu nome verdadeiro não é revelado.

Ele chega à conclusão que nas noites em que ele achava que estava dormindo, na verdade Tyler assumia o controle e ia aos Clubes da Luta e dava as cartas no Projeto Desordem e Destruição. Ele então pede ajuda a Marla para que o mantenha acordado. Tyler volta a surgir e o ameaça dizendo que se ele tomar remédios pra dormir ou inventar de se amarrar na cama terá represálias.

Tyler planeja implantar bombas caseiras feitas com parafina no Museu Nacional, para morrer como um mártir. Porém, Marla e o grupo de apoio chegam e Tyler some, pois ele é uma alucinação do narrador e não dos outros. Quando o narrador volta ao controle, ele percebe que as bombas não foram acionadas, pois como ele diz as feitas com parafina sempre falham. Então o narrador toma uma decisão por conta própria, atira contra si próprio, visando matar Tyler.
No final, ele aparece supostamente num hospital psicológico, pensando estar no paraíso, onde Deus veste um jaleco branco e tudo mais. Nas últimas frases do livro, todos ao seu redor na clínica o parabenizam e dizem que continua tudo certo com Projeto e que a destruição do mundo irá continuar.


Considerações Finais

Lembro de ter visto o filme dirigido por David Fincher ainda criança, pré adolescente e ter ficado fascinado com a forma direta como a história era contada e com a reviravolta no final. Sem contar com as atuações brilhantes de Brad Pitt (Tyler), Edward Norton (Narrador) e Helena Bonham Carter (Marla). Até hoje é um dos meus filmes preferidos, fácil.

Voltei a me interessar por literatura há uns dois anos e então vi que o filme era uma adaptação de um livro, logo quis comprar o mesmo, porém vi que a edição nacional estava esgotada nas grandes redes e o valor nas sebos era muito alto. Quando vi a notícia de que o livro seria relançado pela Editora Leya, fiquei muito feliz e assim que pude, comprei meu exemplar.

O livro é curto, mas a história é sensacional, Chuck Palahniuk é um monstro escrevendo, o texto é ágil, violento e te transporta para aquele universo surreal, além de ter umas frases de impacto sensacionais, que fogem totalmente do bundamolismo atual das redes sociais.

Interessante também é o posfácio dessa edição, em que o autor explica como criou a história, de forma despretensiosa numa tarde entediante no escritório. A ideia surgiu após ele voltar de férias com um ferimento no rosto adquirido numa briga e ninguém sequer ter perguntado o que houve, ou seja, na sua vida pessoal você pode fazer o que bem entender, ninguém liga, desde que você produza. Além disso, até o interesse da adaptação para o cinema, a repercussão do livro era menor, com críticas negativas e enxergando coisas estapafúrdias na história. Porém ele descreve todo crescimento do Clube da Luta como ícone da cultura pop até os dias atuais.

Clube da Luta não é o livro com história mais criativa e genial que já li, mas é o meu favorito até então. Fez muito minha cabeça e é muito meu estilo de leitura.

Se você, como eu, curte a escrita mais direta, até informal certas horas, com certeza você vai se amarrar e só desprender quando encerrar a leitura.

Ainda há quem diga que não lê porque não há nada de interessante na literatura, realmente é de dar pena.

Uma honra ter lido, ou melhor vivido por um período, esse livro.


TYLER VIVE!



David Oaski




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