MPB, sigla que define a música popular brasileira, rótulo
difícil de ser identificado, devido ao significado amplo de popular, sendo que
podemos definir tudo que toca no rádio e enche os estádios e festivais como
popular, porém, existe também o rótulo Pop, usado para identificar bandas com
som mais moderno e aproximado do rock. Por exemplo, tanto Skank, quanto Maria
Gadú são populares, vendem discos e se apresentam nos principais festivais do
país, mas o Skank se encaixa na prateleira do Pop e a Gadú, na da MPB. Bom, é
difícil explicar conceitualmente, mas sabemos diferenciar quando ouvimos.
O termo surgiu na década de 1960, num momento de declínio da
Bossa Nova, e foi popularizada através dos festivais de música, que eram
transmitidos em rede nacional e tinham grande popularidade. Nomes como Gilberto
Gil, Chico Buarque, Caetano Velloso e Elis Regina se tornaram febre entre o
público e ganharam status de astros desde então, com melodias e letras que
abordavam os mais diversos temas, como relacionamentos e problemas sociais,
sempre com melodias acessíveis e palatáveis para o grande público.
O rock n’ roll já existia desde a década anterior (anos 50),
alcançando popularidade através de Elvis Presley, Chuck Berry e Little Richard,
e nos anos 60, começavam a surgir principalmente Beatles e Rolling Stones. No
entanto, na época o som um pouco mais pesado não era bem visto pela sociedade,
sendo que só as pessoas com mais poderio aquisitivo e conhecimento cultural
privilegiado consumiam o rock.
Durante o período da ditadura (1964-1985), a MPB teve papel
importante na luta contra a censura e manifestações contra o sistema político.
Artistas como Geraldo Vandré, com “Pra não dizer que não falei das flores”,
procuravam formas cifradas de passarem suas mensagens sem serem barrados pela
censura. Outros como Gilberto Gil e Caetano Velloso, chegaram a ser
sequestrados pelo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), porém
liberados em seguida e exilados. Além destes, vários outros artistas se
envolveram em manifestações em busca da liberdade do país e pela livre
expressão através de sua arte. Com o fim da ditadura, em 1985, os artistas
puderam finalmente seguir suas carreiras de forma correta, porém sempre com o
ranço desse passado de lutas.
Nos dias de hoje, a MPB, na sua maioria, sofre de um
‘bundamolismo’ generalizado, tendo virado música de barzinho, com artistas
pretensiosos, que se acham a reencarnação de Bob Dylan, mas só sabem fazer
barulhos estranhos, tentando reproduzir sons de instrumentos entre a letra da
canção. Em contraponto, há artistas muito interessantes como Lenine, Paulinho
Moska, Zeca Baleiro, Arnaldo Antunes, Céu, entre outros.
Quando se fala em MPB, quem ouve rock costuma torcer o nariz
e fazer bico, o que pra qualquer um que tenha o antigo hábito de usar os
neurônios é uma tremenda bobagem, já que há espaço pra tudo. No meu entender,
não é porque ouço Metallica que não posso ouvir Jorge Ben, ou porque ouço
Beatles, que não posso ouvir Tim Maia ou algo do tipo. Música boa, é música boa
e ponto final, pode ser forró, rock, mpb, samba, se te tocou de alguma forma e
você curte, é tudo que importa.
Alguns artistas da MPB podiam facilmente ser incluídos no
status de astro do rock, pois tiveram em determinados momentos mais atitude
rock n’ roll que muitas bandas coxinhas durante toda uma carreira. Por exemplo,
Caetano Velloso, ainda jovem com seus cachos, vestido de forma andrógina,
cantando sobre a liberdade; Chico Buarque, com suas letras brilhantes,
identificando cada poro da sociedade; os Novos Baianos, com seu swing moderno
capaz de conquistar qualquer um através do tempo; toda a sagacidade dos Secos e
Molhados à sua época; a sensualidade da voz de Luiz Melodia; todo o ritmo do
Tim Maia; o balanço sem igual do Jorge Ben; entre tantos outros. Certamente são
artistas inovadores que foram criativos e tiveram personalidade suficiente para
quebrar padrões, questionar valores e se exporem ao ponto de arriscar suas
carreiras e, em alguns casos, até mesmo suas vidas, em diferentes épocas do
nosso país, na luta por um país livre, longe da repressão. Quer exemplo de
atitude mais rock n’ roll que esse?
Se levarmos em conta o rock nacional propagado pela mídia
atualmente com a MPB, notamos claramente vantagens para o segundo estilo, basta
verificar uma letra do Zeca Baleiro e do NX Zero ou do Lenine e do Fresno para
ver qual das duas é mais transgressora e remete à ideologia trazida pelo rock.
Afirmo firmemente que a MPB tem, em vários momentos, muito de
rock n’ roll, não só no ritmo ou no andamento das músicas, mas também na
ideologia, na postura, nas letras e se analisarmos somente nosso rock nacional
perante à MPB, talvez o segundo estilo tenha sido mais transgressor que o
primeiro.
Por isso, ponho no mesmo panteão da música nacional, Titãs,
Legião Urbana, Barão Vermelho, Raimundos, Raul Seixas, Caetano Velloso, Chico
Buarque, Gilberto Gil, entre outros, sem distinção do estilo que cada um
representa, mas sim com respeito ao que cada um representa no cenário cultural
nacional.
David Oaski
Nenhum comentário:
Postar um comentário