De tempos em tempos, surge esse papo de que o rock acabou, que não tem mais relevância ou que o estilo precisa ser salvo. Porém, quem ouve rock e tem um mínimo de interesse cultural sabe que isso não é verdade.
O que pode
ser argumentado e, aí sim, de forma correta, é que o rock n’ roll não tem mais
o espaço que teve em outras épocas nas rádios e tvs, mas isso não quer dizer
que o estilo dependa disso para viver. O rock pode não ter a força das décadas
passadas, mas com certeza ainda gera milhões em renda em todo o mundo. Não são
poucos os festivais que ocorrem na Europa, América do Norte e, mais
recentemente, América do Sul. Lolapalooza, Ozzfest, Coachella, SWU e Rock in
Rio são alguns dos festivais que sempre dão enorme espaço ao rock n’ roll
muitas vezes com bandas recentes e promissoras.
Já a venda
de discos caiu, isso faz parte de uma nova realidade fonográfica e dificilmente
irá mudar, a forma de consumo de música mudou e temos que nos acostumar com
isso, todavia essa mudança não deve ser encarada como uma maneira supérflua de
se ouvir música, deve-se ter discernimento do que é lixo comercial e o que
realmente tem qualidade. Claro, cada um tem o direito de ouvir o que bem
entender, mas se as rádios, tvs, internet, gravadoras e o sistema musical como
um todo se manterem com essa linha de lançar o que ‘faz sucesso’, teremos que
aturar os sertanejos universitários e pagodes por muito tempo.
Por outro
lado, creio também que haja uma desconfiança por parte do público rocker mais
conservador. Para muitos, parece ser inconcebível que algo lançado após a
década de 1970 pode ter qualidade. Isso prejudica e prejudicou muito o estilo,
já que o cara não tem a capacidade de curtir um som, independente de rótulos,
público ou época que foi lançado. Essa cultura deve mudar.
Mesmo com
todas essas ressalvas, existem grandes bandas formadas recentemente, lançando
trabalhos dignos de relevância, sendo que alguns podem tranquilamente adentrar
o mesmo panteão dos clássicos do rock.
Abaixo
algumas bandas da atual geração que lançam trabalhos constantemente merecem
atenção:
Queens of the Stone Age
Banda norte
americana liderada por Josh Homme (ex Kyuss), formada em 1997 e ajudou a
popularizar um estilo que viria se chamar stoner rock, vertente que se
caracteriza por melodias densas e riffs poderosos, muito influenciado pela
psicodelia e bandas de hard rock dos anos 70.
O grupo já lançou
cinco álbuns, se caracterizando pela criatividade oriunda do líder da banda
Josh Homme, que se reinventa a cada disco. Alcançaram grande sucesso após o
aclamado “Songs for the Deaf”, de 2002, que possui grandes canções, como “Go
With the Flow” e “No One Knows”. Vale lembrar que neste disco a banda contou
com a participação especial de Dave Grohl (Foo Fighters e ex Nirvana) na
bateria.
A banda é
figurinha carimbada entre todos os festivais e segue lançando ótimos discos. Se
tivesse surgido em outra época, certamente já seria um clássico do rock, mas
como é uma banda recente é comumente subestimada. Se não conhece, ouça todos os
discos, sem moderação e veja (ouça) o que está perdendo.
System of a
Down
Banda
oriunda dos Estados Unidos, formada por integrantes com descendência armênia,
em 1992. Rotineiramente, a banda é rotulada como sendo new metal, gênero
popularizado pelo Korn e Limp Bizkit em meados dos anos 90. Porém, o som do
grupo é influenciado por um caldeirão de sons, indo desde heavy metal a música
popular da Armênia.
Se
caracterizam por ter um som pesado, mas com muita melodia, sempre muito bem
executado, com uma banda entrosadíssima. Além disso, as letras sempre tem forte
apelo político e cunho social, em tom de protesto.
Seu disco de
2001, Toxicity, pode ser considerado um clássico do rock recente, recheado de
hits, como a faixa título, “Chop Suey” e “Aerials”. Seus outros discos também
contem belas canções.
Atualmente,
a banda se encontra num hiato de lançamentos, porém segue se apresentando mundo
afora, como em uma apresentação memorável no Rock in Rio ano passado (2011),
ofuscando o remendado Guns n’ Roses que estava escalado para fechar a noite.
The Strokes
Banda norte
americana de indie rock, formada em 1998, possui quatro álbuns lançados até o
momento e já influenciou toda uma geração desde seu primeiro lançamento, o
ótimo “Is This It”, de 2001. Bandas como Arctic Monkeys, The Vaccines, Bloc
Party, entre outras só vieram a cena devido ao sucesso do quinteto americano.
O grupo se
caracterizou por desde o início terem forte influência de sons tidos como
alternativos dos anos 70, como Television, Velvet Underground, entre outros,
além de Nirvana, Ramones e Beatles. Sendo que a cada lançamento fica mais
evidente a mistura de influências, já que cada disco possui uma característica
e soa de forma peculiar, atitude corajosa para uma banda nova.
Os caras já
podem ser tidos como um clássico moderno da música mundial.
Muse
O Muse é um
trio inglês, formado em 1994, que alcançou grande sucesso a partir de seu
quarto disco de estúdio “Black Holes and Revelations”, lançado em 2006, que
possuía o hit “Supermassive Black Hole”, e em 2009, lançaram o excelente “The
Resistance”, com hits como “Uprising” e “Undisclosed Desires”.
A banda se
caracteriza pela ótima técnica dos músicos, que fundem música clássica às suas
composições, com evidência influência do Queen e de música clássica, além de um
toque de música progressiva, tudo isso, óbvio, sem perder a pegada rock n’
roll.
O grupo é
possivelmente o mais criativo de sua geração e está no auge, tocando em vários
festivais e deve pintar em breve num dos festivais brasileiros.
O Muse
transpira talento e inspiração a flor da pele.
The Killers
Ótima banda
norte americana oriunda de Las Vegas, formada em 2002. Lançou em 2004, seu
disco de estréia o bom “Hot Fuss”, que possuía as dançantes “Somebody Told Me”
e “Mr. Brightside” que foram sucessos radiofônicos. Em 2006, mostraram
amadurecimento com o lançamento de “Sam’s Town”, que continha os hits “Bones” e
“When You Were Young”. Já em 2008, lançaram “Day & Age”, se consolidando
entre as grandes bandas do mundo.
A banda tem
um som caracterizado pelo uso de sintetizadores e teclados, remetendo a musica
pop dos anos 80 em alguns momentos, porém com belas melodias, tendo em outros
momentos influência de Joy Division, banda cujo eles já gravaram uma cover, “Shadowplay”.
O som deles
é muito interessante e diversificado, cai bem em qualquer momento. Vale a pena
conferir.
Mastodon
Banda de
heavy metal, com fortes influências de progressivo e stoner rock, formada em
1999, nos Estados Unidos.
O Mastodon
possui seis álbuns de estúdio, sendo que somente no mais recente, “The Hunter”,
de 2011, conseguiu atingir um som mais acessível, menos ‘cabeçudo’, com toques
de Metallica e influência clara de stoner. Porém após ouvir o último disco, é
possível se debruçar diante de toda a obra da banda e desvendá-la com o devido
interesse.
Três dos
quatro músicos, são vocalistas, o que dá uma cara diferente entre as canções.
A banda se
encontra no auge e tocou na noite do metal do Rock in Rio Lisboa em 2012. Se
você gosta de peso, o Mastodon é mais do que recomendado.
The Black
Keys
Dupla de
blues-rock, composta somente por guitarra e bateria, formada nos Estados
Unidos, em 2001.
É talvez a
banda mais elogiada no momento no cenário do rock mundial, tendo ótima
repercussão com seu dois últimos lançamentos, os ótimos “Brothers”e “El Camino”,
de 2010 e 2011, respectivamente.
Com fortes
influências de rock clássico e blues, a banda conquista cada vez mais novos fãs
com seu som honesto e consistente. Além de ter fãs ilustres no meio musical,
que sempre declaram seu apreço pela duo americano.
Jack White
Um dos
músicos mais talentosos da atualidade, Jack White nascido nos Estados Unidos,
em 1975 (36 anos), possui forte influência de blues, além de ter um vasto
conhecimento musical, fato que é possível notar devido ao resgate de uma sonoridade
clássica por parte do músico.
Ele acaba de
lançar seu primeiro disco solo, “Blunderbuss”, muito aclamado e possivelmente
presente em todas as listas de melhores do ano, o cantor acerta mãe em todas as
músicas, mesclando de forma brilhante, música pop, blues, rock clássico, com
muito swing e personalidade.
É muito
conhecido também pelos ótimos trabalhos realizados com o White Stripes e
Raconteurs.
Referência
para geração esse rapaz, se não conhece, cai dentro da obra dele, pois vale a
pena.
Foxy Shazam
Ótima banda
americana, formada em 2004 e, pouco conhecida no Brasil, porém já possui quatro
discos de estúdio, com destaque para o último, lançado este ano, “The Church of
Rock and Roll”.
As canções
da banda possuem um estilo mais teatral, remetendo em alguns momentos a Elton
John ou a dance music dos anos 70, porém com uma pegada enérgica, lembram em
outros momentos o The Killers, mas com muita personalidade fazem um som
próprio, que vale a pena conferir.
Volbeat
Banda
dinamarquesa, formada em 2000, com sonoridade mesclada, envolvendo heavy metal,
rockabilly, hardcore e rock clássico. Possuem quatro discos lançados desde
2005, com destaque para “Beyond Hell / Above Heaven”, lançado em 2010, com uma
sonoridade variando entre peso e melodia, sendo um som próprio e muito
original.
Além das
bandas citadas, existe mais uma dezena de outras tão competentes quanto, tais
como: a australiana Wolfmother; as americanas Rev Theory e Hinder; as suecas
The Hives e Backyard Babies; os norte irlandeses do The Answer; entre outros.
Deixando
claro que a intenção do post é mostrar que apesar de toda sujeira espalhada
pelas rádios e o que restou dos canais de clipes, ainda existem grandes bandas
fazendo ótimas canções e lançando ótimos discos. A principal mudança de uns
anos pra cá, é que não dá mais pra ficar esperando os veículos da mídia te
apresentarem nada de novo, já que raramente mostram algo de relevante, por isso
creio que o melhor caminho para exploração seja a internet, através de blogs,
redes sociais, sites especializados, etc.
E pare de
falar igual papagaio que o rock acabou ou que bom eram os Beatles e o Led
Zeppelin, todo mundo sabe que eles eram bons, eram excelentes, mas o mundo
segue rodando e, existem coisas excelentes sendo produzidas nesse exato
momento, se você pode ouvir centenas de bandas boas, por que ouvir somente duas
ou três?
David Oaski
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