Sempre que surge uma discussão mais áspera sobre religião,
alguém encerra qualquer tipo de argumento com a célebre frase: “Religião não se
discute”. Será mesmo?
Sou totalmente a favor de cada um manifestar sua fé da forma
que quiser, crer ou não crer no que quiser e seguir qualquer tipo de dogma,
crença ou religião. Pouco importa se você é ateu, cristão, católico, espírita,
desde que saiba respeitar e conviver com o espaço do outro, sem problemas.
O problema é quando a religião foge do âmbito dos seus e
passa a atingir a sociedade de um modo geral. Por exemplo, sabemos que muitos
religiosos se fecham entre seus pares, num esquema parecido com a maçonaria, em
que só se relacionam e interagem com pessoas da sua igreja ou religião. Isso
até poderia ser interessante, mas fico pensando o quanto esse favorecimento não
está tirando oportunidades de outros que estão à margem da religião na
sociedade.
Outro fator, esse mais importante, é o fato dos partidos
políticos voltados aos religiosos. Sei que a constituição permite o surgimento
desses partidos, mas considero muito preocupante quando se fala em bancada
evangélica no congresso, por exemplo, sempre lembrando que o estado é laico e
não deve nada a religião nenhuma.
Quando aceitamos esse argumento de que religião não se
discute, estamos dando espaço para que o Estado seja invadido por dogmas de
determinados representantes que esquecem do princípio laico da coisa.
Sei que essa é uma discussão complexa, pois os políticos e
autoridades religiosos estão nesses cargos por voto do povo, mas creio que deva
ser considerada a implementação de algum mecanismo capaz de avaliar se o cara
está ali apenas para fortalecer sua classe ou está em busca do bem comum do
Estado. Deixo aqui bem claro que esse mecanismo deve ser utilizado para todos
representantes, não só religiosos, mas médicos, palhaços e todas outras classes
possíveis.
Enfim, creio que religião como busca por auto conhecimento,
paz e contato com o divino realmente não se discute, cada um tem a sua, porém
quando essas preferências passam a influenciar a sociedade de um modo geral,
devemos discutir sim, senão cada vez mais veremos caras do naipe do Marco
Feliciano em cargos importantes do país.
David Oaski
Ótimo texto.
ResponderExcluirApesar de eu seguir religião nenhuma, não descrimino quem tem lá suas crenças, nem discuto quando a questão é escolha pessoal, mas penso que religião na política, nos tribunais (jurar a verdade sobre a Bíblia, por exemplo, ou manter símbolos cristãos - crucifixos - nas salas de júri) e nas escolas (minha filha recebeu uma bíblia dentro da sala de aula, mesmo não existindo mais aulas de "Educação religiosa") é algo que DEVE ser revisto no Brasil.
Um abraço, David.
Valeu Eni. É justamente essa a questão. Se o Estado é laico, seus princípios devem ser respeitados e claro, individualmente cada um tem o direito de crer no que quiser.
ResponderExcluirObrigado pela visita e pelo comentário.
Abraço!