terça-feira, 29 de janeiro de 2013

OS LETRISTAS BRASILEIROS



Sempre vejo os críticos numa babação deslavada a caras como Bob Dylan, Neil Young e Bruce Springsteen, exaltando-os como os melhores letristas da música e tudo o mais. Realmente os caras são muito bons, até porque acho que na música cantada em inglês de um modo geral há pouco esforço por parte dos compositores em elaborar letras mais trabalhadas, de modo que esses caras juntos à dupla Bono / The Edge, Michael Stype, Leonard Cohen, David Bowie, entre alguns outros estão realmente acima da média na música pop, porém acho que os letristas de outros países fora do eixo Inglaterra / Estados Unidos também tem muita importância, tanto quanto estes figurões.

O poeta do samba Cartola

Quando ouço uma música do Bob Dylan, sempre penso: “Genial, mas tanto quanto um Cartola, por exemplo”. Não posso falar por outros países que não conheço a música, até mesmo a música dos nossos países vizinhos confesso não ser grande conhecedor, mas acho muita pretensão achar que o mundo gira em torno dos americanos e britânicos.

Os dois poetas do rock nacional
Enquanto por um lado a crítica musical brasileira lambe as bolas do Bob Dylan, desce a lenha em caras como Renato Russo e Cazuza. Não sei se por achar que nada que é do gosto popular, fora do seu mundinho hipster indie pode ser digno de respeito, os caras não conseguem enxergar que eles foram dois dos grandes letristas da música brasileira e, por que não, mundial. Afinal, quantas vezes você ouviu algo parecido com “Faroeste Caboclo”, uma historia com início, meio e fim, praticamente o roteiro de um longa metragem, todo rimado, não é pouca coisa. Além dessa, foram diversas outras composições geniais como “Índios”, “Perfeição”, “Dezesseis”, entre muitas outras.

Já Cazuza juntava poesia, rock n’ roll e linguagem das ruas como poucos. Cantou sobre suas experiências com paixão e escárnio e sem nenhum pudor, além de acumular parceiros tão brilhantes quanto ele no decorrer da carreira.

Chico Buarque - Bom moço? Nem tanto!
Ainda no rock, temos nomes como Raul Seixas, Arnaldo Antunes, Herbert Vianna, Lobão, Paulo Ricardo, entre outros que fizeram letras excelentes no decorrer da carreira, ora transmitindo mensagens políticas, ora com uma dose de lirismo e até abusando da picardia da música pop, mas sempre denotando qualidade e coerência com o que está sendo cantado.

Saindo do rock então a lista é extensa, temos os representantes da tropicália, Caetano Veloso e Gilberto Gil que compuseram “Alegria, Alegria” e “Domingo no Parque”, respectivamente; Chico Buarque, que apesar da pose de bom moço transmitia diversas mensagens cifradas contra ditadura em suas letras; Gozaguinha que tinha um refinamento único pra falar tanto de amor, quanto das mazelas da nossa sociedade; a poesia visceral de Cartola; entre muitos outros.
Gonzaguinha e suas letras refinadas

Não tenho muita moral pra falar sobre valorização da cultura gringa, porque amo o cinema de Hollywood, a literatura estrangeira e confesso ouvir mais música internacional do que nacional, mas nesse aspecto, o dos letristas, somos privilegiados e deveríamos valorizar mais nossos artistas, sem desmerecer os gringos, mas sabendo o devido lugar de cada um, sem endeusar um, nem diminuir o outro.

A verdade é que Bob Dylan não é o melhor letrista do mundo, é um dos muitos acima da média e a meu ver crítico musical tem que saber analisar todo um contexto, ao invés de sobrepor seu gosto pessoal como verdade absoluta.



 

Vídeo de "Comportamento Geral", de Gonzaguinha, feita na época para a ditadura, mas ainda  soa extremamente atual. Uma das grandes letras da música brasileira.



David Oaski

3 comentários:

  1. Verdade, tenho certeza que muita gente, assim como, não tinha feita uma análise comparativa da qualidade dos letristas nacionais serem iguais ou melhores que os grandes medalhões da composição internacional.
    Reconhecimento e valorização é a chave para fortalecer a cena rock n" roll e a música popular do Brasil.

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  2. Besteira, nenhum deles se compara a Lorenz Hart, o pequeno-gigante das letras. O cara era um gênio: inventivo, revolucionário, provocador, conhecedor profundo da língua inglesa. Choradeira de colonizados.

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  3. Besteira, nenhum deles se compara a Lorenz Hart, o pequeno-gigante das letras. O cara era um gênio: inventivo, revolucionário, provocador, conhecedor profundo da língua inglesa. Choradeira de colonizados.

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