Nota: 7,5
A banda britânica Muse lançou a pouco mais de um mês seu mais
recente álbum, “The 2nd Law”, que traz de volta suas principais
características, o clima de ópera misturado com rock alternativo, com preciosas
melodias de guitarra, apoiadas em teclados e muitas vezes por orquestras que
dão um tom grandioso ao som da banda. Porém, nesse lançamento somam-se a esses
traços já conhecidos da banda, o maior uso de referências eletrônicas, como o
dubstep, recurso cada vez mais utilizado por artistas da música pop.
Esse é o sexto álbum da banda, formada em 1994, que tem na
sua formação principal Matthew Bellamy nos vocais, guitarra, piano e
sintetizadores; Christopher Wolstenholme no baixo e backing vocals; e Dominic
Howard na bateria, percussão e sintetizadores. Após atingir sucesso mundial com
seu quarto álbum, “Black Holes and Revelations”, de 2006 e aumentado ainda mais
seu prestígio com “The Resistance”, de 2009, a banda volta sem se acomodar com
um disco que foge do marasmo.
O disco abre com o Muse de sempre em “Supremacy”, estão lá os
timbres pesados da guitarra de Matt, a orquestra ora pesada, ora suave ao
fundo, a bateria anunciando uma espécie de marcha fúnebre (ou militar?) e os
vocais traçando os caminhos que a melodia seguirá. A música tem algumas fases,
como já foi dito, inicia suave, encorpa no refrão, volta a suavizar, depois
vira quase uma algo como um heavy metal progressivo, com Matt cantando de forma
agressiva, a música possui uma variação contínua de peso e melodia.
Em seguida vem o single “Madness”, anunciando o uso do dubstep
e influências eletrônicas, com sintetizadores marcando o andamento da música.
Matt canta de uma forma mais sensual, possui um solo pequeno, mas muito
esperto, demonstrando todo talento do líder da banda. A música vai aumentando,
mas sempre ressoando como um remix, no bom sentido da coisa. A letra é um
devaneio malicioso sobre relacionamento.
“Panic Station” é minha preferida até aqui. É um funk metal!
Por incrível que pareça, o Muse faz um som a la Faith no More ou dos melhores
momentos do Red Hot Chili Peppers. A música é sensacional, certamente uma das
melhores do ano. É suingada, possui sintetizadores, vocais incríveis, dando o
tom que a melodia pede, com direito a um solo que Tom Morello assinaria
embaixo. Faixa surpreendente que abre ainda mais o leque que abrange a
variedade de composições do trio.
A quarta faixa é “Prelude”, um tema instrumental, com um coro
ao fundo num dado momento, que anuncia a primeira música do novo disco lançado
pela banda “Survival”, que acabou se tornando tema das olímpiadas e inicia com
teclados, anunciando uma interpretação poderosa de Matt. A música soa como uma
“We Will Rock You” do novo milênio, de forma meio pretensiosa talvez, mas se
aplica muito bem a competições, devido a sua letra com frase do naipe de: “Eu
vou vencer”, “Não vou desistir” e “Eu escolho sobreviver”. Quanto à melodia, é
grandiosa como sempre, com coros, um bom solo, daí a escolha para ser tema dos
jogos.
“Follow Me” é mais pop e lembra o The Killers, com
sintetizadores dando camadas à canção. Já “Animals” tem uma melodia estranha,
densa, com uma eventual guitarra abrilhantando a canção. Possui uma ótima letra
que questiona o sistema atual. Na melodia, assim como em todas as músicas do
grupo, parece que há duzentos músicos tocando, porém muitas vezes não passam
dos três integrantes e dois ou três músicos de apoio. É outro dos destaques do
disco. Já “Explorers” é outro dos pontos altos do disco. Inicia com uma cantiga
de ninar, porém com letra angustiante, possui uma longa primeira parte, na
segunda aumenta um pouco o andamento, porém de forma suave. Uma semi balada e
acima de tudo uma linda canção.
A melodia da guitarra de “Big Freeze” poderia ter sido
composta por The Edge, do U2, banda que cujo trio é comumente comparado, até
como sucessor dos dinossauros irlandeses. A música é grudenta e ótima, com uma
levada pop anos oitenta e um frescor agradável, numa letra otimista, como as de
Bono Vox. Possui novamente um ótimo solo de guitarra.
Outra novidade é Christopher cantando “Save Me” e “Liquid
State”, sendo a primeira uma melodia pop que não chega a empolgar e a segunda soa
como alguma canção do Radiohead, com uma melodia acelerada e Chris cantando de
forma urgente suas angústias.
O disco encerra com as duas faixas que dão nome ao álbum “The
2nd Law: Unsustainable” e “The 2nd Law: Isolated System” e ambas falam sobre a
segunda lei da termodinâmica, que fala sobre a irreversibilidade de um sistema,
transferindo esse conceito para a nossa a sociedade atual, eles fazem uma
espécie de trilha de ficção científica, quase sem vocais, com trechos falados
por uma voz feminina, outros por vozes masculinas a até uma voz robótica na
primeira. Uma obra complexa, típica dos álbuns da banda.
O disco possui de tudo que a banda faz de melhor, desde
influências de Queen, passando por Stevie Wonder, Radiohead, Rage Against The
Machine, entre outros. Está tudo ali, num caldeirão que torna todas essas
referências algo original e que pode ser reconhecido de longe, pois é um som
com identidade, a banda impõe sua marca em cada composição. O trio consegue ser
pop sem parecer apelativo, consegue ser grandioso sem soar prepotente (na
maioria das vezes) e o mais importante, consegue compor e produzir grandes
canções que fogem do marasmo que parece ter dominado a música pop em alguns
momentos.
Turnê de divulgação do disco
Após um dos lançamentos mais aguardados do ano, o Muse segue
como uma das grandes esperanças da música pop mundial, sendo um dos únicos
representantes da nova geração com potencial para lotar festivais e assumir a
responsabilidade de tocar em estádios. Chegou a hora de provar se estão ou não
prontos para seguirem o caminho das bandas veteranas que seguem carregando
multidões por onde passam, como o U2 e o Depeche Mode. Ao ser questionado sobre
estar pronto para ser de vez o novo U2, Matt foi direto: “Sim. Agora se vamos
ser de fato, é outra história”. E é isso, o Muse já é uma grande banda,
veremos o lugar que o tempo destinará a
eles, se de astros do pop mundial ou eternas promessas.
David Oaski
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