terça-feira, 6 de novembro de 2012

RESENHA: MUSE - THE 2ND LAW



Nota: 7,5

A banda britânica Muse lançou a pouco mais de um mês seu mais recente álbum, “The 2nd Law”, que traz de volta suas principais características, o clima de ópera misturado com rock alternativo, com preciosas melodias de guitarra, apoiadas em teclados e muitas vezes por orquestras que dão um tom grandioso ao som da banda. Porém, nesse lançamento somam-se a esses traços já conhecidos da banda, o maior uso de referências eletrônicas, como o dubstep, recurso cada vez mais utilizado por artistas da música pop.

Esse é o sexto álbum da banda, formada em 1994, que tem na sua formação principal Matthew Bellamy nos vocais, guitarra, piano e sintetizadores; Christopher Wolstenholme no baixo e backing vocals; e Dominic Howard na bateria, percussão e sintetizadores. Após atingir sucesso mundial com seu quarto álbum, “Black Holes and Revelations”, de 2006 e aumentado ainda mais seu prestígio com “The Resistance”, de 2009, a banda volta sem se acomodar com um disco que foge do marasmo.

O disco abre com o Muse de sempre em “Supremacy”, estão lá os timbres pesados da guitarra de Matt, a orquestra ora pesada, ora suave ao fundo, a bateria anunciando uma espécie de marcha fúnebre (ou militar?) e os vocais traçando os caminhos que a melodia seguirá. A música tem algumas fases, como já foi dito, inicia suave, encorpa no refrão, volta a suavizar, depois vira quase uma algo como um heavy metal progressivo, com Matt cantando de forma agressiva, a música possui uma variação contínua de peso e melodia.

Em seguida vem o single “Madness”, anunciando o uso do dubstep e influências eletrônicas, com sintetizadores marcando o andamento da música. Matt canta de uma forma mais sensual, possui um solo pequeno, mas muito esperto, demonstrando todo talento do líder da banda. A música vai aumentando, mas sempre ressoando como um remix, no bom sentido da coisa. A letra é um devaneio malicioso sobre relacionamento.

“Panic Station” é minha preferida até aqui. É um funk metal! Por incrível que pareça, o Muse faz um som a la Faith no More ou dos melhores momentos do Red Hot Chili Peppers. A música é sensacional, certamente uma das melhores do ano. É suingada, possui sintetizadores, vocais incríveis, dando o tom que a melodia pede, com direito a um solo que Tom Morello assinaria embaixo. Faixa surpreendente que abre ainda mais o leque que abrange a variedade de composições do trio.

A quarta faixa é “Prelude”, um tema instrumental, com um coro ao fundo num dado momento, que anuncia a primeira música do novo disco lançado pela banda “Survival”, que acabou se tornando tema das olímpiadas e inicia com teclados, anunciando uma interpretação poderosa de Matt. A música soa como uma “We Will Rock You” do novo milênio, de forma meio pretensiosa talvez, mas se aplica muito bem a competições, devido a sua letra com frase do naipe de: “Eu vou vencer”, “Não vou desistir” e “Eu escolho sobreviver”. Quanto à melodia, é grandiosa como sempre, com coros, um bom solo, daí a escolha para ser tema dos jogos.

“Follow Me” é mais pop e lembra o The Killers, com sintetizadores dando camadas à canção. Já “Animals” tem uma melodia estranha, densa, com uma eventual guitarra abrilhantando a canção. Possui uma ótima letra que questiona o sistema atual. Na melodia, assim como em todas as músicas do grupo, parece que há duzentos músicos tocando, porém muitas vezes não passam dos três integrantes e dois ou três músicos de apoio. É outro dos destaques do disco. Já “Explorers” é outro dos pontos altos do disco. Inicia com uma cantiga de ninar, porém com letra angustiante, possui uma longa primeira parte, na segunda aumenta um pouco o andamento, porém de forma suave. Uma semi balada e acima de tudo uma linda canção.

A melodia da guitarra de “Big Freeze” poderia ter sido composta por The Edge, do U2, banda que cujo trio é comumente comparado, até como sucessor dos dinossauros irlandeses. A música é grudenta e ótima, com uma levada pop anos oitenta e um frescor agradável, numa letra otimista, como as de Bono Vox. Possui novamente um ótimo solo de guitarra.

Outra novidade é Christopher cantando “Save Me” e “Liquid State”, sendo a primeira uma melodia pop que não chega a empolgar e a segunda soa como alguma canção do Radiohead, com uma melodia acelerada e Chris cantando de forma urgente suas angústias.

O disco encerra com as duas faixas que dão nome ao álbum “The 2nd Law: Unsustainable” e “The 2nd Law: Isolated System” e ambas falam sobre a segunda lei da termodinâmica, que fala sobre a irreversibilidade de um sistema, transferindo esse conceito para a nossa a sociedade atual, eles fazem uma espécie de trilha de ficção científica, quase sem vocais, com trechos falados por uma voz feminina, outros por vozes masculinas a até uma voz robótica na primeira. Uma obra complexa, típica dos álbuns da banda.

O disco possui de tudo que a banda faz de melhor, desde influências de Queen, passando por Stevie Wonder, Radiohead, Rage Against The Machine, entre outros. Está tudo ali, num caldeirão que torna todas essas referências algo original e que pode ser reconhecido de longe, pois é um som com identidade, a banda impõe sua marca em cada composição. O trio consegue ser pop sem parecer apelativo, consegue ser grandioso sem soar prepotente (na maioria das vezes) e o mais importante, consegue compor e produzir grandes canções que fogem do marasmo que parece ter dominado a música pop em alguns momentos.


Turnê de divulgação do disco


Após um dos lançamentos mais aguardados do ano, o Muse segue como uma das grandes esperanças da música pop mundial, sendo um dos únicos representantes da nova geração com potencial para lotar festivais e assumir a responsabilidade de tocar em estádios. Chegou a hora de provar se estão ou não prontos para seguirem o caminho das bandas veteranas que seguem carregando multidões por onde passam, como o U2 e o Depeche Mode. Ao ser questionado sobre estar pronto para ser de vez o novo U2, Matt foi direto: “Sim. Agora se vamos ser de fato, é outra história”. E é isso, o Muse já é uma grande banda, veremos  o lugar que o tempo destinará a eles, se de astros do pop mundial ou eternas promessas.




David Oaski







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