Nota: 9,0
O Soundgarden anunciou seu retorno em 2010, quatorze anos
após o lançamento do último álbum e treze após o anúncio do fim da banda. Desde
então, surgiu a expectativa se a banda voltaria pra valer com novas composições
ou se tratava de mais um caça níquel, como algumas bandas que vemos por aí. Com
o lançamento de “King Animal” temos a clara resposta de que a banda voltou pra
valer e se encontra no auge da forma.
Pra quem não sabe, o Soundgarden foi uma das principais
bandas do movimento grunge, sendo a primeira a fechar com uma gravadora e teve
uma carreira das mais sólidas, lançando cinco discos entre 1988 e 1996, com
grandes hits, tais como “Black Hole Sun”, “Outshined”, “Rusty Cage”, “Jesus
Christ Pose”, entre outros.
Durante o hiato após o fim da banda, Cornell investiu numa
interessante carreira solo, formou com os ex integrantes do Rage Against The
Machine, o ótimo Audioslave e voltou a excursionar sozinho, até anunciar a
volta da banda, ao lado do baterista Matt Cameron (que também toca no Pearl
Jam), do subestimado guitarrista Kim Thayil e do baixista Bem Shepherd.
O disco já abre com a agressiva “Been Away Too Long”, com o
sugestivo título, já que a banda retorna aos holofotes após algum tempo e em
grande estilo, com este excelente primeiro single, que é certamente uma das
melhores músicas do ano. Lembra um pouco as composições recentes do Pearl Jam,
quem sabe por alguma colaboração de Matt Cameron. Chris segue cantando demais e
a banda está muito bem entrosada mesmo após o longo hiato. Na faixa se
destacam-se também as guitarras de Kim Thayil, com algumas viradas no ritmo,
sem perder o peso num só minuto. Excelente cartão de visitas pra esse novo álbum.
“Non State Actor” já começa com um grito de Cornell, mas tem
mais groove que a anterior, mas também é excelente, com boa letra, aliás outra
característica da banda, a de sempre contar com composições de qualidade, tanto
na melodia quanto nas letras. Já “By Crooked Steps” possui um riff de guitarra
que permeia a canção num andamento mais arrastado. Tem um ótimo solo de
guitarra, além de Chris cantando em dois canais diferentes, o título da música
por sobre as estrofes em alguns momentos.
“A Thousand Days Before” remete a um country, um pouco pelos
timbres da guitarra, que são o grande destaque da faixa. Como já foi dito, Kim
Thayil é um daqueles guitarristas cujo timbre pode ser notado no primeiro
acorde, de forma que as guitarras sempre foram destaque nas melodias da banda,
Kim seria algo como o Johnny Marr (The Smiths) do Soundgarden, o cara que
carrega pelo menos metade do DNA da banda nos dedos, o restante está na
garganta de Cornell.
A quinta faixa “Blood On The Valley Floor” é mais densa,
arrastada e lembra as raízes do Soundgarden. “Bones of Birds” começa cantada
com a voz mais suave que lembra os lados B do Audioslave. É impressionante como
Cornell consegue diversificar seu estilo vocal, impondo suavidade, romantismo
ou agressividade de acordo com o que a canção pede. Seguindo a mesma linha,
“Taree” possui um andamento simples de guitarra que gruda na mente, há também
um bom solo de guitarra.
“Attrition” é a música mais curta do álbum e retorna com a
energia das primeiras faixas, com uma melodia mais acelerada, as tradicionais
guitarras entrelaçadas de Chris e Kim. Outra ótima canção, com um bom solo e
Cornell cantando por sobre o andamento da guitarra.
O clima fica mais intimista na primeira parte de “Black
Saturday”, com violão e percussão, depois a melodia amplia com guitarras, baixo
e bateria. A canção fica um pouco mais densa no meio, depois retorna com a
letra e melodia melancólica da canção. O clima semi acústico segue em “Halfway
There”, que também inicia com o violão acompanhando a voz de Cornell, porém
numa melodia mais ensolarada. Poderia tocar na rádio (se ainda tocasse rock no
rádio). Leve andamento de guitarra, novamente com um bom solo. É a canção mais
pop do disco.
“Worse Dreams” inicia com um riff de guitarra que se repete e
a linha de baixo tem grande destaque numa faixa diferente, pesada, dando um
clima tenso aos piores sonhos, do título da música. A penúltima música
“Eyelid’s Mouth” lembra o Soundgarden antigo, com a melodia arrastada e vocais
apurados, limpos e com efeitos de Cornell, além disso, o solo de guitarra é dos
melhores do play. A faixa derradeira “Rowing” é outro dos muitos destaques do
álbum, com uma levada carregada, com bateria eletrônica e as guitarras
entrelaçadas permeando o andamento da canção. A voz de Cornell puxa tudo para
si, como um magnetismo melódico que põe tudo em seu devido lugar. Solo de
guitarra devastador para fechar o disco dando graças à Deus pelo retorno desses
caras.
Melodicamente falando talvez o Soundgarden seja a grande
banda da safra de Seattle, apesar de não ter feito tanto sucesso quanto seus
conterrâneos mais famosos, eles sempre imprimiram personalidade e originalidade
às suas canções, gravando bons discos no decorrer da carreira. Com esse
retorno, eles mostram que essa fonte criativa ainda está a pleno vapor, ao
contrário de outras bandas que retornam sem ter muito o que dizer, os caras
gravaram um disco que não soa nostálgico ou um resgate sonoro em momento
nenhum, pelo contrário.
Está tudo aqui, a distorção, a agressividade, a melancolia, porém
revitalizado, com uma boa dose de energia e canções que possivelmente a banda
não teria gravado dez, quinze anos atrás, mostrando que tanto a pausa quanto o
retorno fizeram bem à banda.
Os destaques do disco são os mesmos de toda discografia da
banda, Cornell que é certamente um dos maiores cantores do rock em todos os
tempos (os tradicionalistas que se cocem) e Kim, com suas guitarras
extremamente únicas e originais.
Bom, ao terminar a audição do disco, você certamente terá a
mesma sensação que tive, o mundo já pode acabar, pois temos aqui, o melhor
disco do ano!
David Oaski
Vídeoclipe do primeiro single do álbum
Nenhum comentário:
Postar um comentário