Nota: 7,0
Realmente após o Acústico Mtv, lançado em 2.000, a banda
brasiliense Capital Inicial deu uma guinada pop (no pior sentido da coisa) em
seu som, eram discos lançados ao que parece sem muito capricho, com composições
fracas e, em certos momentos, até constrangedoras, como muitas das músicas dos
álbuns: “Rosas e Vinho Tinto” (2.002), “Gigante” (2.004) e “Eu Nunca Disse
Adeus” (2.007).
Porém de uma forma até injusta muitos se esqueceram da
relevância de todo o resto da discografia da banda, afinal já são 30 anos de
carreira e definitivamente a banda acertou mais do que errou nessa longa
jornada.
No mínimo, os cinco primeiros álbuns da banda tem suas
virtudes e qualidades, mesmo não tendo colocado a banda no patamar do primeiro
time do rock nacional na época. Além disso, o Acústico Mtv, mesmo se tratando
de uma compilação, é um disco espetacular, ouso dizer que um dos melhores já
gravados por uma banda de rock nacional, pois além de ter ótimas melodias,
mostrou uma banda coesa, com repertório forte e canções pop sem forçar a barra,
o que resultou na maior vendagem da história da banda (pra lá de um milhão de
discos vendidos).
A banda lançou no final do ano passado seu mais recente
álbum: “Saturno”, sucessor do bom “Das Kapital” (2010), que já mostrava uma
banda mais interessada em soar algo além de um arremedo pop, com ares de The
Killers e rocks de qualidade, a banda mostrou que ainda tinha lenha a queimar,
superando as expectativas com o lançamento atual.
O disco (apesar da capa tosca) traz toda a energia, trazida
principalmente pelo vocalista carismático Dinho Ouro Preto, a consistência
rítmica da cozinha formada pelos irmãos Flávio Lemos (baixo) e Fê Lemos
(bateria), mas o grande destaque do álbum são as guitarras de Yves Passarell.
A banda em diversos momentos lembra a sonoridade de bandas do
pop rock atual, mostrando que segue antenada com os sons atuais, como Muse, The
Killers, Green Day e The Strokes.
Dentre os rocks, destacam-se “Saquear Brasília”, uma rara
letra de protesto, que eram tão comuns nos anos 80, hoje em dia estão em
extinção devido às bandas daquela época terem virado bunda moles e as atuais
sequer se importarem com algo além de seu penteado. “Água e Vinho” também é
muito interessante, com ótima guitarra permeando a canção e a letra relacionando
antônimos na mesma frase. Além dessas “Um Homem Sem Rosto” e “Apocalipse Agora”
seguem a linha, mantendo a energia do disco, com melodia mais acelerada, numa
espécie de pop punk.
As duas melhores faixas do disco são “Cristo Redentor” e “A
Valsa do Inferno”, sendo a primeira a melhor letra da banda em muitos anos,
tratando da ganância e conquista dos objetivos a qualquer preço; já a segunda é
uma espécie de marcha, com ótimas guitarras e boa performance de Dinho, que
parece ter recuperado sua voz após o acidente.
As baladas melancólicas do disco, o primeiro single “O Lado
Escuro da Lua” e “Saturno” diferem numa coisa básica, enquanto a primeira é
muito legal, com refrão marcante a segunda soa um pouco cansativa. “Noites em
Branco” também parece não dizer a que veio, parece que a voz de Dinho não casa
com esse tipo de canção, soando um tanto forçado em alguns momentos.
Ainda há espaço para “Poucas Horas” que inicia suave e fica
mais pesada, com um ótimo solo e ideal para ouvir bem alto no som do carro; “Eu
Ouço Vozes” que também possui boa melodia e a dispensável “Sol Entre Nuvens”.
O mais importante ao analisar esse álbum é notar que a banda,
apesar de algumas escorregadas, alcança seu objetivo, entrega um bom disco pop
rock, com algumas pérolas na discografia da banda. Como todos os outros álbuns
do Capital Inicial, não é impecável, mas trata-se de uma banda talentosa e
carismática que tenta a muito tempo manter acesa a ideologia do rock no
mainstream brasileiro.
Se você gosta de rock nacional, vale a audição. Se você não
gosta dos caras devido ao som, eu te respeito. Agora, se você não gosta dos
caras porque eles fazem sucesso, então volte para sua caverna empoeirada e ouça
seus discos obscuros em paz.
O Capital Inicial conseguiu se mostrar muito mais relevante
que a nova geração do rock, mostrando que ainda há estrada para esses coroas
que parecem nunca envelhecer. Realmente parece que aquela história de que rock
n’ roll rejuvenesce procede.
David Oaski
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