quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

A COMPLEXIDADE DA SIMPLICIDADE


Saber tocar um instrumento é um dom. Dominar um instrumento então é uma dádiva. Confesso que sinto uma inveja branca dos que carregam consigo essa capacidade, fico imaginando como deve ser maravilhoso dar vazão às opiniões, angústias e sentimentos através de uma canção própria, criando sua letra e melodia, realmente deve ser uma experiência fantástica.

Existem alguns tipos de músicos, aqueles que são virtuosos ao extremo, como aqueles guitarristas que tocam sessenta milhões de acordes em um minuto, ou aqueles bateristas em que mal é possível ouvir o intervalo entre as porradas das baquetas ou aqueles caras que tem agudos capazes de quebrar vidraças e etc. Há também aqueles músicos mais discretos, introspectivos por natureza, que prezam pelo minimalismo pra fazer canções que agradem primeiramente a si próprio e, quem sabe, depois os outros também ouçam. Mas os tipos de músicos mais especiais são aqueles que conseguem transformar uma combinação simples entre letra e melodia em hinos inesquecíveis.

Inúmeros músicos habilidosos e com total domínio do seu instrumento fazem canções elaboradíssimas, com arranjos fenomenais e super trabalhados e cantam somente para nichos, muitas vezes não alcançando muito mais que uma carreira amadora.

É tão simples que chega a ser complexo como os Beatles (pra ficar no exemplo mais óbvio), consegue ultrapassar gerações com suas melodias singelas, frutos da parceria entre John Lennon e Paul MacCartney. As letras da banda falam das diversas emoções que passamos no decorrer da vida, além de alguns devaneios, mas é de entendimento geral que nenhum dos quatro rapazes de Liverpool eram músicos geniais tecnicamente falando, no entanto eram brilhantes no que diz respeito ao feeling e talento nato para composições, vide suas músicas gerarem interesse em qualquer garoto que se aproxime do som da banda ou a quantidade absurda de discos que o grupo ainda vende, mesmo após décadas desde o final da banda.

Os exemplos não param por aí. No mainstream da música mundial atual são poucos os músicos que realmente dominam plenamente seu instrumento, mas não veja isso como uma coisa ruim, pois muitas das bandas tidas como clássicas também não eram excepcionais tecnicamente. Por exemplo, quem é o músico fantástico do Rolling Stones? Keith Ricards é o cara do feeling, da guitarra com seu timbre único, reconhecível a quilômetros de distância, mas passa longe do virtuosismo de Jimi Hendrix ou Jimmy Page. Outros exemplos de grandes músicos que tem canções intrincadas na memória pop mundial para todo sempre são U2, R.E.M., Oasis, The Clash, Ramones, entre muitos e muitos outros.

Não estou aqui dizendo que não é preciso técnica para se construir uma carreira sólida, estou dizendo que muitos artistas o fazem substituindo tais habilidades pelo feeling e talento. Mas claro, vale lembrar que também existem artistas geniais com seus instrumentos que se tornaram clássicos, como o Led Zeppelin, o Metallica, o Rush, o Pink Floyd, entre outros.

A verdade é que não tem muita lógica, às vezes uma música bate e já era, ela se torna especial pra você e não há mais como reverter esse processo. Mas é fato que existem bandas que conseguem despertar essa sensação em mais pessoas.

Transmita as músicas dos ouvidos para o coração e não para a cabeça e a experiência será muito mais completa, pode ter certeza. Nunca, jamais sinta algum incomodo por gostar de determinada banda ou som, pois isso simplesmente não se explica, se sente.





David Oaski


Um comentário:

  1. Música transcende. Seja pela técnica ou pelo feeling que transmite. Talvez a regra mais importante seja: nunca se render à técnica em desfavor da arte. Pois música é arte. E arte não se qualifica matematicamente, se entende. E na maioria das vezes, mesmo sem se entender, se sente.

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