segunda-feira, 10 de abril de 2017

ENTREVISTA: THE SCUBA DIVERS


Atenção amigo rocker carente de bons sons na cena nacional, pois vem de Santos, a Califórnia brasileira, sua nova banda favorita, uma banda que poderia ter surgido na Inglaterra no início dos anos 80, o Scuba Divers vem na contramão de tudo que toca no rádio atualmente, pois apesar dos integrantes terem média de idade inferior a 25 anos, as influências da banda passam por estandartes do pop oitentista, tais como The Smiths e The Cure, passando pelo rock alternativo dos anos 90, de bandas como Placebo e Smashing Pumpkins, isso tudo soando original, aliando essas influências num caldeirão sonoro, criando algo novo e poderoso.

A banda recém lançou seu primeiro álbum auto intitulado, com onze canções que alternam climas densos, com melodias mais ensolaradas, e letras que tratam temas diversos, sendo uma das inspirações principais os filmes de terror, onda muito apreciada pelos irmãos Maurício Teles (baixo e vocais) e Daniel Teles (guitarras e vocais) – completam o time Iury Cascaes (guitarras e vocais) e Vitor Emanuel (bateria e backing vocal).
Procurando entender de onde esses caras tiraram inspiração pra fazer um som ao mesmo tempo alternativo e original, mesmo com tão pouca idade, procurei a banda para uma entrevista. Dá uma sacada abaixo como a molecada enxerga a cena atual, assim como quais serão seus próximos passos:
- Como uns moleques de Santos se aproximaram da sonoridade que vocês chegaram com o Scuba Divers? Numa época em que o sertanejo universitário impera entre pessoas da idade de vocês, da onde surgiu o interesse por bandas alternativas dos anos 80 e 90?
A banda no palco - pouca idade e som de gente grande
Comigo e com Maurício foi uma influência familiar. Crescemos em contato com bandas como Legião Urbana, Men At Work, Tears For Fears, The B52's, The Police, U2 e todas essas bandas clássicas dos anos 80. Com a internet, foi uma questão de tempo para explorarmos melhor as bandas que já conheciamos e encontrar outras novas, como The Smiths e The Cure.
A ideia da banda surgiu na mesma época em que comecei a prestar mais atenção em Indie Rock e Rock Alternativo, grupos como Kings Of Leon, Placebo, The Killers e Weezer acabaram me levando a descobrir Pixies, Sonic Youth, My Bloody Valentine e a partir daí não tinha mais volta, a barulheira entrou de vez no nosso som.
Eu não lembro exatamente como o Nirvana entrou na vida do Iury, mas sei que foi o ponto de virada para ele nesse sentido, de mergulhar fundo na sonoridade alternativa. Iury: sinceramente, eu não sei de onde veio essa minha verve pros lados do rock e desse tipo de som, porque aqui em casa ninguém nunca ligou pra nada disso, e nem muito bem os meus amigos. Deve ter sido meu irmão, que sempre ouviu muito punk rock, que me influenciou, e daí eu fui fuçando por mim mesmo até chegar no Nirvana, a banda mais significativa pra mim.
- Qual o estágio atual da banda? Esse é o primeiro disco, certo? O que vocês projetam para o futuro?
Capa do primeiro play
Agora que lançamos o CD, o próximo passo natural é a sua divulgação. Isso inclui desenvolver material multimídia, como a série "Por Trás das Letras", realizar shows e mandar a música para rádios, sites, blogs e canais de notícia no geral. Estamos também planejando um videoclipe e estamos bem animados com isso!
Paralelo à divulgação do CD, já estamos trabalhando em novo material. Temos três compositores ativos na banda, então já temos músicas para dois discos, sendo que muitas delas já estavam prontas antes de começarmos a gravar o primeiro. Já se tornou até difícil administrar tanto repertório, então desenvolvemos o hábito de nos reunir às quintas para gravar demos e compor em nosso projeto de home studio. Ouçam o CD físico até o final para terem uma surpresinha do que estamos fazendo nas quintas feiras!
- Na visão de vocês, qual a melhor estratégia de divulgação em tempos de interesse tão superficial por música?
Focamos nossa divulgação na internet, tanto pelas redes sociais da banda quanto por canais sobre música, como sites, blogs e páginas de Facebook. Não temos acesso aos grandes meios de comunicação, como rádio e TV, mas por nosso som seguir um direcionamento alternativo, nem temos perfil para estar nesse tipo de mídia. Tocamos uma música de nicho e a internet continua sendo a melhor arma para alcançar esse público.
- Como vocês consomem música atualmente? Streaming? Youtube? Ainda compram mídia física (CDs, DVDs e afins)?
Principalmente por streaming, em sites como Spotify, Youtube e Bandcamp. Mas também adoramos mídia física, temos o costume de comprar CDs dos nossos artistas prediletos e compraríamos mais ainda se os preços fossem mais convidativos. Além de, é claro, ir a shows locais e internacionais.
Acho que esse carinho pelo release físico é bem nítido no lançamento de nosso primeiro CD. Fizemos questão de lançá-lo em capa de acrílico, em oposição as capas de papelão que grande parte das bandas menores optam por usar. Também contratamos o artista Conehorror para fazer uma arte exclusiva para a capa e o Maurício se encarregou de montar todo o encarte. É importante que a apresentação do material seja condizente com o quanto de carinho temos pela música ali presente.
- A que vocês atribuem o fato do rock estar tão em baixa na grande mídia? E por que o jovem brasileiro médio deixou de se interessar por rock?
Eu não acho que isso seja 100% verdade. A muito pouco tempo atrás vimos Cristopher Clark (de Santos) ganhar um reality show e bandas como Scalene, Supercombo, Malta e Suricato tocando em programas populares da TV aberta. Se formos para o cenário internacional, temos bandas de rock alcançando popularidade mainstream de tempos em tempos.  O Muse lotou vários shows no Brasil, Arctic Monkeys ficou imenso com o lançamento de seu último disco, Kings Of Leon se mantém relevante há um bom tempo. Isso sem contar a cena de Post-HC que não conheço tanto assim, mas sei que tem muitos fãs do movimento.
O jovem sempre foi e sempre será uma esponja que adere as tendências de sua geração, a não ser quando a influência familiar ou de círculos de amizade fala mais alto. Aqui no Brasil temos gêneros regionais e periféricos fortes, o rock jamais teria o peso que ele tem em um num país como a Inglaterra, por exemplo. O Lollapalooza está aí para provar como ainda assim existem muitos jovens interessados em rock. O festival agrega rap, eletrônico, pop, mas headliners como The Strokes, Arcade Fire e Muse deixam claro que o Rock ainda tem seu espaço entre o público jovem.
- Como vocês avaliam a cena rock na Baixada Santista? Existem outras bandas que consideram interessantes? Casas pra tocar? Existe de fato uma cena?
Temos muitas bandas aqui na Baixada Santista, então com certeza temos sonoridades interessantes para a maioria dos gostos, mas acho que o único movimento que poderíamos chamar de "cena" por aqui é o movimento HC que tem um underground bem consolidado na região.
Acho que o ponto mais fraco da cena regional é a falta de casas de show interessadas em dar espaço para som autoral. Mas só reclamar não adianta. Uma casa de show é um negócio e se colocar o mesmo cover de AC/DC para tocar todo final de semana dá retorno no fim do mês, para que arriscar no som autoral da molecada? Por esse exato motivo comecei a organizar o festival de música Alternapalooza, em uma tentativa de criar um nicho para som alternativo na região.

De um modo geral, o rock segue por aí, em nichos como a própria banda citou, mas com muita qualidade como é o caso desse Scuba Divers, basta interesse e boa vontade que descobrimos novas bandas talentosas e dispostas a dialogar com seu público.
Torçamos e sigamos acompanhando esses moleques promissores e que eles tenham longa vida na música.
Vou quebrar teu galho e deixar os links mastigadinhos abaixo (não tem desculpa hein mané?!):
Toma ainda uma amostrinha de um dos destaques do álbum, "I Wanna Die In London":


David Oaski

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