terça-feira, 3 de setembro de 2013

RESENHA: O ALIENISTA - MACHADO DE ASSIS


Nota: 7,0

O Alienista é um conto escrito pelo mais célebre autor brasileiro, Machado de Assis, lançado em 1882. O conto apresenta uma narrativa diante de crônicas antigas, como diz o autor, de um médico chamado Dr. Simão Bacamarte, que se especializa em cuidar da loucura do ser humano e resolve montar uma casa para abrigar aqueles que sofrem desse mal.

A casa em questão é intitulada Casa Verde, na vila de Itaguaí, no Rio de Janeiro e é lançada com muita pompa e festividades.

Simão é um médico conceituado, um dos mais respeitados do Brasil e de Portugal, onde estudou. É casado com D. Evarista e tem um ajudante, o boticário Crispim Soares, que elabora os remédios para tratar dos pacientes. É tratado pelas crônicas como dono de uma mente brilhante, uma figura altamente competente e capaz, devido ao seu alto intelecto e ótimo caráter.

Bacamarte passa então a recrutar para a Casa Verde todos aqueles que ele nota algum sinal de loucura, mas não somente loucos tradicionais, mas todos aqueles que têm algum desvio de personalidade, como um coitado que ficou rico e perdeu toda sua fortuna devido a empréstimos que não lhe eram devolvidos; ou um outro que ficava admirando sua própria casa. Enfim, qualquer um que tivesse uma característica que o diferenciasse da maioria era recluso na Casa Verde. Lá os pacientes eram separados por características e graus, a fim de serem estudados e tratados de forma adequada.

Tal fato foi muito questionado pela população, pois eram cidadãos de bem, que tinham família, empregos e se relacionavam normalmente em seus meios sendo pegos e tratados como loucos. No entanto, o prestígio de Bacamarte era tamanho que grande parte da população ainda acreditava em seus métodos.

Porém, com o passar do tempo e quando grande parcela da população de Itaguaí se encontrava em cárcere na Casa Verde, estourou uma rebelião, comandada pelo barbeiro Porfírio. Iniciada por poucas pessoas, uma marcha rumo à Casa Verde foi puxada pelo babeiro, que logo angariou diversos seguidores a caminho da clínica. Lá chegando foram atendidos por Simão Bacamarte que com educação e de forma articulada lhes ofereceu uma discussão com alguns representantes do povo e alegou que tudo que ele defendia era a ciência. As palavras e a forma suave com que Simão se pronunciou amenizaram um pouco a fúria dos rebeldes, mas mesmo assim Porfírio ainda os incitava a invadir a casa. Foi quando eles foram abordados pelas forças armadas, que foram enviadas para proteger a Casa Verde.

Após ameaças e algum confronto, em que muito ficam feridos se dá a mudança de lado de vários militares para o lado dos protestantes, o que causa o fim da luta, já que os representantes do governo não iam se dispor a lutar contra seus pares. Após o término do confronto a multidão ruma então em direção à Câmara dos Vereadores de Itaguaí, a fim de tomar a instituição. O objetivo é alcançado e Porfírio vira governante da Vila.

O grande Machado de Assis
No entanto, ao contrário do que todos pensavam o antigo barbeiro não visa o fechamento da Casa Verde após assumir o poder. Numa jogada política ele sugere a Simão que libere, caso não tenha ideia melhor, alguns pacientes com melhor juízo ou já quase curados, o médico fica curioso com a sugestão já que esperava ser preso ou que a Casa Verde fosse demolida.

O apoio de Porfírio à Casa Verde causa revolta na população que alega que o barbeiro se vendeu ao alienista, causando sua derrubada e sendo substituído por João Pina, outro barbeiro que praguejava contra os métodos de Simão Bacamarte. No entanto, quando João assumiu o poder, o alienista pediu que ele entregasse à clínica o governante antecessor, assim como outros agitadores de seu governo, o que faz com que o alienista goze de prestígio com o novo governo.

O auge da rigidez de Bacamarte se dá quando o mesmo recolhe à Casa Verde sua própria esposa, D. Evarista, devido ao fato da mesma se mostrar indecisa ao escolher o visual a ser utilizado numa festa, o que a faz ser considerada demente pelo marido.

Diante de todo pavor por parte dos poucos moradores livres de Itaguaí em serem recolhidos por Bacamarte, eis que surge uma mudança drástica em seus métodos de avaliação da loucura. Simão libera todos os pacientes da clínica informando que todos estão curados e reavaliando suas convicções garante que os loucos são aqueles que não apresentam nenhum traço fora do correto em sua personalidade, ou seja, a situação anterior se inverte e todos os cidadãos extremamente corretos, de postura e de bem são recolhidos à Casa Verde. Os mesmos só eram liberados após serem forçados de certa forma a sair do comportamento retilíneo e desviassem sua conduta. Assim, de acordo com Simão, estariam curados.

Após os estudos com os novos pacientes, o alienista tem mais um insight, de que o louco ali poderia ser ele e não todos aqueles que haviam passado pela Casa Verde nos últimos tempos. Ele convoca então uma assembleia com todos seus amigos, sua esposa e pessoas próximas e pergunta aos mesmos quais são seus defeitos, seus desvios, suas inimizades e todos prontamente responderam de forma honesta que ele não tinha nada que o desmerecesse, era um sujeito digno, louvável, honesto e admirável. Tal resposta convenceu de vez o alienista de que o louco era ele e só restava se recolher ele mesmo a sua grande criação, a Casa Verde.

Aos suplícios de seus entes e amigos para que ele não procedesse dessa forma, Simão Bacamarte foi morar na clínica e pouco se ouviu falar dele depois disso. Mas conta-se que ele morreu dezessete meses após sua internação e que seu enterro foi muito comovente e movimentou a cidade, que reconheceu as boas intenções daquele brilhante homem.

Considerações Finais

Esse foi meu primeiro contato com a obra de Machado de Assis e se deu devido à música do Detonautas Roque Clube, que possui o mesmo título do livro. Achei a letra interessante e resolvi ler a obra.

Apesar da linguagem complexa e palavreado característico da época, com a ajuda de algumas notas de rodapé da edição que li consegui compreender bem o conto e notar as nuances da história. Além disso, na citada edição há toda uma contextualização histórica e teórica que auxilia na compreensão e interpretação da história.

Misturando elementos do romantismo e do realismo, Machado de Assis apresenta um relato complexo de como lidamos com a loucura e como a mesma é tratada, além de questionar muitas vezes com ironia sutil quem está preparado para dizer quem é louco e quem não é.

Não se trata de uma leitura das mais fáceis, mas se vê uma ótima história, de um conto clássico que até hoje permite diversas interpretações de suas soluções e personagens. É realmente brilhante a forma que Machado de Assis escreve, pena que muito desse brilho seja desperdiçado e enfiado goela abaixo de crianças que ainda não tem maturidade para o contato com uma obra dessas durante o primário ou ensino médio.



David Oaski

7 comentários:

  1. Livro perfeito!!! AMOO

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  2. Otima resenha!! Adorei o livro, pois trata da pessoa que vê apenas os defeitos dos outros e nao vê que o erro esta em si mesmo!

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