quinta-feira, 15 de maio de 2014

RESENHA: FELIZ ANO VELHO - MARCELO RUBENS PAIVA


Nota: 7,0

Feliz Ano Velho é um romance escrito pelo brasileiro Marcelo Rubens Paiva, lançado em 1982 que relata a experiência do autor após sofrer um acidente alguns dias antes do Natal de 1979 ao mergulhar de cabeça num lago com meio metro de profundidade, que lhe causou a fratura da cervical e o deixou paraplégico aos 20 anos de idade.

Filho de um ex-deputado que havia sido torturado e morto pela ditadura militar, Marcelo cresceu como um típico playboy paulista, tendo morado em Santos e São Paulo, durante a adolescência. Ele era popular, charmoso, tinha várias namoradas, viajava muito, pegava onda, tocava violão, enfim, tinha uma vida social extremamente ativa até o fatídico acidente.

Pinta de galã do autor
Já de cara Marcelo narra o momento em que mergulhou ao estilo tio Patinhas em busca de um tesouro escondido e se chocou com o fundo do lago, ouvindo um zunido. Ao ser resgatado pediu que seus amigos o colocassem de pé, porém seu corpo não respondia. Ele foi levado às pressas para o hospital, onde passaria um bom tempo na UTI.

Alternando momentos acordados e outros tantos dormindo sob efeito dos remédios, Marcelo se vê sozinho, somente sendo amparado por enfermeiros e visitas eventuais da mãe, ele não sabe exatamente o que aconteceu e duvida que tenha sido algo mais grave.

Apesar do início denso, Marcelo não soa piegas ao narrar seu drama, pelo contrário, ele ilustra bem seu sofrimento e seu inconformismo, porém sempre com boas sacadas e boas lembranças da vida pré acidente. Essa mescla de lembranças da sua fase independente permite ao leitor imergir numa época em que o país ainda era assombrado por uma ditadura e a repressão comia solta.

Paiva, até hoje cadeirante
Sobre a fase antiga, Marcelo narra diversos causos envolvendo maconha, garotas, baladas e situações divertidas e sobre a nova e assustadora fase, o escritor trata detalhadamente suas dificuldades e suas sensações. Ele fala, por exemplo, que quando ainda estava internado pensou em tirar a própria vida, fala de uma curiosidade de muitos que é o fato de ele conseguir ficar de pau duro, fala da horrível necessidade de depender de outras pessoas e da constante angustia de ouvir diagnósticos imprecisos sobre sua recuperação, pois como a maioria dos especialistas dizia: não havia como prever nada e cada caso era um caso e cada corpo reage de uma forma.

Ele relata sempre sua situação com realismo e, apesar do tédio do começo por se ver imóvel sobre uma cama durante horas, ele conta com o companheirismo da família e diversos amigos, além disso, devido às boas condições financeiras da família ele pode contar com profissionais o monitorando constantemente, assim como uma enfermeira para lhe auxiliar durante quase todo o tempo.

A história do livro termina aproximadamente um ano após a data do acidente com Marcelo ainda reclamando do seu infeliz destino, porém entendendo que só ele poderia superar esse fardo e teria que fazer o possível para se adaptar à nova realidade.


Considerações Finais

Feliz Ano Velho é um livro já tido com um clássico da literatura nacional contemporânea, sendo traduzido para diversas línguas, porém ao terminar a leitura fiquei um pouco em dúvida se o livro é digno de todo esse culto. A história é bem contada e trata-se de um relato detalhado de um jovem passando por uma situação terrível que já aconteceu com muitas outras pessoas e reconheço que o autor tem uma aura pop, fala de sexo sem pudor e não tem medo de se expor ao ridículo, vai ver que é daí que vem esse carinho especial dos leitores pelo livro.

É curioso notar as gírias usadas pelo leitor no decorrer de seu texto, como “afins” que denota interesse em alguém ou “dar uma bola” que nada mais é que fumar um baseado, entre outras. O autor também mostra que apesar de jovem estava antenado com cinema e música, citando a tropicália que começava a despontar à época.

O título vem de uma sacada do autor ao passar o réveillon no hospital, ele se pega cantando a famosa canção: “Adeus ano velho / Feliz ano novo” ao contrário: “Feliz Ano Velho / Adeus Ano Novo”.

Resumidamente é disso que se trata o livro, um jovem que se vê privado da sua vida extremamente ativa por uma ironia do destino, sem ser piegas, somente relatando suas angústias e dificuldade físicas.

Apesar de achar o livro superestimado ele tem um tema interessante e o autor imprime um ritmo fluente e descontraído, o que torna a leitura ágil e agradável.


David Oaski





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