Primeiramente preciso deixar claro que adoro as bandas
oriundas da capital federal Brasília. Ouvi e ouço muito Legião Urbana, Capital
Inicial e Plebe Rude. Além de conhecer a história do embrião de duas dessas
bandas, o Aborto Elétrico, banda que era composta pelos irmão que fundariam o
Capital, Fê e Flávio Lemos mais Renato Russo, o carismático e controverso líder
da Legião Urbana. Vale lembrar também que os integrantes dos Paralamas do
Sucesso também cresceram e se conheceram na terra que abriga nossos políticos,
apesar de terem formado a banda e se consolidado no Rio de Janeiro.
O fato é que sempre me incomoda a associação dessas bandas ao
movimento punk. Eles não eram punks, nem no som, nem na atitude, é preciso
deixar isso claro. O movimento punk surgido no final dos anos 70 na Inglaterra
com o The Clash e os Sex Pistols e nos Estados Unidos com o Ramones sempre se
caracterizou por ser formado por jovens de origem humilde, da classe operária
britânica e norte americana, executando um som cru, direto, sem fírulas, com
letras que tratavam de todos os temas, mas principalmente das mazelas da
sociedade. Tudo isso na contramão do rock progressivo que reinava as paradas da
época, com suas melodias complexas e canções longas.
Capital Inicial nos anos 80 - mais próximo da New Wave |
O máximo que se pode dizer é que as bandas do rock de
Brasília foram influenciadas pelo punk rock, assim como quase todas outras
bandas surgidas desde os anos 80. As temáticas de muitas das letras das bandas
brasilienses citadas realmente tinha cunho social e político, mas isso não faz
deles punks.
Dinho Ouro Preto, vocalista do Capital Inicial é um dos que
mais se refere ao movimento como punk de Brasília, porém sabe-se que ele e a
maioria dos outros membros da banda tem origem de classe média alta, filhos de
figurões como diplomatas, políticos e magistrados, tendo passado boa parte da
infância e adolescência em outros países. Até que ponto eles realmente sofreram
as mazelas da sociedade na época?
É preciso deixar claro que não quero aqui impor um debate
classicista, afinal ninguém tem culpa de ter a origem que tem, tampouco podem
deixar de protestar por serem de famílias abastadas, mas também é fato que eles
não eram os rebeldes porra loca que pregam nas entrevistas e documentários
sobre a época.
Inocentes, verdadeiro representante do punk brasileiro |
Com relação às melodias nem se fala, a banda que mais se
aproximava da crueza do punk era o Plebe Rude, já os outros se aproximam muito
mais da new wave ou do pós punk que do punk propriamente dito.
Punk nacional de verdade era o paulista, com bandas como
Ratos de Porão, Olho Seco, Cólera, Inocentes, entre outras. Essas sim têm um
som sujo, veloz, cru e agressivo, com letras honestas e com integrantes em sua
maioria oriundos das periferias da cidade.
A questão aqui não é gosto pessoal, particularmente até
prefiro as bandas brasilienses, mas numa contextualização histórica, o punk
nacional deve ser lembrado pelas bandas que realmente eram fiéis ao movimento
original. Fico imaginando os caras do The Clash vendo os “punks” de Brasília,
eles iriam se mijar de rir.
Do it yourself.
David Oaski
Caro amigo, não lembre o movimento punk de brasília com bandas como Capital Inicial... E sim como DETRITO FEDERAL; PLEBE RUDE;XXX; ABORTO ELÉTRICO; etc.
ResponderExcluirMuito bom o blog!!
ResponderExcluirEntendo sua perspectiva. Quando penso em menino com grana querendo pagar de punk lembro logo do Supla, mas não deixo isso me fazer pensar que ser pobre seja uma premissa para ser punk, embora reconheça que te dê mais moral para falar sobre mazelas sociais.
ResponderExcluirNo entanto, vejo hoje muito jovem de classe média alta por aí com mais consciência política, participando de grupos ativistas, quando não anarquistas, virando black bloc pra cair na porrada com a policia e o escambau, enquanto infelizmente também vejo muito jovem pobre ouvindo funk ostentação e se endividando pra comprar roupas de marca e gadgets.
Enfim, gostaria de lembrá-lo que o Clash, a pioneira banda punk e talvez a mais politizada delas, tinha sua ideologia direcionada pelo vocalista Joe Strummer, um filho de diplomatas.
escute aborto elétrico e reescreva
ResponderExcluirAgora escute o álbum primórdios da plebe rude, as músicas do aborto elétrico e reescreva esse texto
ResponderExcluirCara, Fê lemos é o próprio Renato em entrevistas deixaram claro a influência do punk rock nessas bandas de Brasília pelo fato de muitos terem bebido na fonte, principalmente os que moraram na Inglaterra como o fe lemos mas sempre ponderam ser mais influência do que ser de fato punk raiz. Mas brasilia tinha assim como são paulo um cenário punk de periferia, proletariado, em especial em especial na região de taguatinga e posteriormente no guara, região até então periféricas de brasilia, fe lemos inclusive cita muitas dessas bandas e os locais que elas tocavam em taguatinga e que de vez enquando iam lá ouvir o som deles. Dinho ouro preto que avacalha um pouco essa discussão não ponderando o que seriam os "punks" da turma dele.
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