Como disse num post recente o rock nacional segue produzindo
excelentes bandas, porém nem por isso deixo de gostar da fase tida como
clássica do rock nacional, os anos 80. Na época o rock era a bola da vez, a
galinha dos ovos de ouro das gravadoras, os queridinhos dos programas de
auditório e presença dominante nas rádios AM e FM.
A comparação é esdrúxula, mas o rock nos anos 80 foi o que é
hoje o sertanejo universitário, uma mania que se espalhou por todo o país, só que
convenhamos, uma mania com muito mais conteúdo e gente inteligente envolvida.
Claro que no meio dos talentos acabaram aparecendo algumas porcarias que o
tempo fez questão de esquecer.
Muitas das bandas surgidas naquela época, hoje possuem status
de classic rock do nosso país, algumas lidando bem com a passagem do tempo como
o Capital Inicial, outras ficando pelo caminho, outras caindo no ostracismo e
outras vivendo de celebrar o próprio passado ao invés de produzir e compor
coisas novas.
Grandes bandas dos anos 80 temos aos montes, porém poucas
conseguiram o êxito de produzir um disco inteiro bom, com composições ricas do
início ao fim, formando obras enxutas, fazendo jus ao conceito de álbum, aquele
punhado de canções que juntas passam a fazer mais sentido do que fariam
avulsas, que retratam um momento, um conceito, uma estética do que a banda se
propõs a fazer naquele trabalho.
Pensando nisso, resolvi listar meu cinco álbuns de rock
nacional preferidos dos anos 80. A lista não está numa ordem de preferência,
mas são os discos que vou ouvir pro resto da vida.
Lá vai:
Ira! – Vivendo E Não Aprendendo
Como falei antes, não são poucos os bons álbuns lançados nos
anos 80, mas é difícil algum deles superar o segundo álbum do Ira!, banda
paulista formada em 1981, que no auge contava com Nasi no vocal, Edgard
Scandurra na guitarra, Ricardo Gaspa no baixo e André Jung na bateria.
Coeso, lírico e extremamente potente o disco, lançado em
1986, foi o maior êxito comercial da banda, além da manjada “Envelheço Na
Cidade”, havia também a forte “Dias De Luta”, a romântica “Flores Em Você” (que
foi tema de novela no horário nobre global), a belíssima “Quinze Anos (Vivendo
E Não Aprendendo)” e as pouco lembradas, mas não menos ferozes “Casa De Papel”,
“Vitrine Viva” e “Nas Ruas”.
O disco é urbano, cru e direto, com exceção de “Flores Em
Você” e marcou época com belos arranjos e canções alinhadas no álbum mais
consistente do rock nacional dos anos 80. Melodias incríveis oriundas do
talento de Scandurra e toda a presença vocal de Nasi fizeram desse álbum um
marco na música brasileira.
Carnaval – Barão Vermelho
Ainda se recuperando do baque da saída de Cazuza da banda em
1985, o Barão Vermelho, a melhor banda da história do rock nacional, lançava em
1988 a joia chamada “Carnaval”. Contando somente com três integrantes fixos na
formação, Frejat (vocal e guitarra), Dé (baixo) e Guto Goffi (bateria), a banda
adicionou às guitarras stoneanas já tradicionais percussão e fez um disco
sensacional que os recolocou no primeiro time do rock nacional.
O disco conta ainda com participação de letristas do naipe de
Humberto Gessinger, Arnaldo Antunes e Paulo Miklos. Os destaques são a
sensacional “Pense E Dance”, a feroz “Não Me Acabo” e a cadenciada “Lente”.
Rock n’ roll na essência cantado em português como pouco se
viu no rock brazuca.
Dois – Legião Urbana
Por mais que “Eduardo E Monica” e “Tempo Perdido” toquem em
todos os programas de flashback das rádios não há como negar que o segundo
disco da Legião, lançado em 1986 é um clássico.
As famosas melodias simples calcadas no rock britânico dos
Smiths e Joy Division serviam de base para Renato Russo declamar suas letras
fenomenais. “Acrilic On Canvas”, “Andrea Doria”, “Metropole”, “Daniel Na Cova
Dos Leões”, enfim, o disco é bom de ponta a ponta e por mais que seja clichê
citar a Legião, é impossível fugir desse lugar comum.
Nem Polícia, Nem Bandido – Golpe de Estado
Uma das bandas mais subestimadas do rock nacional, o Golpe de
Estado nunca desfrutou do reconhecimento e da fama de seus contemporâneos do
Ira! E Titãs, por exemplo, mas fez como poucos hard rock brasileiro.
Com o ótimo Helcio Aguirra nas guitarras e o louco Catalau
nos vocais, a banda lançou ótimos discos e esse mostra o grupo no auge, com
destaques para as faixas “Paixão”, “Filho De Deus” e a faixa título.
A recente morte do guitarrista Helcio Aguirra trouxe de volta
o nome do Golpe às manchetes de rock. Espero que com o tempo eles ganhem, mesmo
que com um atraso monstruoso, o reconhecimento merecido.
Jesus Não Tem Dentes No País Dos Banguelas – Titãs
Apesar do clássico absoluto dos Titãs ser considerado o álbum
anterior, de 1986, “Cabeça Dinossauro”, prefiro a linguagem e agressividade de
“Jesus...”. Ainda com oito integrantes, os paulistas compuseram faixas do naipe
de “Lugar Nenhum” e “Diversão”, duas das melhores da discografia da banda, além
de “Corações E Mente”, “Comida” e “Mentiras”, é muita coisa boa.
E pra você, faltou alguma coisa? Discorda? Concorda? Quem
sabe rola uma segunda parte do post em breve. Deixe suas dicas nos
comentários...
David Oaski
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