terça-feira, 10 de dezembro de 2013

A TAL CENA GRUNGE



Costumo dizer que nem tudo de melhor da história do rock n’ roll veio da década de 70. É bem verdade que grande parte das bandas que forjaram o hard rock como ele viria a ser feito no decorrer do tempo vieram dessa década, mas é inegável a quantidade de boas bandas surgidas nos anos 80, que vieram a explodir nos anos 90.

Em meio a bandas como Red Hot Chili Peppers, Faith No More, Guns N’ Roses, Metallica e R.E.M. surgia uma geração de garotos entediados, oriundos da chuvosa Seattle, nos Estados Unidos. De lá veio a maior remessa de bandas vindas do mesmo local num curto espaço de tempo, num movimento que ficaria conhecido como grunge. Dos embriões Mother Love Bone, Green River e Mudhoney aos consagrados Nirvana, Pearl Jam, Alice in Chains e Soundgarden, isso sem contar outras bandas que foram diretamente influenciadas por estas, tais como os californianos do Stone Temple Pilots, os australianos do Silverchair, os ingleses do Bush, entre muitos outros.
Os primórdios das bandas de Seattle: Green River

O que acho curioso é que a tal cena grunge – rótulo esse rejeitado pela maioria das bandas à época – possui difícil identificação sonora, ou seja, quais são as semelhanças que tornaram o surgimento dessas bandas um movimento, além da óbvia cidade natal?

As semelhanças entre as bandas grunge são genéricas, afinal guitarras distorcidas e letras melancólicas não são exclusividade da turma de Seattle. Esteticamente o estilo dos integrantes das bandas realmente se assemelhava, com as clássicas camisas de flanela xadrez, jeans rasgado e cavanhaques de bode, mas com relação ao som cada uma das bandas possuía características marcantes.

A melodia e os grooves do Soundgarden
O Alice In Chains era talvez a banda que mais se aproximava do heavy metal, com riffs matadores do excelente guitarrista Jerry Cantrell que desenvolvia melodias complexas que se encaixavam feito luvas nos vocais pesados e dramáticos de Layne Staley; já  o Soundgarden também flertou com o peso do metal no começo, seguindo um caminho mais alternativo, beirando o pop no seu hit “Black Hole Sun”, revelando um dos melhores cantores da história do rock n’ roll: Chris Cornell; o Pearl Jam sempre foi uma banda de hard rock típica, porém longe da estética glam da década anterior, com dois guitarristas, muitos solos, refrãos marcantes e os vocais de Eddie Vedder que influenciariam toda a geração que viria a seguir; a banda que virou mito após a morte de seu vocalista, Kurt Cobain, o Nirvana teve suas raízes no rock underground americano, mas com a pitada certa de pop, que transformou o segundo disco dos caras, “Nevermind”, num sucesso mundial inesperado.

O peso e melancolia do Alice In Chains
É difícil identificar o que forma um movimento, mas algumas características comuns no som das bandas costuma se destacar, como por exemplo no punk a velocidade das melodias, poucos acordes e simplicidade; no metal, a virtuose, as melodias trabalhadas e a agressividade; no progressivo a complexidade, longas melodias e alta parafernalha. Enfim, com o grunge essa distinção parece ser mais difícil, sem diminuir de forma nenhuma o brilhantismo de todas as bandas consideradas do movimento.

Temo que com esse empacotamento das bandas no rótulo do grunge, elas percam o devido reconhecimento histórico que merecem, pois nenhuma das bandas citadas pode ser diminuída por um banner que nunca quiseram carregar. Essa geração é das mais brilhantes do rock e influenciou outra porrada de gente disposta a sair da mesmice e fazer barulho.

O mundo precisa reverenciar e muito as bandas de rock dos anos 90, independente de serem grunge ou não, pois tiraram o rock da inércia e papagaiada dos anos 80 e se tornaram relevantes, cada qual com sua própria identidade sonora.


David Oaski




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