Paulo André é zagueiro do Corinthians e vem sendo o principal
porta-voz do movimento Bom Senso Futebol Clube, que pra quem não sabe trata-se
de uma união que já abrange mais de 1.000 jogadores de futebol brasileiros que
atuam nas séries A, B, C e D, além de alguns jogadores que estão no exterior
atualmente e alguns técnicos.
O Bom Senso reivindica algumas melhorias no futebol brasileiro
e nas condições de trabalhos dos próprios jogadores, visando a melhoria da
qualidade do futebol apresentado em campo. As principais reivindicações são: 30
dias de férias por ano, período maior para pré temporada, máximo de 7 jogos no
mês, adoção do fair play financeiro e que atletas, treinadores e executivos dos
clubes façam parte do conselho técnico das competições e entidades .
O movimento vem fazendo reuniões constantemente com a CBF,
porém sem ter recebido muita atenção, os principais representantes do Bom
Senso: Alex (Coritiba), Paulo André (Corinthians), Juninho Pernambucano (Vasco)
e Rogério Ceni (São Paulo) já organizaram alguns protestos pacíficos antes de
jogos do Campeonato Brasileiro do ano passado, como no jogo entre Flamengo e
São Paulo, em que todos os jogadores ficaram batendo bola durante alguns
segundos após o apito inicial do árbitro. E em outros tantos jogos os jogadores
ficaram sentados no gramado antes do início do jogo.
Logo do movimento |
Numa coletiva no Centro de Treinamento do Corinthians nessa semana,
Paulo André voltou a ser questionado sobre o movimento Bom Senso e se os
jogadores trabalhavam com a hipótese de greve, a resposta de Paulo André foi
clara: “Caso a CBF continue com esse descaso, é mais do que possível”.
Não é de surpreender que a CBF não tenha muito interesse em
dialogar com os representantes do Bom Senso, afinal a instituição está a anos
engessada por meio de velhos corruptos que manipulam como querem o dinheiro
oriundo da seleção brasileira e das federações, em relações escabrosas com
dirigentes, patrocinadores e afins. O atual presidente José Maria Marin tem no
seu currículo nada menos do que ter apoiado a ditadura no Brasil e este veio em
substituição ao não menos podre Ricardo Teixeira. Vendo todo esse esgoto na
federação que toma conta do nosso futebol chega a ser difícil ter alguma
simpatia pela nossa seleção.
A parte todo a boa causa que move o Bom Senso e a podridão da
CBF, me chama a atenção o nível intelectual dos caras que estão encabeçando o
movimento, todos com nível extremamente acima da média do jogador de futebol
brasileiro, estereotipado (muitas vezes de forma merecida) como o malandro,
pagodeiro, com infância pobre e burro. Assistindo ao Bola da Vez, ótimo
programa de entrevistas da ESPN Brasil, com Alex e Paulo André (em programas
separados) é possível notar como esses caras sabem o que querem e se expressam
de forma fluída, conversando e debatendo de igual pra igual com qualquer
entrevistador.
Sinto muita falta desses jogadores mais cultos no futebol
brasileiro. No passado, quando olhamos, por exemplo, para seleção brasileira da
Copa do Mundo de 1982 vemos caras como Sócrates, Falcão, Zico e Junior, todos
inteligentes e sabiam se expressar, basta ver as entrevistas da época.
Os cabeças: Juninho, Seedorf, Dida e Paulo André |
Olhando para nova geração de jogadores brasileiros só vemos
moleques que ouvem sertanejo universitário e fazem dancinhas patéticas pra
comemorar gols. Quando dão entrevistas sempre estão rodeados dos “parças”,
jogando vídeo game ou ao lado de um pagodeiro falando alguma besteira.
Não quero soar preconceituoso, mas faz falta no mundo do
futebol esses caras que tem opinião e personalidade suficiente para sair do
lugar comum, responder as perguntas de forma firme e mostrar que tem algo a
dizer, pois vale lembrar que o jogador de futebol mesmo vivendo numa bolha
cercada de puxa sacos e ganhando milhões de dólares faz parte da mesma
sociedade que todos nós.
É óbvio que o futebol precisa do Neymar, do Ronaldinho
Gaúcho, do Cristiano Ronaldo, caras que além de serem jogadores sensacionais,
são carismáticos e vendem muito bem sua imagem, mas também considero
fundamental termos os “Paulo Andrés”, Alex, Xavi Hernandez e outros.
Que as novas gerações se inspirem na habilidade do Neymar e
no intelecto do Paulo André para daqui uns anos termos um futebol mais
consciente e organizado, pois com menos alienação os jogadores tem o poder de
gerar mudanças radicais na CBF, para que possamos pensar no futuro em termos um
campeonato entre os melhores do mundo.
David Oaski
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