Nota: 7,5
Vida é o título da biografia de Keith Richards, guitarrista e
membro fundador dos Rolling Stones, lançado no ano de 2010, quando o músico
tinha 67 anos e muitas lembranças, boas e ruins.
O livro é longo, possui pouco mais de 600 páginas, recheadas
de lembranças divertidas, densas e tenebrosas, o que era de se esperar de um
dos rockstars mais folclóricos de todos os tempos.
Em ordem cronológica, Richards relata desde sua infância no
proletariado inglês, passando por suas relações familiares, dificuldade em
aceitar as fórmulas de ensino e disciplina do colégio britânico, o início da
amizade com Mick Jagger e, claro, a formação e inúmeras histórias de bastidores
dos Rolling Stones e seus diversos problemas com drogas.
Keith velhinho |
Confesso que apesar de imprescindível, se tratando da
biografia do cara, a primeira parte do livro foi um tanto cansativa, em que
Keith fala de sua infância, relações familiares, etc. Devorei essas páginas,
buscando chegar logo nos anos de Rolling Stones.
Keith lembra com precisão, muitas vezes evocando passagens de
anotações de diários, histórias dos primeiros ensaios dos Rolling Stones, das
primeiras apresentações da banda em pequenos clubes ingleses nos anos 60. As
turnês para os Estados Unidos, sem nenhum glamour e passagens com os outros
integrantes da banda: Charlie Watts, Mick Jagger, Brian Jones e Bill Wyman.
Já nos primeiros singles, os Rolling Stones viraram uma mania
na Inglaterra, comandando cabeça a cabeça com os Beatles o movimento cultural
que ficaria conhecido como invasão britânica, que Keith destrincha muito bem,
enumerando os diversos representantes desse período, não só no mundo da música,
mas da moda, da literatura, da dramaturgia e das artes de modo geral, já que
ele, junto com a banda passou a fazer parte desse epicentro de talentos
surgidos na Inglaterra dos anos 60 que se espalharam pelo mundo.
Keith cheio de charme com a guitarra em punho |
No começo, devido à postura de bad boy da banda, eles
sofreram muita perseguição das autoridades, tanto em turnês, quanto nas suas
próprias casas, as batidas em busca de drogas eram comuns e quase sempre bem
sucedidas. Em todas as vezes, apesar de alguns processos, eles acabaram saindo
ilesos, com penas alternativas dos casos.
Já em meados dos anos 60, Keith se envolve com heroína, vício
que lhe consumiria por cerca de uma década, passando por diversas tentativas
frustrantes de desintoxicação. O consumo era diário, porém com uso “responsável”,
já que Keith ressalta que conhecia os seus limites e só usava veneno bom, como
ele chama a droga. Nessa época Keith vivia com Anitta, mãe de dois dos seus
filhos, que também era viciada.
Quando, enfim, conseguiu se livrar da heroína no final dos
anos 70, Keith passou a dar mais atenção ao business que envolvia os Stones,
que até então era comandado por Jagger, foi aí que Keith percebeu o quanto seu
amigo havia mudado. Ele ressalta em diversas vezes no decorrer do livro que
apesar de continuar amigo de Mick Jagger, durante os anos 60 ele era uma
pessoa, amigável e companheiro, porém após a década de 70 ele sucumbiu aos baba
ovos que o cercavam e passou a agir de uma forma megalomaníaca e controladora,
o que ia contra a personalidade centrada e voltada à música de Keith. Esse
choque gerou diversas confusões no decorrer dos anos seguintes.
Formação atual dos Stones |
Nos anos 80, Keith conheceu aquela que seria o amor de sua
vida, Patti e teve mais duas filhas. Essa década marcou o período de maior
atrito entre ele e Jagger, já que a banda permaneceu inativa 90% da década em
decorrência do investimento de Mick em sua carreira solo. Segundo Keith, Mick
Jagger fez um acordo por baixo dos panos com os managers das gravadoras,
atrelando lançamentos dos Stones com seus álbuns solos, o que deixou o restante
da banda putos com seu vocalistas, pois se sentiram traídos. Keith e Jagger
trocaram diversas farpas através da imprensa e Richards resolveu também lançar
seus projetos, ambos não tiveram muito êxito comercial, já que os fãs queriam
os Rolling Stones e não seus membros avulsos.
Após uma reconciliação no final dos anos 80, os Stones se
tornaram uma corporação multimilionária, com shows para milhares de pessoas em
arenas gigantes e turnês que estão até hoje entre as mais rentáveis da história
da música mundial. Os anos 90 seguiram tranquilos para Keith, mais voltado para
família, seus gatos e cachorros, com lançamentos e turnês espaçados dos Stones,
ele só teve sua paz abalada quando sofreu dois acidentes que ele bateu a cabeça
e correu risco de vida, mas superados com bom humor e confiança.
Considerações Finais
Conforme dito, a biografia é extensa e se torna cansativa em
alguns momentos, porém as histórias dos Stones são preciosas, como quando Keith
revela como ele compôs com Mick Jagger pela primeira vez presos na cozinha pelo
seu empresário, de onde saiu a linda “As Tears Go By”. Keith conta também
diversas aventuras em que teve que entrar na pancada para se safar de
confusões; lembra com detalhes o processo de composição de cada disco, o que é
muito interessante e faz você querer ouvir com atenção redobrada a discografia
da banda.
O mais importante a meu ver é que Keith Richards abre o baú
das suas memória e expões seus êxitos e todo brilho de um dos maiores
guitarristas da história, mas também mostra os perrengues e superações que ele
passou e que todos temos que passar.
Keith se mostra além de tudo, um apaixonado por música, um
cara intenso e de personalidade, um legítimo rockstar!
David Oaski
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