Talvez o último clássico indiscutível de todos os tempos no
rock seja o “Nevermind”, da banda norte americana Nirvana. E o curioso é que
ele foi produzido sem nenhuma pretensão de sequer fazer sucesso no mainstream.
Hoje, vinte e um anos após o lançamento do disco, é possível notar claramente
como era improvável que esse álbum se tornasse um clássico da proporção que
tomou.
O Nirvana foi formado em 1987, em Aberdeen, Estados Unidos,
pelo guitarrista, vocalista e compositor Kurt Cobain e pelo baixista Krist
Novoselic. O som da banda era baseado na música alternativa da época,
influenciado por bandas conhecidas somente no urderground americano, como
Melvins, Vaselines, entre outros.
Após muitas idas e vindas, trocas de nome, inúmeros
bateristas, a banda se estabiliza, ao menos temporariamente, com a formação que
gravaria o primeiro álbum da banda, “Bleach”, com Kurt na guitarra e vocais,
Krist no baixo, Jason Everman na guitarra (que foi creditado por ter bancado o álbum,
mas não tocou em nenhuma faixa) e Chad Channing na bateria, com Dale Crover
tendo tocado bateria em três faixas. Lançado em 1989, lançado pela gravadora
Sub Pop, que se destacava por dar espaço a bandas menos comerciais, e produzido
por Jack Endino, o disco foi bem recebido no mercado alternativo norte
americano, porém sequer passou perto das paradas comerciais, só alcançando
reconhecimento após os lançamento de sucesso da banda, atingindo hoje a marca
de álbum mais vendido do catálogo da gravadora.
Apesar de o disco ter sido produzido e gravado rapidamente
devido a escassez de recursos e possuir melodias fora do padrão radiofônico da
época, com muita distorção, já mostrava o talento do seu front man, Kurt, que
já apresentava seu potencial como guitarrista torto que era e compositor de
boas melodias e letras obscuras e sombrias. Ali já estavam ótimas canções, como
“About A Girl”, que viria a ser sucesso anos depois no Unplugged Mtv in New
York, a quase pop “Love Buzz”, a quase punk “Negative Creep” e a estranha “Downer”.
A banda saiu em turnê pelos Estados Unidos e Europa,
realizando apresentações de boa repercussão no cenário alternativo, mas nada
que lhes apontasse como uma possível sensação do mundo pop, como viria a
acontecer muito em breve.
Em 1990, aconteceriam dois fatos que fariam toda diferença no
destino da banda: como estavam insatisfeitos com as condições oferecidas pela
Sub Pop, resolveram tentar uma investida por uma grande gravadora, conseguindo
contrato com a Geffen Records, o que garantiria mais recursos para gravação de
um novo álbum e, consequentemente, maior exposição da banda. Além disso, a
banda finalmente encontrou o baterista ideal para sua formação, Dave Grohl, um
jovem músico recém saído de bandas menores, chegou e dominou as baquetas, sendo
o baterista mais talentoso e que permaneceu maior tempo na banda.
Assim, ainda no mesmo ano, eles começam a trabalhar no novo
disco, com composições novas e reutilização de músicas que já faziam parte do
repertório da banda, porém dessa vez com mais estrutura e recursos financeiros.
A banda lança então, em 1991, com produção de Butch Vig, “Nevermind” , que tinha
previsão de vender cerca de 250.000 cópias que era o que as bandas alternativas
como Sonic Youth vinham vendendo, porém por uma série de fatores inexplicáveis
aquela capa com o bebê submerso e uma nota de dólar chamou mais atenção do que
o esperado. Aliado, é claro, ao poder das canções, e da surpreendente excelente
veiculação do clipe de “Smells Like Teen Spirit”, o Nirvana alcançou status de
banda de maior sucesso no mundo no começo da década, desbancando gente do naipe
de Metallica, Guns N’ Roses, Iron Maiden e Michael Jackson, ou seja, não era um
momento de marasmo na música mundial.
O Nirvana rapidamente virou ícone cultural, lançando moda com
as camisas de flanela, cabelos compridos, dando o tom no estilo que viria a ser
denominado como grunge, rótulo que a banda sempre desprezou. Com o lançamento e
sucesso repentino de Nevermind, a banda puxou consigo toda a cena de Seattle
que já possuía algum respeito com o Soundgarden e Mudhoney, mas após o
lançamento tudo ficou mais intenso, sendo que todos queriam saber o que havia
na água da cidade de onde vinham tantas bandas boas. Gente como Pearl Jam,
Alice in Chains, além dos já citados, dificilmente teriam o reconhecimento que
tem hoje não fosse o estardalhaço que o disco com o bebê na capa causou.
Avaliando bem, toda surpresa com o sucesso internacional de “Nevermind”
era deixada de lado e entendida com uma simples audição do disco, pois as
músicas eram fantásticas, todas muito boas. Simples na essência, porém com um
feeling gigantesco imposto principalmente por Cobain. Na cola de “Smells Like
Teen Spirit”, a banda lançou outro clássico: “Come As You Are”, ambas com
aquelas introduções marcantes que anunciam hinos de uma geração. A banda ainda
trabalhou mais duas músicas, não menos incríveis: “Lithium”, música com melodia
e pegada na medida certa, sem soar apelativa; e “In Bloom”, essa seguindo a
mesma linha, uma melodia calcada na linha de baixo, que explodia num refrão
explosivo, sendo que para esta a banda lançou duas versões de videoclipe, numa
a banda toca comportada num programa de auditório antigo, com direito a imagem
em preto e branco, e noutra a banda quebra tudo, cenário, instrumentos e tudo
mais que aparecesse.
Além dessas, a banda conseguiu reunir no mesmo disco, o que a
maioria das bandas não consegue fazer em anos de carreira, doze músicas num
nível altíssimo, com uniformidade sonora, coerência nas composições e o fator
que considero mais importante, sem muita vaidade ou prepotência, o que garantiu
o som mais honesto possível. Músicas como “Breed”, “Drain You”, “Lounge Act”, “On
A Plain”, “Stay Away” ou “Territorial Pissings”, se fossem lançadas como
singles com certeza teriam o mesmo sucesso que as que foram lançadas. Ainda
havia a pop “Polly” e a soturna “Something In The Way”, que também são ótimas
canções.
“Nevermind” não foi concebido pra tomar a dimensão que tomou
e talvez por isso mesmo tenha tomado, a banda era talentosa, possuía um
repertório com ótimas canções e dominou o mundo, num daqueles acontecimentos
sem muita explicação que ocorrem de tempos em tempos no mundo da música. As
excentricidades, arrogâncias e prepotências dos artistas que cultuamos muitas
vezes são divertidas e alimentam de certa forma o mundo do entretenimento, mas
por outro lado, o ponto forte do Nirvana sempre foi esse, não querer parecer o
Elton John ou Axl Rose, simplesmente tocar suas canções e agradar quem se
identificar, sem se preocupar com pormenores fúteis ou em fazer amizades por
interesse. Ninguém esperava que o Nirvana tomasse a proporção que tomou e eles
tomaram, porém não fizeram questão nenhuma de se manter no topo, lançando um
trabalho ainda mais alternativo na sequencia, “In Utero”.
Esse disco é um daqueles que você ouve de cabo a rabo, faixas
avulsas, num momento da vida, em outro e em outro novamente, mas nunca o
abandona, esse é o efeito dos clássicos, eles nunca perdem força, ainda mais
nesse caso, tendo sido produzido de forma singela e honesta como foi.
Ah, as 250.000 cópias estimadas viraram 30 milhões até os
dias de hoje, superando um pouquinho as expectativas, não?
David Oaski
Legal o post .... vc gosta de NIRVANA ??????
ResponderExcluirbeijokas da YASMIM
Oi Yasmim, claro. Uma das bandas que mais gosto.
ResponderExcluirTens facebook?
Gostei muito do seu post, bgd por compartilhar. Estava só procurando a capa do nevermind por ser meu disco predileto. Musica boa supera qualquer expectativa.
ResponderExcluirObrigado Paloma!!! Um abraço!!!
Excluir